O sol já estava no meio do céu, quando o Príncipe Sebastian e Kalel chegaram na Taberna de Ferro – que ficava no meio do vale - onde se extraia o ferro e confeccionavam as armas e instrumentos de metais das Terras Altas. Assim que eles entraram na Taberna ,os olhos dos trabalhadores acompanharam os dois homens ,que se dirigiram até uma pequena mesa quadrada de madeira num canto e ali se acomodaram em dois bancos .
- Me diga ,meu amigo . Ontem você conversou com meu pai ,sobre o tal acordo ? Perguntou Kalel ao príncipe enquanto olhava para uma mulher robusta que caminhava ao seu encontro .
O príncipe apenas balançou a cabeça em sinal de positivo .
- Alteza...Milorde Kalel...cumprimentou a mulher .O que vão querer ? Perguntou a mulher ,mostrando os dentes amarelados enquanto sorria .
- Traga duas canecas de Hidromel e um ensopado de porco com castanha para dois -respondeu Kalel .
Assim que a mulher se afastou da mesa, Sebastian olhou para Kalel e disse :
- Na verdade ,Kalel .Não cheguei a conversar com ele sobre isto ,ele estava meio fora de si quando fui ao seu aposento ontem à noite.
- São as ervas medicinais que Cristóvão traz para ele . Meu pai senti muitas dores . Diz que só melhora quando faz uso delas – A voz de Kalel transmitiu uma certa tristeza – Mas diga-me, o que o rei Alfredo determinou para tal acordo?
Sebastian lembrou da conversa que tivera com o rei Alfredo antes de partir para as Terras Altas – Somente com uma união haverá paz entre as Terras Altas e as Terras baixas . Já ia responder Kalel ,quando a mulher colocou as duas canecas sobre a mesa.
- Já trago o ensopado ,milorde .disse ela dando uma picadinha para Kalel e afastando – se novamente para a cozinha .
- O rei está visando o melhor para ambos os lados , àfinal os dois perderam muito com este conflito e o Reino também está sendo prejudicado.
- Olhe em volta ,Sebastian .Estes homens já não lutam pelo motivo que desencadeou este conflito ,lutam por suas próprias questões. Para que acha paz entre eles tem que ser mais que um papel assinado .Somente uma união trará a paz para esse povo , como deveria ter sido se não fosse aquela bruxa que enfeitiçou meu pai.
-Meu caro amigo ,você já deu a resposta para este dilema .Mulher! Gritou. Traga mais duas canecas para nós...Merceus acordou...Seus olhos não pareciam tão cansados e nem sentia aquela dor terrível no corpo inteiro.As ervas medicinais estavam lhe dando um certo alívio. Sentou na cama e tentou lembrar o que dissera ao Príncipe Sebastian na noite passada ...que tolice a sua jamais deveria ter aceitado o príncipe no seu aposento ,ainda mais depois de ter feito uso das ervas. Olhou para a pequena mesinha ao lado da poltrona e viu o papel com o selo real .Levantou da cama e caminhou até a mesinha ,pegou o papel e tirou o lacre era um convite do rei Alfredo ...o acordo de paz ...pensou ele.
Será que teria coragem de olhar novamente nos olhos de Klaus.
Sentou na poltrona e pegou um lenço que estava na mesma mesinha . Era um lenço branco tinha umas manchas amarelas e na ponta um monograma com as inicias C B ...
Lady Cecília D'Berr ...jamais esqueceria aqueles lindos olhos azuis ...o cheiro dos seus cabelos e aquela boca macia .
Amou Cecília deste pequena... lembrava de seus atrativos ...tudo que ela fazia era pra chamar atenção ... mas não a sua atenção. Tudo era para Klaus mas ele era o mais velho dos filhos do Duque ...ela era dele e não do irmão. Lembrou da cerimônia de noivado ...Ele olhou para ela...viu as manchas avermelhadas em volta dos olhos ...Eu prometo fazer você a mulher mais feliz de Arcor – Ele disse em seu ouvido depois de beija-la .Apertou o lenço nas mãos até as veias ficarem saltadas .
Ele tinha ido até a janela ...estava feliz.
Cecília ia ser sua esposa ...Somente dele. Foi quando viu um movimento de pessoas no jardim ,apertou os olhos para tentar se adaptar a escuridão seria algum casal de servos apaixonados .Viu os dois se beijarem ,as roupas de ambos sendo tiradas e jogadas ao chão...pensou e assim que quero amar minha Cecília...o movimento do amor era perfeito ...eles se amavam sem dúvida.
Mas então a escuridão da noite foi rompida pela luz da lua que iluminou o leito do casal apaixonado ...Era Cecília e Klaus ...Os olhos enrugados de Merceus apertaram deixando as lágrimas rolarem pela sua face .Jogou o lenço no chão e pisou em cima .Odiava aquele sentimento...Ele queria ser livre. Na verdade ele poderia ter sido livre com Kalunga , mas o rancor tinha sido mais forte e ele não conseguiria amar outra mulher .
Kalunga havia lhe trazido Kalel e pelo menino ele tentou mudar e agora todas as suas decisões era para ter paz e por Kalel.
A mão enrugada foi passada nos olhos secando as lágrimas...todo esse sentimentalismo...nunca tinha sido tão dolorosa essas lembranças.
Como se arrependia de tudo ...o rosto de Cecília sangrando pela chicotada ...a violência que usou com ela ...Os Malaris sendo torturados ... a velha Ura tendo os olhos vazados e Kalunga ...-Aaaaii!! Eu não aguento mais -gritou caindo de joelhos no chão. Me deixe em paz ...eu não quero lembrar de nada ...eu não me arrependo – as lágrimas molhavam ainda mais o rosto de Merceus .
- Isto tudo ! falou ainda gritando . É coisa sua ,né. Acha que vou me render a você ? Tudo que eu vou fazer e por causa de Kalel .Ele é meu filho .Está me ouvindo Ocinu Onrete ?
Levantou e enxugando as lágrimas saiu do quarto gritando por Cristóvão...Ao ouvir seu nome sendo chamado por Merceus - o mestiço Malari - escondeu o pedaço de pão que estava comendo dentro de um saco de farinha ,limpou com a costa da mão a boca e sacudiu a roupa .Foi até a porta da dispensa abriu e fechou em seguida passou a chave nela e colocou-a em uma bolsinha de couro pendurada no cós da calça.
Com passos rápidos atravessou um corredor e entrando na cozinha se assustou ,pois Merceus estava na porta que tinha acesso ao corredor do salão.
- Perdão pela demora ,milorde . Falou sem levantar os olhos para o rosto do Duque. Eu estava conferindo os mantimentos para a lista semanal . Continuou ainda sem olhar para Merceus .
- Não minta pra mim ,Cristóvão ! Tenho certeza que você estava comendo escondido . Dando dois passos passou pela mesa e pegando uma colcha jogou-a em direção do criado .
O pobre homem mal deve tempo de desviar a cabeça sendo atingido por ela.
Sem esperar qualquer ajuda ,olhou os outros criados que fingiam não ver o ocorrido.
-Venha comigo ,disse Merceus indo para a escada que dava acesso ao pátio.
Cristóvão, passou a mão aonde fora atingido e sentiu o calombo ,ele já sabia aonde seu senhor iria .
Assim que chegou no pátio tomou a direção da masmorra aonde ficava os tuneis de acesso à montanha. Chegando numa grande porta de carvalho, ele pegou uma tocha acessa que ficava na lateral .O lugar tinha um cheiro de hortelã, ele nunca tinha entendido porque aquele túnel exalava esse aroma tão agradável
Enquanto caminhavam pelo túnel o aroma era ainda mais suave .
Assim que chegaram numa câmara, Cristóvão acendeu com sua tocha outras que ficavam penduradas na parede da montanha ...de repente tudo ficou iluminado .
Merceus olhou as colunas emolduradas com ouro e falou para Cristóvão ,enquanto subia uns degraus para o outro cômodo que se era iluminado por uma grande pedra em forma de triângulo.
-Me conte, Cristóvão . A história de Ocinu Onrete novamente ...Mercedes estranhou a demora de Klaus então sem hesitar foi até o aposento do casal ,para ver porque ele ainda não havia descido .Assim que abriu a porta viu que ele estava parado perto da janela, Klaus segurava um papel nas mãos .
- Bom dia ,meu querido . Meu marido não está se sentindo bem ? Perguntou abraçando ele .
Klaus dobrou o papel e colocou no bolso do roupão de dormir .
- Desculpe -me, minha bela .Sei que gosta de todos na mesa para o desjejum ,mas estava lendo uma carta do rei e acabei me perdendo no tempo. Respondeu interrompendo o abraço de Mercedes e segurando uma das mãos com muita delicadeza , beijou a mão da mulher e se afastando. Foi até a cama ,aonde tinha um traje masculino estendido,Despindo- se pegou o traje e colocou.
Mercedes vendo o gesto do marido foi até uma cômoda aonde havia uma bacia de barro com água e uma toalha e levou para ele.
Klaus olhou para dentro da bacia juntou as mãos e pegou a água jogando ela no rosto . A bela mulher depositou a bacia em uma mesinha ao lado da cama e com a toalha secou o rosto dele .
- Vem , meu senhor ,senão seu desjejum ficará frio e eu sei que você não gosta dele requentado.Assim que Mercedes puxou-o em direção a porta , a luz do quarto que entrava pela janela bateu no anel que estava na mão da condessa refletindo no rosto de Klaus . Logo o Conde lembrou do passado...
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A Escolhida
Narrativa StoricaUma nova terra foi descoberta seu povo subjugado pelos conquistadores...num campo de batalha dois irmãos se enfrentam por causa de uma mulher ...um acordo para cessar um conflito antigo e decidido ...segredos...mudanças ...escolhas...mudaram as vida...