undersea fantasy

1. bright blue light

Era um sonho dele, desde muito novo, seguir os passos do pai e se tornar um marinheiro também. Cansou de ver o pai sair para longas viagens ao mar e sempre quis ir também, sempre escutando que era muito pequeno, que deveria comer e dormir bem para crescer e só então poder acompanhá-lo. E assim ele fez, esperando ansiosamente ano após ano, até atingir os dezoito anos. Seu pai só voltou do mar oito meses depois de seu aniversário, mas tinha um grande sorriso no rosto antes de puxar o filho para um abraço apertado.

━━ Agora você é um homem de verdade, vai poder acompanhar seu velho pai em uma nova viagem ao mar! ━━ O velho disse com muita alegria, essa compartilhada por Jungkook. E apenas por eles dois, a mãe e irmã do rapaz não tinham nenhuma felicidade com essa vida que os dois tanto adoravam. Era muito tempo longe de casa e os riscos em alto mar eram enormes, mas não tinha como negar que as recompensas valiam a pena. Toda vez que o patriarca retornava, sempre tinha muitas moedas de ouro em posse e era isso que garantia a boa vida para a família.

Não era com o dinheiro que Jungkook sonhava, mas com a aventura, como todo garoto. E ela foi destruída na mesma noite da chegada de seu pai, quando, depois do jantar, ele revelou que não era um marinheiro comum, tripulante em embarcações legais do reino, mas um pirata. De um grupo encarregado de saquear tesouros brutos de ilhas pelo Oceano Pacífico. Era uma embarcação ilegal, mas ainda assim haviam reinos em todos os cantos que pagavam muito por pedras preciosas e pepitas de ouro brutas. Bem como animais raros e madeiras nobres. Era muita informação para o rapaz assimilar com pacificidade, era um choque descobrir que vivera acreditando em uma mentira por tanto tempo que sequer conseguiu permanecer perto do pai por mais tempo, correu para o sótão da casa e, de lá, para a abertura do telhado que ele mesmo havia feito. Gostava de estar lá porque naquela altura podia ver não só o vilarejo onde vivia com clareza, mas também o mar bem a frente, não muito distante. Estava escurecendo e logo não seria possível ver nada além do negrume, mas saber que o mar estava lá, sempre esperando-o, era o bastante.

Três dias, foi esse o tempo necessário para que Jungkook decidisse parar de ignorar o pai e concordar em ir com ele na viagem que se iniciaria no mês seguinte. Sua motivação era única e exclusivamente realizar seu sonho de estar no mar. Sabia que não poderia impedir a pirataria totalmente, mas talvez pudesse evitar que o estrago causado por eles fosse tão grande. Não tinha nenhuma ideia do que faria a respeito, mas isso era algo que teria de ver assim que estivesse a bordo.

As notícias corriam rápido, logo as visitas de vizinhos eram frequentes, todos interessados em contar histórias para assustar Jungkook, sobre todos os tipos de bichos e espíritos que habitavam o fundo do mar. O rapaz acreditava naquele tipo de coisa, durante toda a vida havia escutado do pai e dos colegas dele que eventualmente apareciam para um jantar, sobre nunca duvidar de nada que tenha o mar envolvido, já que ele era um mistério sem fim. E assim ele seguia, mas havia uma larga diferença entre acreditar e temer. Quanto mais escutava, mais ansioso ficava.

E assim os dias foram passando, até o dia da viagem finalmente chegar. Uma noite antes haviam se despedido das mulheres da casa e rumado pela praia em uma longa caminhada pela areia quente. Agora que sabia que o pai era um pirata, Jungkook entendia que o navio não podia atracar no porto do reino. Atravessaram uma grande muralha de pedra, por uma caverna úmida onde a água alcançava seus joelhos, não havia muito o que ver além da fraca luz da lamparina a óleo, por isso Jungkook acabou andando literalmente colado contra o braço do pai. Não tinha medo do escuro, mas lugares desconhecidos eram comuns por despertar insegurança, principalmente no meio da noite. Mas ao final daquela longa jornada, lá estava uma imponente caravela esperando-os na baía. Um bote veio buscá-los para então embarcarem.

Jungkook sentia o coração ameaçando escapar por sua boca, mas conteve-se perante os gritos de aproximadamente 200 homens, que era a capacidade do navio, segundo perguntas que havia feito ao pai no caminho. Diversos deles, todos grandes e de aparências grotescas, muito queimados pelo sol e também pela água salgada, alguns mutilados, outros apenas sujos, se amontoaram sobre o mais novo tripulante. Alguns o beliscaram, outros puxavam seus cabelos, deram tapas onde fosse possível alcançar de seu corpo. Eram gestos de boas-vindas, que Jungkook aceitou de bom grado, com um largo sorriso no rosto que parecia ainda infantil perto daqueles outros.