EU BALANÇO A CABEÇA e aproximo meu latte gelado, colocando estrategicamente os lábios no canudo. Yoongi está sentado à minha frente com os cotovelos apoiados na mesinha redonda, segurando o queixo com uma das mãos.- Ele é lindo - afirma Yoongi, olhando para o sujeito que acabou de entrar na fila. - Sério, Jimin, quer fazer o favor de olhar pra ele?
Eu reviro os olhos e tomo mais um gole.
- Yoongi - respondo, apoiando a bebida na mesa. - Você tem namorado. Eu preciso mesmo ficar sempre te lembrando?
Yoongi faz uma careta bem-humorada de desdém.
- Não sabia que você era minha mãe! - Mas Yoongi não consegue ficar muito tempo prestando atenção em mim, não enquanto ele olha o cara que está pedindo café e bolinhos. - E Chul nem liga se eu olhar, desde que eu fique de quatro pra ele toda noite.
Eu bufo e fico vermelho.
- Viu? U-hu - ele diz, abrindo um sorrisão. - Consegui te fazer rir. - Yoongi estende a mão para o seu bolso. - Preciso fazer uma anotação - continua, pegando o celular e abrindo o diário digital. - Sábado. 15 de junho. - Ele corre o dedo pela tela. - 13h54: Park Jimin riu de uma das minhas piadinhas sexuais. - Depois ele enfia de novo o celular no bolso e me olha com aquela expressão pensativa que sempre faz quando está para entrar no modo psicanalista. - Dá só uma olhadinha - insiste, sem brincar.
Só para ele sossegar, viro o queixo um pouco de lado para olhar rapidamente o sujeito. Ele se afasta da caixa e vai para a ponta do balcão, onde pega sua bebida. Alto, maçãs do rosto perfeitamente esculpidas. Olhos verdes e cabelo castanho espetado.
- Tá - admito, voltando a olhar para Yoongi. - Ele é gato, mas e daí?
Yoongi continua á admirá-lo enquanto ele sai pela porta dupla de vidro e passa em frente às vidraças antes de conseguir olhar para mim de novo e responder.
— Meu. Deus. Do céu! — ele exclama, de olhos arregalados e incrédulos.
- É só um cara. - Eu coloco os lábios no canudinho de novo. - Você devia andar com “obcecado” escrito na testa. Só falta babar.
- Tá brincando comigo? - Sua expressão se transformou em puro choque. - Jimin, você tem um problema sério. Sabe disso, não sabe? - Ele se encosta na cadeira. - Precisa aumentar a dose do seu remédio. É sério.
- Parei de tomar em abril.
- Quê? Por quê?
- Porque é ridículo - retruco. - Não tenho impulsos suicidas, então não tenho nenhum motivo pra continuar tomando aquilo.
Ele balança a cabeça e cruza os braços sobre o peito.
- Você acha que eles receitam esse negócio só pra quem tem impulsos suicidas? Não. Não é bem assim. - Ele aponta para mim rapidamente e volta a cruzar os braços. - É um lance de desequilíbrio químico, alguma porra dessas.
Eu abro um sorrisinho.
- Ah, é? Desde quando você entende tanto de saúde mental e dos remédios usados pra tratar as centenas de transtornos? - Ergo as sobrancelhas só um pouco, o bastante para mostrar o quanto sei que ele não faz ideia do que está dizendo.
Quando Yoongi franze o nariz para mim em vez de responder, eu continuo: - Vou me curar no meu ritmo, e não preciso de um comprimido pra consertar as coisas. - Minha explicação começou delicada, mas inesperadamente ficou amarga antes que eu conseguisse acabar de dizer a última frase. Isso acontece muito.
Yoongi suspira, e o sorriso desaparece completamente de seu rosto.
- Desculpa - digo, com remorso pela resposta atravessada. - Olha, eu sei que você tá certo. Não posso negar que tenho uns problemas emocionais bem complicados e que às vezes sou meio grosso...
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Entre o Agora e o Nunca
RandomPark Jimin é um jovem de 20 anos que desistiu do amor desde que Taemin, seu namorado, morreu num acidente de carro há um ano. Seu melhor amigo, Yoongi, é o único capaz de animá-lo. Mas a relação entre os dois fica abalada. Perdido, sem saber o que f...