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Quando você já tem mais de um século de existência se torna difícil não achar as coisas bem previsíveis. Assim como as tendências na moda voltam, acontece a mesma coisa com os ideais, os conflitos, as tensões mundiais. Elas voltam revestidas com uma aparência cool e um ciclo todo se renova, repetidamente. A humanidade, mesmo com suas válidas tentativas de inovação – um presidente que era literalmente um meme, sério, gente? -, ainda seguia não inédita.

Com a idade você também perde o vigor e a mesma precisão que tinha em seus anos dourados. Não que envelhecimento coubesse aqui, já que eu tinha sido congelado no tempo com a perfeição dos meus 22 anos, mas a cabeça não se atenta aos mesmos detalhes, como limpar todos os rastros de atividade anormal em assassinatos que um vampiro é capaz de deixar para trás. Eu só me preocupava em saber se a vítima da vez estava realmente morta, porque foi num descuido desses que eu mesmo havia me transformado no que sou hoje, e não sou muito a favor de fazer alguém passar pelo mesmo.

Foi bem desagradável se vocês querem saber. Eu era um desses trabalhadores do campo que teve o azar de esbarrar num cara fora de si bem longe de casa. Naquela época até darem conta que a viagem que eu fiz estava demorando mais do que o normal, foram semanas. O cara que largou meu copo na beira do rio esperava que uma eventual enchente acabasse de fazer o trabalho, mas aconteceu do meu corpo conseguir me manter vivo enquanto o veneno fazia efeito e a transformação se completava.

Foi bem complicado entender o que havia ocorrido comigo no início. Eu meio que fui me guiando por instinto, o inútil do cara nem pra ser meu mentor serviu, eu o encontrei uns 20 anos depois do ocorrido e me vinguei, mas eu juro que não sou tão rancoroso assim.

A vantagem de ser dos cafundós da Tailândia foi que a morte não era uma coisa tão rara assim, e a expectativa de vida dos humanos não passava de cinquenta anos, então era considerado normal várias pessoas morrerem de um dia pro outro. A culpa ficava para ataques dos animais também, que aconteciam bastante na área em que eu 'atuava'.

Eu vaguei um século exclusivamente pela Ásia, mas só esbarrei com outros vampiros numa cidadezinha do Japão, de uma forma bem clichê, num bar. Eles agiam mais naturalmente que eu, usando trajes característicos do local e da época, percebendo de cara que havia algo de errado comigo. Yesung, Donghae e Heechul me chamaram pra mesa em que ocupavam e me contaram mais sobre aquele universo escondido que a gente era obrigado a viver.

Não existia uma legislação como a dos países, era mais como um acordo mudo, todos sabiam que quem come quieto repete o prato.

Eles me apresentaram pros amigos deles e assim eu fui sendo finalmente incluído no rolê sobrenatural, adotando nomes, descobrindo cidades, aprendendo línguas, e revivendo a juventude com as mais diversas gerações de humanos. Eu tive até uns rolos com umas pessoas aí, porque eu era vampiro, não zumbi. E se eu ainda tivesse sangue correndo nas veias, eu juraria pra vocês que a primeira vez que eu ficaria vermelho teria sido quando conheci o Baekhyun no início dos anos 1980, na Europa. Ai, só quem viveu sabe...

Para deixar bem claro, ser uma criatura sobrenatural não me isentava dos pecados capitais, e eu sou o maior representante da preguiça. Todas aquelas regras para se manterem no anonimato era um saco, ainda mais quando quase todas foram adivinhadas em cheio por uma autora de romance água com açúcar que fez uma febre de adolescentes encherem o saco de qualquer criatura no início da década passada. – Sério, eu tive que me mudar de país quatro vezes por conta de umas fangirls da saga doidas pra viverem aquele romance na vida real, mas digamos que da fruta que elas eram adeptas, eu chupava literalmente até o caroço.

E só pra matar a curiosidade, nós não morremos ou brilhamos no sol. Só somos incrivelmente pálidos e gelados. Quanto à beleza, eu já nasci assim, não ocorreram grandes mudanças com a transformação não. Os nossos olhos indicam quando estamos com sede: azul tá de boa, amarelo neutro e vermelho era questão de emergência. Eu usava lentes quando tinha que sair em sociedade.

Bloody || SuperM - tenminOnde histórias criam vida. Descubra agora