𝑅.𝐸.𝑀

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Sem que percebesse inicialmente, suas mãos deslizavam por cada relevo pela pele quente. O toque era macio, delicado e viciante, não tinha total controle sobre seu corpo, mas estava ciente de todos os detalhes, de todos os prazeres. Tocava os lábios, acariciava seus cabelos, sentia seu peito. Caminhava com os dedos ao cós de sua vestimenta, adentrava furtivo, num ato prazeroso e carnal. Mordia o lábio inferior conforme seu pênis era penetrado, logo também sentia ser invadido por dedos ágeis em seu interior. Doía, era terrível, não tinha nenhuma lubrificação, mas era prazeroso de uma maneira estúpida e indesejada. Podia até soltar algumas palavras que pareciam não fazer o menor sentido. Estava delirando e emaranhado demais, numa grande confusão em sua mente, para receber toda aquela informação em plena madrugada, quando os demônios estavam mais fortes que si.

Mas ele conseguia insistir em dizer para que aquilo parasse.

Ele respirava fundo, o quarto daquele hotel parecia pequeno, a correnteza fria e direta de ar que vinha pela janela, que uma vez fora esquecida aberta, arrepiava a pele que por hora estava quente e enrolada pelo grosso cobertor naquela noite de inverno. O som era de sexo, sua cama rangia conforme os movimentos, e sua voz, rouca e repleta de ar, trazia uma sinfonia insólita de se ouvir, o que tornava o desejo e aversão em pensamentos enriçados.

Parecia tão real e tão irreal de mesma intensidade.

Com isso, lembranças retornavam como num filme de terror, recordando os detalhes daquele lugar que tanto queria esquecer, mas que o perseguia por onde quer que fosse. Ele via aquele lugar escuro, que recebia iluminação antiga francesa do século XIX, assim como enxergava o exato cenário em que estava uma cama com lençóis brancos e manchados com sangue, além da enorme bagunça. O abajur jogado no chão, taças de champagne estraçalhadas, cortinas rasgadas e a arma derrubada no piso de mármore no toilette.

Era possível enxergar, era possível sentir, parecia verdade, ao mesmo tempo em que tudo era extremamente confuso, como num pesadelo o qual não tinha forças para acordar. Estava em completo transe, com visão duplicada, senão triplicado, tudo parecia girar e girar, sem que um ponto fixo estivesse parado em seu lugar.

Tinha aroma de uma transa, mas não uma qualquer. Lembrava do cheiro daquele perfume amadeirado com o odor que seus corpos esbanjaram, do sangue derramado e a fumaça hedionda de um cigarro tragado, depois exalado em seu rosto. Sentindo-se um mero brinquedo que satisfazia anseios sem pestanejar. Até mesmo conseguia ouvir uma voz gritar o seu nome e retornava em sua memória todas as recordações devido aquele assombroso timbre que penetrava profundamente em seu coração, da mesma forma em que penetrava seus dedos em seu corpo, sem o devido consentimento.

Era ele, inevitavelmente. Era aquele maldito demônio.

Os movimentos ficaram mais rápidos conforme o êxito do momento que vinha se aproximando. Já havia a lubrificação natural jorrando em sua mão que masturbava sem parar um segundo sequer. Enquanto seu interno estimulado se reprimia conforme a dor e o prazer se misturavam simultaneamente, criando desejo, excitação e a fome de algo insaciável, ainda que tentasse evitar.

"Olha o que você fez!"

Não tinha forças pra conseguir parar, estava possuído por algo maior que si. Por alguém que gravou em seu peito como uma tatuagem e enraizou-se em sua mente como uma semente de joio. Era sua perdição, seu carma, seu amor e seu ódio, agregados num único sentimento terrível e ominoso.

"Você realmente é um bastardo."

Parecia ser ele, mas com certeza não era. Não possuía rosto, não poderia enxergar ainda que tentasse. Como se mesmo o feixe de luz mais reluzente e não fosse capaz de escapar da densa e imensa escuridão que era aquele ser sem forma e vazio. Ele tinha voz, mas era tão baixa, tão inaudível, impossível seria escutar. No entanto, ele pedia por mais. Ele necessitava de mais, e sempre mais. Era possível sentir isso em seu toque, em seus atos.

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⏰ Última atualização: Mar 06, 2021 ⏰

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𝐏𝐎𝐒𝐈𝐓𝐈𝐎𝐍𝐒 - 𝐊𝐀𝐈𝐒𝐎𝐎Onde histórias criam vida. Descubra agora