HERMIONE GRANGER estava feliz.
Ela tinha uma vida feliz. Ela tinha amigos, os melhores possíveis. Ela estava estudando na faculdade de direito que ela sempre sonhou em fazer. Depois de muito tempo de procura, ela tinha encontrado um apartamento razoavelmente bom, que a permitia ter seu gato e seu piano.
Ela não precisava de mais nada.
Ela também ainda não tinha escutado os gritos no andar de baixo.
Na primeira vez, ela estava bebendo água.
Foi um prato, ou um copo, Hermione não tinha certeza. Talvez fosse uma jarra. O barulho do, seja lá qual objeto fosse, se quebrando, junto com um grito raivoso, foi bem alto, e Hermione sabia que tinha sido no andar de baixo.
Seu gato se assustou. Mais do que ela na verdade, e ele saiu correndo para algum lugar que Hermione não se importava, porque agora havia alguém chorando no outro apartamento. E era uma mulher. Hermione sabia disso porque ela era uma mulher e uma mulher sabe quando outra está chorando.
Ela não sabia como reagir. Deveria descer lá e conferir se ela estava bem? Bom, isso seria estranho, considerando que ela não conhecia ninguém no prédio e talvez uma desconhecida aparecer na porta da casa da vizinha apenas piorasse a situação.
Quando o choro mudou para algo que parecia mais como um ataque de pânico, Hermione tomou uma decisão. Talvez não fosse a mais inteligente, ou talvez não fizesse tanto sentido, mas se desse errado, pelo menos não faria mal a ninguém.
Ela descansou seu copo de água na bancada da cozinha e foi em direção ao seu piano, na sala de estar do apartamento e, enquanto os primeiros acordes de Take Me To Church, de Hozier, começaram a surgir no ar conforme seus dedos pressionavam as teclas, ela se lembrou de quando quem tinha ataques de pânico era ela e quem tocava o piano era a sua mãe, e ela sentiu saudade, e seu olhos pareciam mais embaçados por algum motivo, mas ela continuou tocando até a última nota.
Quando ela terminou, não havia mais choro ou respirações pesadas vindo do andar de baixo, e ela se permitiu ficar feliz e orgulhosa de si mesma por um momento, por que ela tinha ajudado alguém que não conseguia se ajudar naquela hora e ela estava feliz com isso.
Ela voltou para o seu copo de água na cozinha com um sorriso leve no rosto, e tentou não pensar muito no que tinha acabado de acontecer.
Não adiantou muito, por que menos de um mês depois aconteceu de novo.
Dessa vez, ela ouviu palavras.
Era algo entre "você não pode" e "me deixe em paz" e Hermione se preocupou que talvez a sua vizinha estivesse sendo machucada por um namorado abusivo ou por parente que achava que podia mandar nela ou até um ladrão que tinha invadido, mas ela não ouviu nenhuma voz diferente dos gritos agora já conhecidos de sua vizinha de baixo, então ela se deixou relaxar um pouco.
Ela esperou.
Quando os gritos se transformaram novamente em um choro, ela já sabia o que fazer. Ela foi em direção ao seu piano, e ela tocou. Não foi Hozier. Foi Girl in Red. Hermione só não se lembrava qual música tinha sido. Ela não tinha certeza de porque ela escolheu aquela música. Talvez fosse por que tinha sido a última que ela tinha ensaiado, ou talvez porque ela tinha se identificado com a música em algum momento da vida dela. Realmente não importava, por que quando a música terminou não havia mais choro, e isso era o suficiente para ela.
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-secrets through the thin walls (HARRY POTTER)
FanfictionHermione Granger não conhecia sua vizinha de baixo. Mas ela sabia de algumas coisas. Ela sabia que às vezes ela ficava com raiva. Ela gritava e quebrava coisas e chorava até ficar sem voz. Hermione também sabia que a melodia de seu piano a acalmava...