Capítulo 1

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Draco acordou aos poucos, o sol que penetrava pelas finas cortinas finalmente lhe tiraram de seu estupor. Ao descer as escadas, encontrou sua mãe o esperando, o olhar atento e esperançoso. Ele sabia muito bem o que Narcisa desejava saber, todavia não tinha a resposta que ela tão ansiosamente aguardava. A passos largos, encontrou-a aos pés da grande escada, sussurrando lentamente. "Sinto muito".

Com o olhar guardado, observou a reação de sua amada mãe. Odiava a si mesmo por desapontá-la de tal forma, vendo seus claros olhos endurecer ao absorver o sentido de suas palavras. "Não entendo Draco, juro que não o entendo. Já deveria estar ostentando a marca de sua alma gêmea, já conta com 17 anos!".

Draco não conseguia ouvi-la naquele momento, não suportava a insatisfação em sua voz. "Não sei o que pretende que eu diga, mãe. Não é minha culpa que a marca ainda não apareceu." As mãos tremiam, sua frustação fazendo-se aparente. "Juro que não tenho nada a ver isso, prometo. Talvez, não seja feito para ser amado..." disse aos poucos, a voz esvaindo-se.

Narcisa, diante o olhar distante de seu filho, nada pode fazer a não ser abraçar-lhe carinhosamente. "Não diga besteiras, meu bem. Até eu e seu pai fomos capazes de nos encontrar, mesmo com nossas almas corrompidas. Com toda certeza há alguém procurando-o, apenas não chegara o momento certo. Confie no destino, pois ele nunca o desapontará".

Sentindo-se reconfortado, Draco retribuiu o abraço afetuosamente, antes de partir para escola. Encontrava-se no último ano, e mesmo que não estivesse com animo para enfrentar mais um ano escolar, obrigou-se a cumprir o desejo de ambos seus pais. Completaria sua educação, como uma última prova de lealdade. Odiara o caminho percorrido para chegar ao solo acadêmico, mas nada poderia fazer, a não ser fitar a janela sem curiosidade, observando as árvores passando na frente de seus olhos, como fantasmas, rápidos demais para que qualquer forma pudesse ser clara.

O trem era a única forma de se chegar no colégio, entranhado nas florestas escocesas. Amava a paisagem, mas a companhia não lhe era tão agradável. Buscava arrancar as últimas horas de sua memória, mas nada apagava as palavras ditas, os sussurros que penetravam-lhe a mente. Todavia, antes que precisasse se recompor, ouviu ao fundo a voz que há tanto odiara. Há muito acreditou ser o dono daquele som a fonte de toda sua desfortuna.

Como se soubesse que sua mente estava focado nele, Harry virou-se lentamente, fitando-o. Permaneceram daquele modo por horas, incertos de como proceder. Draco ainda não gostava do escolhido, mas era impossível negar que o jovem lhe havia poupado a vida, em mais de uma ocasião.

"Em algum momento deverá aceitar o quanto ele é importante, sabe disso." Nott sussurrou ao seu lado, repetindo o que lhe dizia a própria consciência. "Ele salvou sua vida Draco, lembre-se disso. Por mais orgulhoso e arrogante que possa ser, e o sei que é, não pode negar a importância que Harry Potter teve ao salvar sua reputação, alegando que sua família o ajudou contra você-sabe-quem."

Draco não poderia, nem iria, negar o que seu amigo dissera. Tinha total conhecimento do papel de Potter para manter não apenas seu status, como sua própria vida. Mas iria tratar sobre esse assunto em um outro momento, não em um trem repleto de alunos. Acenou a cabeça vagarosamente para seu antigo arquinimigo, em um sinal de paz. Não nutria nenhum sentimento por Potter, mas não pretendia continuar com qualquer inimizade que poderia haver entre ambos. Chegara a hora de selar a paz, e seguir seu caminho.

A visão de mundo de Draco havia mudado radicalmente no mundo pós-guerra, e sentia que Harry sabia de tal. Ele apenas acenou de volta, o olhar grave, todavia compreensivo. Um novo mundo se erguera, e ele não estava certo de qual lado se encontrava. Não participava do lado que perdera, uma vez que abominava o insano você-sabe-quem, mas também havia virado as costas aos seus colegas, bem como teve ações pouco significativas no grande projeto que as coisas seguiram.

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