Ron entrou na cabine com Hermione em seus braços, o desespero visível em seu olhar. "Harry, é impossível, nunca vai acreditar no que aconteceu..." as palavras morreram em seus lábios ao ver quem se encontrava deitado nas poltronas a sua frete. "Malfoy. Então..." incrédulo, mal pôde terminar sua frase.
Harry apenas acenou com a cabeça, levantou-se para que pudessem deitar Hermione no outro banco. Com um simples encanto, vedaram o vidro que dava acesso à cabine. Não precisavam de mais comentários envolvendo seus nomes, já estava farto de tantas fofocas. "E agora, o que faremos?" Ron gaguejou, as mãos em seu cabelos, enquanto permaneciam em pé. Sentia-se perdido.
"Você viu o mesmo que eu, Ron. Não há o que fazer. Sabe muito bem como funciona almas gêmeas, não é algo que podemos escolher ou controlar. N0ão há o que ser feito, depende de ambos decidir o caminho a ser traçado." Harry apenas suspirou, com pena dos dois corpos que encontravam estendidos a sua frente. "Mas seria melhor que ninguém soubesse, ao menos por enquanto."
Ron apenas concordou, sem saber o que falar. Naquele momento, não cabiam palavras. Pensamentos nebulosos lhe perturbavam a mente. Como isso pode ter acontecido? era a única coisa em sua mente, e nada fazia sentido. Aguardaram que os dois jovens despertassem, sem saber qual seria a reação. Diante tamanha insegurança, Harry colocou um feitiço contra som, como forma de prevenção. Mesmo que Harry conseguisse perdoar, e até mesmo entender Draco, de certa forma, ele sabia que Hermione não compartilhava de seus nobres sentimentos.
Ela não o odiava como Ron, mas os anos de abuso verbal ainda estavam frescos em sua memória. Afinal, ele passara todo este tempo a atormentando por não ter o "sangue puro". Não imaginava o que poderia acontecer. Sabia que Draco havia mudado, mas ainda não entendia o quanto. Ele se arrepender de seus atos não era equivalente a recusar anos de preconceitos instituídos em seu aprendizado.
Passou a mãos aos cabelos constantemente, como se, dessa forma, alguma ideia lhe viesse a mente. Nada veio, eles não podiam fazer nada a não ser aguardar. "O destino. Nada mais interessante do que o destino, não acha?" ele comentou, o olhar fixo em ambas as figuras nas poltronas, cada um em uma, os braços expondo os nomes do outro. Hermione exibia sua pálida pele com DRACO, no local onde antes se encontrava a terrível cicatriz, escrita pela tia daquele que agora lhe cravara o nome na pele.
"Não sei como consegue manter a calma nesse momento. Sinto que irei vomitar." Ele levou a mão à boca, temendo que o nervosismo levasse a melhor. Harry reconfortou seu amigo, ao mesmo tempo que permanecia com os olhos vidrados nos dois jovens. Draco, no lugar onde antes estivera a marca, naquele momento não havia nada mais do que o nome de Hermione, escrito como uma cicatriz, ainda sangrando um pouco.
Harry, em seu próprio braço, ostentava o nome de Ginny Wesley. Todavia a amava, e todos sabiam de tal fato. Já estava sendo discutido a data do casamento, então era apenas natural que seu nome estivesse cravado em seu braço, assim como o dele, nela. Não havia nenhuma surpresa em tal fato. Hermione e Draco, todavia, era um caso completamente diferente. "Como isso pode acontecer?" ele repetiu a si mesmo, ainda perplexo com tal revelação.
Aos poucos, Hermione começou a se mexer, enquanto Draco permanecia imóvel. Sua consciência retornava, retirando-a de seu estupor. "O que esta acontecendo..." sussurrou, a voz áspera. Olhou ao redor, aliviada ao perceber que se encontrava com seus amigos, segura na cabine. Todavia tudo mudou quando percebeu o jovem loiro ao seu lado. "O que..."
"Hermione! Hermione, está tudo bem, não se levante tão rápido" Ron ajoelhou-se ao seu lado, ajudando a se reerguer. "Ficou desacordada por alguns minutos, não se desgaste mais." A jovem, ao perceber o tom de desespero na voz de seu antigo amante, voltou-se a Harry para alguma forma de explicação.
"Como está, 'Mione?" ele não estava desesperado como Ron, apenas a observava atentamente. "Nos deu um susto, desmaiando no corredor."
"Estou bem..." ela apenas olhou Draco, imóvel, depois voltou à Harry. "Alguém vai me explicar o que está acontecendo?" de forma impensada, a jovem ruiva levou os dedos ao seu braço, coçando-o em um movimento involuntário. Ao perceber seus amigos enrijecerem ao seu lado, entendeu que algo não estava certo.
Ao passar novamente os dedos por seu braço, percebeu uma protuberância que antes não existia. Arregalou os olhos. Não... seu coração disparou, tornando difícil sua respiração. Desejava rir, o nervosismo consumindo-a. não, impossível. Harry, entendendo a relutância de sua amiga, abaixou-se até estar no mesmo nível dela. Sem tirar os olhos dela dos seus, ele segurou gentilmente seu braço, subiu as mangas ate o cotovelo, e o trouxe até sua frente. Hermione viu-se obrigada a focar na cicatriz que agora adornava grande parte de seu antebraço.
Nele, estava encravado o nome do jovem ao seu lado. Levantou-se depressa, o terror a consumindo. Não conseguia pensar de forma clara, era como se estivesse dentro de um pesadelo. "Não, não, não, impossível. Não pode ser Harry, não o pode!" ela se recusava a acreditar no que aquilo representava, no significado de trazer consigo o nome de Draco em sua pele, certamente era uma brincadeira maldosa de seus amigos. "NÃO!"
Harry tentou abraça-la, a confortando. "Acalme-se, Hermione. Mas não creio que possa escapar desta. Ele traz o mesmo nome que você, desmaiaram no mesmo instante, também. Quando Ron a trouxe, havia acabado de coloca-lo no sofá."
Ao ouvir um som ao seu lado, Hermione permaneceu imóvel. Respirar se tornava uma tarefa impossível, já que ela temia acordá-lo. "Não sei se posso lidar com isso nesse momento". Ela sussurrou, nervosa. Com a respiração entrecortada, elevou o olhar à Harry, buscando conselhos.
"Não sei o que te dizer, Hermione. Mas vocês terão que resolver esse empasse."
"EMPASSE?" Ron gritou, assustando-na "Como pode chamar uma tragédia dessas de empasse, Harry? Precisamos fazer algo, e depressa! Imagine o que ele não poderá fazer com 'Mione agora que são..." a frustação o impediu de continuar a frase. "Não, temos que agir!"
Hermione se sentia pior a cada segundo que Ron abria a boca, deixando-a ainda mais agitada. Sussurrou para Harry, pedindo que tirasse Ron da cabine e procurassem outro lugar, enquanto ainda não chegavam ao seu destino final. Gostaria de conversar um pouco com Draco, e para isso precisava se acalmar antes. Não conseguiria faze-lo com Ron tão nervoso.
"Ele não me deixa pensar, Harry. Leve-o daqui, imploro, ou ficarei louca." Ela disse, segurando afetuosamente seu ombro enquanto Ron permanecia gritando palavras sem sentido. Harry estava contrariado, mas faria o que lhe fora pedindo, sem antes pedir para que ela tomasse cuidado. O dobro do cuidado que geralmente tomava.
Ela não temia que Malfoy a machucasse, não agora que ostentava seu nome na pele. Não, ele não machucaria sua alma gêmea. A usaria, talvez. A machucaria de outros meios, que não físicos, mas no momento estava relativamente segura. O mais segura que poderia se encontrar, estando com um Comensal da Morte reformado bem à sua frente. Sem nada a não ser o som dos trilhos e de sua própria mente funcionando, Hermione se permitiu refletir sobre seus próximos passos.
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Lago Negro
Romance- Não pode ser... - mas o era. No braço de seu antigo inimigo, oito letras saltavam-lhe os olhos, indicando sua alma gêmea. - Hermione. - Sussurrou, sem acreditar que aquilo era real. Draco, ainda assolado pela dor, não havia reparado Potter ao seu...