Reparação e incerteza

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A cafeteria Mary Mary era um dos lugares favoritos de Diana em Washington. Assim que você passava pelas portas da cafeteria, mergulhava em uma máquina do tempo e caía diretamente nos anos vinte. A decoração minimalista, a música ambiente e até mesmo o uniforme padrão dos funcionários eram pensados para levar o público a crer que estavam em outra época.

Diana, que viu a transformação entre as décadas ao vivo, sentia-se como uma daquelas peças de decoração, observando as mudanças do tempo ao seu redor.

Ela chegou à cafeteria, vestindo um sobretudo preto, estava chovendo e o clima outonal chegara mais cedo à capital do país. Os cabelos, como sempre, soltos e naturais, moldando seu rosto. Ela usava calça jeans azul marinho e, embaixo do sobretudo, uma blusa de cashmere vermelho.

Assim que entrou, Diana vasculhou o lugar para ver se a sua companhia naquele final de tarde já havia chegado. E ela o encontrou na última mesa, ao lado da janela.

Diana caminhou até a mesa, tirando o casaco pois estava um clima mais agradável e quente lá dentro.

— Estou atrasada? Sinto muito. — Ela falou logo que sentou no banco acolchoado. Não usava relógio de pulso e também não carregava celular. Do outro lado da mesa, Steve Trevor organizava os objetos em cima da mesa, para liberar mais espaço.

— De maneira alguma, eu que cheguei mais cedo. Pedi café e uma torta para ir comendo enquanto isso. Não tive tempo para almoçar. — Ele falou, terminando de arrumar tudo e limpando a gravata manchada com geleia de blueberry. — Você aceita um pedaço?

— Sim, eu vou querer. Também não tive tempo para almoçar.

Steve chamou alguém para anotar o pedido e, logo que ficaram sozinhos, ele começou a falar, parecendo atrapalhado com as palavras, mas logo conseguiu dizer o que queria.

— Fiquei surpreso quando me ligou. Você raramente usa um telefone.

— É, mas achei que era por um bom motivo. — Diana ouvia uma canção familiar tocar, algo que a remetia para uma época que Trevor com certeza não conhecia. — Queria falar com você, mas pessoalmente. Também não queria incomodá-lo, então decidi marcar um encontro aqui.

— Você ainda costuma vir aqui? — Ele perguntou, e sua expressão deixou revelar que ele parecia sentir um pouco de saudade. — Lembro quando eu a trouxe aqui pela primeira vez e você ficou entusiasmada, como se tivesse voltado no tempo.

— Ainda me sinto assim todas as vezes que venho aqui. — A amazona revelou, esperando ser servida com um pedaço de torta e café. Ela experimentou, aprovando o gosto, era sempre muito bom.

Trevor ainda fez alguns comentários sobre os encontros passados naquela cafeteria, após a guerra, quando retornaram ao Estados Unidos. Diana possuía as mesmas lembranças, embora os relatos dele fossem tão pessoais que destacava em seus olhos um brilho casual da época.

— Desculpe, eu estou aqui divagando sobre o passado. Não deve ter sido para isso que você me chamou. — O Major ergueu a mão, segurando um guardanapo para limpar a boca.

— Eu o chamei exatamente para isso. — Diana falou, notando a surpresa de Trevor. — Queria conversar sobre nós. O que aconteceu até chegar onde estamos. Acho que não demos esse momento de refletir juntos. Foi tudo muito abrupto.

Ele sorriu, só que um riso sem emoção.

— Uma noite eu cheguei em casa e você não estava mais lá. Disse que era melhor ficar na Torre de Vigilância, pois a Liga precisava de você. — A voz de Steve era fraca, como se as lembranças o tivesse pego desprevenido de sua posição sempre séria. Ele olhava para a xícara de café, com os olhos perdidos. — Achei que você precisava de um tempo para conciliar tantas missões. Só que, com o passar dos meses, eu entendi que o problema era eu.

Os sentimentos da Princesa GuerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora