Estrelas

43 4 4
                                    


Joohyun olhava o céu azul fixamente. As nuvens brancas tinham formatos abstratos e cada uma era diferente.

A garota sorriu, acreditava que todas as pessoas eram nuvens, por mais que fizessem esforços para se manter na linha e seguir certos princípios em comum com outros, nada mudava o fato de cada pessoa ser uma pessoa; pessoas diferentes.

Mas também havia aquelas que nasciam com um buraco, porém isso não fazia delas menos especiais ou menos únicas, na verdade, só acrescentava mais. Seulgi era uma pessoa com um buraco, localizado em seu coração. Faz três anos desde que Seulgi se descobriu homossexual, ela era lésbica e nunca se negaria a viver por conta disso, porém, seus pais se negavam a ter uma filha lésbica. Então, por ser financeiramente dependente deles, ela era arrancada de escola em escola toda vez que se apaixonava por uma menina ou simplesmente sentia desejo por uma — quando cometia o tal do pecado ela era arrancada de sua escola e ainda era punida fisicamente.

Saudade era algo que apertava o coração, - Joohyun sabia bem disso - queria poder se desvencilhar de tal sentimento, mas toda vez que fechava os olhos, a imagem dos lábios das duas se tocando acendia em sua mente, como uma lâmpada com mau contato.

De sua janela a garota ainda fitava o céu até ele tomar uma coloração em uma mescla de vermelho, amarelo e roxo. Ela já podia ver algumas estrelas surgindo e o sol sumindo no horizonte. Aquela era uma das vistas que ela mais apreciava, a natureza em si, a fazia sentir viva.

A garota amava o pôr do sol, porque o que vinha após ele a fazia se sentir ansiosa e tensa, pois a tal da saudade finalmente ia embora.

Com a cabeça deitada sobre os braços no parapeito da janela, Joohyun viu Seulgi vindo andando lentamente pelo gramado para não ser vista. Ela estava com o cabelo castanho escuro - quase preto - solto, os fios lisos eram escorridos e moldavam o rosto levemente arredondado. Suas roupas eram compostas por uma camisa larga e um short jeans pretos, seus pés estavam descalços e ela levava o tênis pendurado nos ombros, ambos amarrados pelos cadarços, e a garota também carregava em suas costas uma mochila preta. A visão fez Irene dar risada, o estilo da garota contrastava tanto com o seu. Joohyun usava um vestido bustier florido que ia até os joelhos, com seu cabelo preso em uma trança decorada por pequenas presilhas de borboleta, que ela adorava.

Quando a mais nova chegou perto da janela ela assobiou, então a moradora da casa arremessou pela janela a corda feita de fronhas, com nós bem dados e um tanto resistentes (pelo menos era o que pensavam). Durante quase todos os dias de semana, Seulgi fugia escondida de casa e ia para ali ficar com Joohyun, a garota que ela amava.

A mais velha então amarrou a corda improvisada no pé do guarda-roupa e assobiou de volta para avisar Seulgi que já podia subir. Então a mais nova pôs força nos braços e subiu agarrada a corda até o quarto, onde seu amor a esperava.

— Eu acho isso tão Shakespeariano. Você parece uma versão mais delicada e bela de um Romeu e eu uma Julieta que sempre fica à sua espera. — Joohyun soltou enquanto ajudava a outra a atravessar a janela.

— Talvez você seja um pouco sonhadora, amor. — Seulgi soltou divertida. Mal sabia o quanto o apelido já bem conhecido fazia a outra sentir o coração palpitar, como em todas as vezes.

— Eu estava com saudade de assistir o pôr do sol novamente. — a garota de roupa florida comentou passando a mão pelo rosto da outra.

— Eu sou seu pôr do sol...— Seulgi começou.

— E eu sou sua noite estrelada. — Joohyun completou.

Era assim que simbolizavam seu amor, como um mantra. Joohyun esperava o pôr do sol para ver Seulgi e ela via o dia passar esperando pela noite estrelada, onde poderia estar durante algumas poucas horas com o que ela considerava uma parte de si, seu amor, sua outra metade, sua amada Joohyun.

StarsOnde histórias criam vida. Descubra agora