ATO III

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Dedicação à causa.

Não questionar a ordem, somente executar.

— É isso que tem a me dizer, porra?! — bradei para Ravish, que permaneceu em silêncio no sofá.

O filho da puta bebericava a porcaria de um champanhe, nem fez questão de me olhar enquanto lançava um pedido ridículo de desculpas por ter me enforcado sem sequer repensar.

Cinco anos, passaram-se cinco anos desde que me sentenciaram sem uma investigação mais profunda. Bastou uma foto para desprezarem minha honra. Não fui morto, mas fui humilhado. Esquecido pela organização que prezava, ignorado pelos membros que deveriam me obedecer, deserdado pelo próprio pai.

— O que mais espera, Gael?

— Você é um cuzão, Ravish — disse entredentes, ganhando sua atenção. — Escute bem o que vou te dizer: nada vai me parar. Nem seus membros prontos para atirar, nem sua posição na Sociedade. Nada.

— Pare de mágoa, filho. Vult vai morrer por ter nos traído, você receberá uma nova chance para voltar à ativa no cargo que te pertence. É meu sucessor, Gael. Engula o caralho do seu orgulho, esqueça do passado e foque no que importa — ditou, erguendo as duas sobrancelhas, como se repreendesse uma criança.

Meus olhos arderam com desequilíbrio perante suas palavras. Ele queria que eu apagasse toda a sujeira que lançaram sobre mim? Ravish confiava em seu poder, mas não era ingênuo. Por isso jogava com minha mente, aguardando o estouro para me tirar da jogada.

Sorri sem humor, porque o velho esqueceu ou ignorou que o sangue ruim que corria por suas veias era o mesmo que corria pelas minhas. Ajeitei a postura, relaxando os ombros, adquirindo um ar neutro, e respirei fundo, recuperando a calma. Não adiantaria desencadear uma guerra agora. Durante esses anos aprendi a remoer a raiva para não deixá-la diminuir. Aquilo seria mais uma dose diária.

— Nos vemos na Assembleia — afirmei, saindo do território bem protegido do Geral da Sociedade.

Desta vez não seria sua palavra que ditaria os acontecimentos. Ravish aguardava minha devoção pela causa, contudo teria minha revolta pelos erros. Eu encontraria um jeito de foder seus planos. E começaria pelo que ele mais zelava: sua protegida.


Letal (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora