I hate it all

97 2 0
                                    

Jean Elaine Preston, ou apenas Jean como gostava de ser chamada, era apenas uma estudante do ensino médio, de cabelos negros, até a altura dos ombros, olhos castanhos, estatura mediana, magra e já detestava aquela nova escola, aquela gente toda a encarando a todo instante, como se ela fosse algum tipo de inseto ou coisa diferente, ao menos era assim que ela pensava a cada olhar novo e curioso sob ela.
Caminhou a passos apressados, no meio de todos aqueles jovens despreocupados da nova escola, pelo pátio em direção ao prédio que indicava sua primeira aula daquele dia, era de química, ao menos, aquilo iria a distrair, Jean adorava fazer alguns cálculos e esse tipo de coisa, como ela mesma dizia, exatamente como seu pai, seu amado pai a ensinava, e que agora, não estava mais ali com ela.
Seu pai Johnnathan Preston, ou Johnny, como ela chamava carinhosamente desde os 5 anos, morreu de cancer em 1979, a três anos atrás, e isso foi um baque para ela, já que ela teve que ficar com a tia chata, mais conheci da como bruxa, Carrie, que, por uma infelicidade do destino, gostava muito dela. Jean não tinha irmãos, seu pai não falava muito dos filhão de seu antigo casamento e que ela não fazia ideia de quem eram, já que, segundo seu pai, sua ex esposa o havia proibido de vê-los. Sua mãe era uma drogada que cruzou o caminho de seu pai, ela se chamava Abigail, por causa das drogas, ela vendia tudo que podia e até a tentou vender, mas Jean sempre voltava e quando voltava era abusada, ela se lembra de tudo exatamente como aconteceu, seu pai quase foi preso na tentativa de matar o então namorado de sua mãe, ficou uns anos na cadeia, mas logo foi solto, quando a polícia soube do que aconteceu.
Jean sentia saudades do calor da Califórnia, da casa pequena com seu pai, mas por causa dos acontecimentos, ela teve que parar naquele inferno chamado Nova Iorque e fria, na maioria das vezes. Odeia a usar agasalhos quase que o tempo todo e aquilo a irritava. Irritava também como aqueles adolescente idiotas ficavam animados demais e tentavam contagiar.
Chegou em sua sala, e abriu a porta, a sala já estava quase cheia e alguns colegas riam quando a professora virou para ela com um olhar não muito amigável. "Ótimo, belo jeito de começar o dia" pensou Jean.
— É Jean Preston, nao é mesmo? Está atrasada, mas darei um desconto por ser novata. Seja bem vinda, Jean, eu sou Marlene McKinley, sua professora de química, sente se, por favor.— Marlene sorriu revelando seus dentes amarelados, deveria ser fumante, Jean supôs.
As carteiras eram unidas, então, ela teria o desprazer de se sentar perto de algum adolescente idiota e risonho, pra completar a sua "felicidade interior". Ela não prestou muito a atenção na pessoa ao seu lado, mas parecia uma garota, deveria ser, ela não fez questão de olhar para o lado para definir oque ou quem era.
Colocou os cadernos em cima da mesa, junto com os novos livros e abriu de forma desinteressada seu caderno, enquanto tentava demonstrar que prestava atenção no que a professora explicava, algo que ela já sabia, que seu pai a alguns meses antes de morrer, ainda fazia questão de explicar a ela.
Embora ela não estivesse interessada em seu parceiro, ele ou ela, parecia interessado nela, pois, pela sua visão periférica, podia sentir o olhar daquela pessoa desconhecia por ela sobre si, aquilo a incomodava. Jean odiava que olhassem para ela por muito tempo, pois ela não sabia onde enfiar a cara e se sentia super desconfortável com isso e a ideia de conversar olho no olho com alguém, sempre foi um pesadelo para ela, será que por causa do seu passado? Talvez.
Ela finalmente criou coragem para encarar a pessoa ao seu lado, era um rapaz, que parecia uma garota, então, ela não estava, de fato, errada. Tinha uma franja estranha cobrindo parte da testa, sua pele era pálida, levemente avermelhada nas maçãs do rosto, ele parecia um tipo de Adonis, talvez. Seus olhos eram verdes como a grama e tinham uma atenção estranha sob ela, ao retribuir o olhar, como também pareciam prender a garota. Ela afastou os pensamentos e virou-se em direção a professora. Irritada, ela como ela estava, o garoto ainda a encarava algumas vezes, oque a deixava ainda mais com raiva, Jean nunca desejou tanto sair de uma aula, de um lugar e ir para bem longe, principalmente da vista do garoto.
— Então, não esqueçam de estudar o material passado, semana que vem terá uma prova, e dessa vez, sem desculpas.— A professora disse. Melhorou mais ainda, uma prova da qual ela teria que fazer com menos de um dia naquele lugar.
Já eram 17h30 da tarde e o dia parecia que estava se arrastando, faltava menos de 20 minutos para finalmente ir embora daquele lugar, daquela escola chata e da vista daquele garoto/garota chato demais.
A aula de espanhol foi até a melhor de todas até agora, principalmente pelo fato do garoto não estar lá e porque a professora parecia se simpatizar com ela, seu nome era Marie e ela parecia muito nova para uma professora do ensino médio.
— Oi, me chamo Dave.— Sussurrou para Jean, um grandalhão magricela ao lado de Jean. Ele tinha cabelos ruivos e tinha um sorriso estranho, tinha cara de Californiano, ele tinha um leve bronze na pele pálida.
— Jean.— Ela disse e se virou para a frente para escutar a professora e anotar algumas coisas. Um silêncio se estendeu por segundos até o garoto cortar.
— Você não é daqui, né?
— Uh, não, você é?— Perguntou Jean, fazendo o garoto dar um riso sem graça.
— Sou da Califórnia, perto da Bay area, para ser mais específico.— Ele disse.— Você é da onde?
— Sou de São Francisco, legal nal ser a única californiana em Nova Iorque doida para voltar pra casa e sair desse frio nojento.— Jean disse e arregalou os olhos, fazendo Dave rir e controlar a gargalhada.
— Nem fala, só estou aqui por causa da minha mãe e porque segundo a lei, eu ainda sou menor de 18, não é?— Ele ironizou.
Jean e Dave ficaram conversando, de fato, Dave não era chato igual quase todo mundo daquela escola que Jean julgava. Ele gostava de Thrash metal, assim como ela, gostava de filmes de terror e ação, e não suportava aquele romance chiclete, assim como ela. Ele tocava guitarra e lia em seu tempo livre, assim como ela, oque deixou Dave surpreso, segundo ele, era quase raro ver uma mulher tocar instrumento de cordas.
— Joan Jett, Lita Ford, Doro Pesch são alguns exemplos de que mulheres podem ir além, se quiserem, sabia, Dave?— Jean franziu os olhos, encarando Dave enquanto reclamava, aquilo fez Dave gargalhar.
— Eu sei, relaxa, essas não são mulheres, acredite, são deusas.— Dave disse e aquilo fez Jean esboçar um sorriso enorme.
Eles saíram juntos do prédioz no meio do tumulto e algazarra de pessoas que saiam em direção a saída.
— Você não é um desses idiotas que provavelmente só está falando comigo pra me zoar depois, né?— Ela perguntou. Jean não era boa em fazer amizades, ela não tinha muitas amizades por causa de sua insegurança, no passado, brincavam e caçoavam dela, e ela tinha medo da mesma história se repetir.
— Eu não tenho muitos amigos, garotinha, e eu não sou esse tipo de cara, relaxa.— Ele sorriu e ela assentiu.
— Você é legal.
— Você também.
E se despediram no meio do abarrotado de pessoas, tomando rumos diferentes.
Jean parou encostada na frente de um carro estacionado ao lado de fora e acendeu seu inseparável cigarro. Deu uma longa tragada e ficou imaginando como seria o dia de amanhã. Gostou de conhecer Dave, não se sentia tão deslocada, como quando chegou ali e aquilo era reconfortante.
Um empurrão a fez cair de cara no chão e ela começou a reclamar. Ela não havia visto que tinha gente no carro e a pessoa quase levou o carro em cima dela, se ela não tivesse gritado.
— Você não tem olhos? Não me viu aqui, seu doente?— Extravasou, ótimo jeito de terminar o primeiro dia de aula, sendo quase atropelada, provavelmente, por algum adolescente mimado daquele inferno.
— Eu não vi você, desculpa.— disse uma voz calma, levemente preocupada. Ela levou seu olhar na direção da voz e ficou surpresa ao saber que era o cara da aula de química, ou a garota. Ele estendeu a mão, para ajudá-la a se levantar e ela recusou.
— Ah, pelo amor de Deus, você?— Ela disse.— Podia ter me matado, sabia?
— Eu não tenho olho nas costas e não estou acostumado com alguém encostado no meu carro e eu já pedi desculpas.— Ele falou, revirando os olhos.
— Tanto faz.— Ela pegou sua bolsa caída e logo caminhou para longe do garoto estranho, caminhando apressadamente.
A casa da tia não era longe da escola nova, então ela não tinha que caminhar tanto.
Ao chegar, abriu a porta, e encontrou abria ao telefone conversando animadamente com alguém. Ela desligou segundos depois de ver a garota.
— Oi meu amorzinho, se estiver com fome, tem comida no forno, fiz um prato pra você.— Ela sorriu. Sua tia não era tão gorda, tinha uns bons na cabeça e uma maquiagem estranha. A última coisa que Jean ia fazer, era comer a comida de sua tia, não saia tão comestível e o gosto, era horrível.
— Eu vou tomar um banho e estudar um pouco, obrigada tia.— Ela disse e subiu para o seu quarto. Trancou a porta e se jogou na cama.
De repente seus pensamentos foram levados para o dia de hoje, no garoto irritante, em Dave e em seu pai. Quanta saudade dele.

FLASHBACK ON

A pequena Jean e seu pai estavam sentados no sofá vendo algum filme de terror e comendo pipoca. Seu pai tinha um modo diferente. Amava andar de meia pela casa, oque deixava sua tia irritada, já que ela quem lavava, porque ele mal parava em casa por causa do trabalho na fábrica de adesivos, Jean fazia igual, de meia e shorts, largada no sofá com seu pai, vendo Frankenstein.
Já havia visto aquilo umas centenas de vezes antes, mas seu pai fazia aquilo se tornar cada vez uma primeira vez. Ele sempre comentava o filme e a forma no qual ele foi dirigido numa época sem muito recurso, como os atores se portavam e as cenas assustadoras e aquilo fazia ficar mais interessante.

FLASHBACK OFF

As lágrimas de felicidade e saudade escorriam pelo rosto da garota, principalmente pelo fato de que ele fora levado daquela vida num piscar de olhos. Ele já havia enfrentado o mesmo tipo de cancer a anos antes, mas dessa vez, foi de uma forma agressiva. O médico disse que ele não passaria de seis meses, é assim foi feito. Seis meses depois do diagnóstico, seu pai faleceu, devido a complicação da doença que já estava em fase terminal tão rapidamente quando voltou.
Não havia um dia que ela não sentisse falta do pai, se como ele a protegia, de como ele a ensinava e de como ele foi seu pai e sua mãe durante todos aqueles anos, desde que elle conseguiu a guarda dela na justiça.
Jean adormeceu daquela forma, deitada agarrada a almofada da cama, sonhando nos dias felizes com seu pai e depois com os acontecimentos do dia, principalmente com um par de olhos verdes que não paravam de encara-la.

is not for your ears...Onde histórias criam vida. Descubra agora