- Você vai se atrasar. - fala minha mãe, brava.
Eu não conseguia pensar, não conseguia me mover, só consigo lembrar daquele sonho. Eu não queria ir pra escola, eu queria dormir, queria salvar aquela garota.
Me arrumo, pego minha bicicleta e vou pra escola. O tempo passava mais devagar do que de costume. A aula acaba e vou o mais rápido pra casa. Por sorte não tem ninguém, então tomo um comprimido e vou pra cama dormir.
...
Acordo e estou no mesmo campo de girassóis, é um dia triste, melancólico e chuvoso, mesmo sendo duas horas da tarde o céu está escuro, cinza, frio. Vou correndo em direção daquela casa, bato na porta e a menina mais linda que eu já vi a abre. Pálida, muito pálida, cabelos pretos ondulados e olhos cinzas como o céu esse dia, porém com alguns roxos pelo seu corpo.
- Quem é você? - ela pergunta, com os olhos arregalados e sempre olhando pra trás.
- O que aconteceu com o seu rosto? - pergunto, mais preocupado ainda e tocando em seu rosto.
Ela se afasta fazendo um movimento brusco, assustada.
- Você não devia estar aqui... vá embora por favor.
Logo após isso ouço um grito de seu pai, não consegui entender o que ele falou. Ignorei totalmente tudo que estava acontecendo, ignorei o fato de eu ainda não ter conhecido a garota direito e a puxei pra fora de casa. Enquanto fugíamos pra estrada, conseguia ouvir Luke, seu pai, quebrando coisas na casa.
Depois de alguns minutos correndo conseguimos chegar na cidade. Ela solta a minha mão e me olha com cara de brava.
- Por que tá me olhando assim? - pergunto, confuso. - Eu acabei de salvar a sua vida.
- Eu não pedi pra ser salva.
Ficamos nos encarando por alguns segundos.
- Então, Maia...
- Como sabe o meu nome?
- Isso não é importante agora... Por que você mora com ele?
- Eu não tenho escolha, é o único jeito dele não machucar outras pessoas.
- Mas ele te machuca, não é justo, você sabe que pode denunciá-lo né? Se ir na delegacia agora mesmo pode mostrar seus machucados, vão prender ele na hora.
- Eu não sei se os policias vão dar conta... ele é agressivo demais...
Nesse momento eu perco total a cabeça, criminosos precisam ficar atrás das grades. A pego no colo e vou correndo até a delegacia, chegando lá os policiais ficam espantados. Falo tudo o que tinha acontecido, logo depois Maia entra na sala de interrogatório, contando tudo o que ele já havia feito com ela.
São duas da manhã, continua chovendo e ainda estamos na delegacia. Depois de alguns longos minutos, Luke aparece, batendo forte na porta da delegacia, fazendo com que Maia me abrace forte e os policiais apontem as armas. Nisso, minha mãe me acorda pra jantar, fazendo com que eu acorde.
...
- Estou impressionada... Você nunca nem dormiu de tarde. Este remédio foi um milagre! - diz a minha mãe enquanto coloca o macarrão na mesa.
- Realmente... foi um milagre... - digo concordando enquanto lembro de Maia.
Janto o mais rápido possível e vou correndo pro quarto. Chegando lá me desespero por não conseguir achar os comprimidos, mas vou até o banheiro e vejo que minha mãe havia guardado. Tomo dois, aproveito que é final de semana e posso dormir bastante, espero que seja o suficiente para salvar Maia de uma vez por todas.
...
Acordo e me vejo caído no chão com uma dor insuportável no meu olho esquerdo, aí percebo o que aconteceu: Luke havia me batido na delegacia, estava tentando bater em Maia também, mas por sorte os policiais conseguiram segurá-lo.
Minutos depois ele já estava atrás das grades por punição de todos os seus crimes. Após isso vou atrás dos policiais para descobrir onde Maia vai morar, porque ela é menor idade, não poderia morar sozinha, e tenho certeza que não iria querer continuar naquela casa cheia de memórias horríveis.
- Conversamos com ela, sua mãe não está mais entre a gente devido um câncer quando Maia tinha apenas 6 anos, porém sua avó sempre quis sua guarda, irá morar com ela em Denver. - diz o policial.
- Denver, Colorado?! - pergunto em choque, é onde eu moro na vida real.
Vou até Maia e ela me abraça forte.
- Eu não faço ideia de como você surgiu, mas realmente salvou minha vida. Vai conseguir viver sem mim? - ela pergunta, rindo.
- Querendo ou não, eu sempre vou estar junto com você.
Ela sorri sem entender. Entra no carro de sua avó, já começando a viagem.
- A gente se vê por a! - ela grita, sorrindo.
...
Acordo, meu olho esquerdo está doendo no mesmo lugar que Luke o tinha socado no sonho, que estranho. Por sorte é sábado e não preciso ir pra escola. Fico pensando se Maia existe na vida real, principalmente agora morando na minha cidade, decido procurar na internet.
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Petrichor
RomanceConta a história de Eric, um menino de 17 anos com problemas pra dormir. Ao ir em um psiquiatra, começa a tomar um remédio onde faz seus sonhos serem reais, fazendo com que não se esqueça depois que acordar e sempre sonhar com as mesmas pessoas. Lá...