O sol não estava tão brilhante e, ao abrir as cortinas da pequena janela no quarto estreito, a luz pareceu se recusar a entrar. Não estava frio nem tampouco chovia, mas o céu nublado a colocou imediatamente em um estado de torpor e desânimo que anunciavam: nada mudará.
A rotina seguiu. O rosto lavado na pia, os dentes escovados com lentidão. Sem café ou pão, o estômago doía. O tilintar da chave, o som da porta trancada. Fones de ouvido e uma pequena caminhada até o ponto de ônibus ao som de qualquer música melancólica dos anos 2000. Depois o metrô, onde as pessoas pareciam tão apagadas e monótonas que, por alguns instantes, ela pensou estar vendo o mundo em preto e branco. Tirou os óculos, limpou os olhos, voltou a olhar. Nada. Talvez fosse só a palidez de uma segunda-feira em São Paulo.
O dia se seguiu assim, pouca ação, nenhuma alegria. Não estava triste, no entanto. Não era sobre tristeza, agonia, sofrimento... Era sobre aquele imenso nada, aquela sensação de que o mundo não girava, de que as pessoas estavam congeladas, de que não havia tristeza apenas por não haver felicidade. Parecia o fim, mas ela sabia que acordaria no dia seguinte e voltaria a viver aquela mesma realidade.
"Há quanto tempo estou presa neste dia?" – pensou ela.
O calendário marcava um dia qualquer de abril. Ela se lembrava do ano novo, do carnaval, do aniversário de sua mãe em março. O tempo estava passando, afinal, mas não fazia diferença. Sentada em sua mesa no escritório ela lia os mesmos e-mails, respondia as mesmas palavras que há anos reproduzia automaticamente. No almoço o assunto era o crescente desemprego que assustava a todos, que ameaçava a estabilidade que aquele mundo parado oferecia. O desemprego a assustava também, mas o que eles chamavam de estabilidade não parecia certo. Não havia sentido em nada, não existia um significado ou uma razão. Quando foi que o tempo, mesmo andando tão depressa, parou?
A chuva começou a cair no final do dia quando, finalmente, ela pôde voltar para casa. As pessoas passavam apressadas com a bolsa sobre a cabeça na tentativa de não se molharem. Nas calçadas, tentando se abrigar do frio e da chuva, as pessoas que não tinham para onde ir ou voltar. Invisíveis, ignoradas. O caos de uma cidade que nunca dormia, mas não parecia de forma alguma acordada. Ela andou depressa, entrou no metrô e, mais tarde, no ônibus. Desceu em frente à padaria e comprou uma coisa qualquer para comer no jantar – não queria cozinhar. Não queria fazer nada. No caminho até em casa tentou se lembrar da última vez que quis de verdade alguma coisa. Em vão.
A porta aberta, o coração calmo. O barulho familiar da chave ao trancar novamente a porta. Olhando em volta no centro de seu pequeno apartamento ela não conseguia se lembrar de escolher nenhum daqueles móveis. Não havia fotografias nem quadros divertidos. Não havia lembranças marcantes o suficiente para decorarem suas paredes. Uma moldura solitária jazia sobre a estante: seu diploma, um papel azul e branco que a lembrava de que ela havia conquistado o ensino superior. "A primeira na família!" – ouviu a voz de sua mãe dizer. "E o que isso significa?" perguntou, em voz alta. Não havia quem responder.
Ingrata. Tem uma vida boa, confortável. Um apartamento longe da periferia onde cresceu. Um emprego que paga bem, comida na geladeira. Os finais de semana livres, as horas extras pagas. Uma vida boa, não há de que reclamar!
Não há do que se orgulhar.
Não há o que comemorar.
Não há alegria para além da monotonia.
Não há ninguém, nada, importante o suficiente para interromper o silêncio de um apartamento sem história. De uma vida sem propósito.
A sobrevivência pareceu, de repente, dolorida demais. Até ali tudo fora esforço, mas para quê? E por que ela se sentia tão culpada por questionar-se? Havia, realmente, apenas aquele mundo sem cor e sentido? Não. Ela sabia que não. Mas, ao olhar-se no espelho, ela se via como parte daquele mundo. Seus móveis sem graça combinavam com seu corte de cabelo reto e cumprido, com suas calças jeans desbotadas, com os olhos sem vida. Na multidão de pessoas que São Paulo abrigava ou escolhia ignorar, ela se camuflava. Ninguém a via porque ela se fazia pertencer a uma realidade que invisibiliza sentimentos e traz à luz apenas a obrigação. O tédio. O medo.
Deitada na cama já há algum tempo ela continuava a travar em sua mente uma discussão consigo mesma, lutando para abafar sua insatisfação.
"Existem pessoas que sofrem muito mais do que você!"
"E por isso eu devo desistir de melhorar? Devo sentar-me e assistir, a mim e a elas, sucumbir em uma realidade imutável?"
"Você não pode fazer nada sobre elas! Sobre você, não há o que fazer."
"Então para que eu vivo? Se isso é tudo o que tenho e não sou feliz, para que continuar?"Silêncio.
Ao abrir as cortinas na manhã seguinte, o sol banhou o quarto de forma quase graciosa. Chovera durante a noite, portanto o céu estava sem nuvens. Lavou o rosto, escovou os dentes. O estômago doía menos, tomou café com um pouco de leite. O barulho das chaves. Não destrancou a porta. Em poucos passos sentou-se no sofá de dois lugares que mal fora usado desde que se mudou para lá. Encarou seu diploma na estante, fechou os olhos e chorou. Muito. Como se não houvesse o mundo lá fora, como se houvesse alguma coisa ali dentro. Chorou desesperada sem saber o porquê, sem questionar-se. Não era tristeza, não era agonia ou sofrimento – não era nada. E, pela primeira vez, ela entendeu que aquele vazio imenso também podia fazer doer.
A queda no vazio de um coração sem rumo é solitária e escura, mas não é infinita. Uma vida sem propósito infringe tanta dor que sucumbir é inevitável, mas a dor pode ser o primeiro passo para ações que definem o destino. Foi assim para ela.
A noite caiu. O telefone tocou durante todo o dia, mas ela sabia que deveria ser o seu chefe ou algum colega de trabalho. Não havia ninguém mais no mundo que sentiria falta dela ao longo de um dia como aquele, e esse pensamento a motivou ainda mais. Não poderia continuar daquele jeito, não era justo colocar em suas costas o peso de honrar uma realidade que a machucava. Ser grata, afinal, não era se conformar com a dor ou a monotonia.
"Sou grata, mas também quero ser feliz."
No dia seguinte voltou ao trabalho com sua carta de demissão em mãos. Poucos dias depois contou sua decisão à sua mãe que, com sua característica preocupação, questionou:
"E agora, minha filha?"
"Não sei, mãe." respondeu, completando em seguida: "Mas vou descobrir."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Monotonia
Short StoryNo vazio de sua existência, ela decide buscar um sentido para viver. Um conto sobre rotina, autoconhecimento e libertação.