Gotta Go

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Anos Antes...

O sol escaldante do meio dia no Arizona, pairava sobre o corpo frágil da garota Chungha, que ajoelhada no solo ardente em um lugar isolado cercado apenas por cânions, tinha sua cabeça baixa e lágrimas escorrendo pelo rosto.

A pobre criança tinha o mais puro pânico em seus olhos confusos e assustados. As pequenas e esguias mãos, estavam amarradas em um nó apertado que a machucava ao fazer até mesmo o menor dos movimentos. O calor a torturava e lhe queimava sem piedade alguma.

Lentamente levantou a cabeça e deparou-se com a pior cena de sua vida, a qual ela tinha certeza que jamais iria esquecer. Jogado ao chão, imerso em uma poça de sangue ao redor da cabeça, estava seu pai. A visão que tinha era horripilante, o buraco na cabeça do homem deitado de bruços a fazia sentir seu estômago revirar e gritar sem parar.

Um sujeito magro com chapéu de vaqueiro e com roupas surradas, apontava uma escopeta para o corpo sem vida e tinha o deboche estampado no rosto.

Lágrimas escorreram desesperadamente pela face infantil. Os olhos da garota encontraram os de sua mãe que, também estava presa, impossibilitada de usar as mãos e pernas. Ambas estavam com o olhar cansado e rezavam para que tamanha tortura acabase logo.

A mulher recostou sua cabeça no ombro da filha e a disse quase que em um sussurro, o quanto a amava e o quão ela teria que ser corajosa. A garotinha chorava sem parar e tentava reprimir os gritos de dor pela perda de seu pai e pela corda que a machucava.

A gangue de saqueadores assassinos riam vitoriosos diante do sofrimento das figuras femininas.

Todo aquele show de horrores tinha um motivo por trás e a pequena era jovem demais para entender. O pai de Chungha era um ex-xerife que, ao se aposentar do cargo, passou a cuidar de sua fazenda e de seu negócio que estava em ascensão. O mesmo já havia causado muitos prejuízos a diversos criminosos, que tinham sede em lhe tirar a vida.

Um dos integrantes aproximou-se da criança, com um sorriso perverso nos lábios ressecados e feridos. Um homem desprovido de beleza, cheirava mal e parecia o próprio diabo em pessoa.

A mãe de Chungha implorou, suplicou para que deixassem a menina viver e fugir dali. Ela tinha em mente o destino que dariam à sua filha. Preferia dar a vida ou passar a vida inteira sofrendo nas mãos daqueles homens, do que deixar Chungha ir em seu lugar.

O homem agachou-se frente à criança que chorava em silêncio. Ele examinou o rosto da mesma, ainda ouvindo a mãe implorar para que não fizesse nada com a filha. Ele emanava um odor insuportável de álcool e suor. Chungha quase vomitou ao inalar aquele aroma repugnante. A pequena soluçava e pedia piedade apenas com seu olhar inocente e destruído, sem dizer uma sequer palavra.



- Deixe-a ir, eu imploro. Faça o que quiser comigo mas deixe-a ir. - a mãe gritava para o homem, recostando seu corpo no da filha.

- Decide logo, Shaun, não temos o dia todo. Você sabe que logo mais os abutres vão querer beliscar esse verme e eu já estou prestes a estourar os miolos dessa mulher. - o homem que apontava uma 12 para o cadáver, disse impaciente.

A Sra. Kim continuava com sua súplica e Shaun, logo tratou de decidir quem seria sua próxima vítima.


- Vejamos... Até que a mamãe não é de se jogar fora. - o meliante tirou uma faca da bainha que estava em sua cintura; pondo um sorriso cínico nos lábios.


Antes de livrar os pulsos já roxos e doloridos da pequena Kim; o homem brincou com a arma branca, a passando pelas bochechas da menor, lhe causando ainda mais pânico.

Shaun rira do semblante da criança. Era excitante fazê-la ver sua curta vida passar diante de seus olhos e sentir que seu destino estava nas mãos sujas dele. Ele livrou suas mãos e ela imediatamente abraçou a mãe.

- Chungie, você sabe que a mamãe te ama muito, não sabe? - a menor assentiu abruptamente. - Mamãe vai ficar bem, eu vou sempre estar com você. Agora vá, pegue o trem e tente chegar na cidade de Socorro, lá você vai encontrar seus tios. - a mulher disse com a voz baixa e falhando. Seus olhos fixos nos de Chungha diziam que a despedida estava próxima.

- Eu te amo muito, mamãe. Mas... Você não vai comigo? - Chungha indagou inocente, abraçando a mulher. Mal sabia ela que aquela seria a última vez que iria ver sua mãe.

A mulher apenas sorriu fraco, sentindo seu coração se despedaçar diante da inocência da filha. Ela encarou o rosto doce e gentil da criança por alguns segundos, visando gravar a imagem dela para que pudesse partir com a pequena em sua memória.


- Já chega! - Shaun as interrompeu, dando um tapa no rosto da mulher. - Eu acho melhor você começar a correr, gracinha. Se eu te pegar de novo, não vou ter pena de você.

O homem agarrou Chungha pelo braço, forçando-a se separar de sua mãe e continuou:

- Se bem que você não vai viver muito. Logo vai morrer de fome ou alguma cobra vai cruzar seu caminho. Menos trabalho pra mim. - ele empurrou a criança e apontou uma pistola para a mesma, gesticulando para que sumisse de sua vista.


Ainda que seus pés estivessem cansados, Chungha corria como se não houvesse amanhã. A estação do trem que partiria para o Oregon, não ficava muito longe e tinha esperança de que pudesse procurar por ajuda. Tudo que a criança carregava consigo era sua roupa do corpo, alguns trocados e um pequeno mapa em seus bolsos.

Sua respiração já pesava, mas não desistia de juntar todas as suas forças e tentar conseguir chegar até a estação. Os pés ardiam mais e mais, em contato com o solo seco e rachado. Uma dor insuportável.

Correndo contra o tempo, contra o sol, contra o cansaço, Chungha estava banhada de suor e sua língua estava para fora. De boca aberta e cambaleante, a pequena sentiu sua vista escurecer e seu corpo se chocar contra a rigidez do chão.

Eyes Wide Open - Sunmi X Chungha Onde histórias criam vida. Descubra agora