O medo atingiu as entranhas de seu corpo quando a grande Eloah tremeu de forma violenta. A nave sacudia, chacoalhando todos na cabine de navegação, inclusive Maria. Maldição, não viemos até aqui para morrer agora.
— Ana, o que foi isso? — ela indagou à primeira pilota em função.
— Desculpe, capitã. Alguma coisa relacionada à gravidade do planeta. Vamos adentrar na primeira camada atmosférica. — E logo a mulher se virou para seus assistentes, proferindo ordens para tornarem a estabilizar Eloah.
Quando tudo voltou ao normal, Maria destravou seu cinto e flutuou em direção à ala genética.
O rosto do doutor Benjamin, ainda preso à cadeira de segurança, demonstrava o pânico que ele enfrentara nos últimos instantes.
— Alguma perda com os clones, Ben? — Maria perguntou.
O homem, respirando ofegante, passou a mão na testa e olhou assustado para os lados, antes de pensar em responder:
— O que aconteceu?
— Não se preocupe, Ana está cuidando disso. O que importa agora é a integridade dos clones. E das amostras.
Benjamim levantou-se do assento e fez sinal para que a capitã lhe acompanhasse.
Ao longo do corredor, os grandes tubos, repletos de um líquido alaranjado, abrigavam submersas cópias humanas em diferentes etapas de desenvolvimento. A aparência adormecida assustava um pouco à Maria.
Nunca tivera muita empatia com a genética. No entanto, acreditava que aquela seria, talvez, a ala de maior importância em todo o projeto de colonização. Noah fora bem claro quanto ao objetivo, quando designara a equipe junto à Eloah.
Próximos de um monitor, o doutor tomou a palavra novamente:
— Os sinais vitais estão aparentemente em ordem, senhora.
— Aparentemente? Estão ou não estão. Decida-se.
— Desculpe, capitã. — Ele pareceu confuso. — Estão todos bem. É só uma mania que tenho, preciso parar com isso.
— E as amostras?
O doutor executou uma série de comandos diante do monitor e, em silêncio, analisou os dados por alguns instantes. Seu semblante, quando tornou a encarar a capitã, predizia a insatisfação.
— Por que essa expressão? — quis saber Maria, impaciente. — Quantas perdemos?
— Todas... — Benjamim abaixou a cabeça. Não!
— Assegure-se de manter os clones em bom estado — disse a capitã, demonstrando a máxima calma que fora treinada a praticar.
Antes que o doutor pudesse concluir sua defesa, provavelmente tornando a culpa para a equipe na cabine de navegação, Maria já se virava apressada, flutuando em direção à ala de armazenamento de informação. Sua área de conhecimento.
Acionou seu terminal e confirmou que todas as cápsulas de ejeção continham os dados referentes à linguagem e aos procedimentos de reprodução. Nós vamos conseguir, eu sei.
Um novo chacoalhar dominou as paredes da nave, fazendo com que uma gravidade momentânea lhe atirasse contra uma borda, desnorteando-a por alguns instantes.
A voz de Ana em seu ouvido surgiu momentos depois.
— Capitã, perdemos o controle. Preparar para ejetar. Não temos muito tempo. — Maldição! Não podemos desistir agora, chegamos tão perto.
Maria ativou seu comunicador para todos e falou, tão alto quanto pôde:
— Executar procedimento secundário! Repito: executar procedimento secundário! Perdemos controle. — Ela digitou um código em seu traje e tornou a falar. — doutor, copia?
— Merda. — A voz ofegante se repetia — Na escuta, capitã. O que foi isso outra vez?
— Ouça com atenção. Não temos muito tempo. Inicie o despertar e ejete os clones.
— Nós vamos morrer?
— Benjamim! — gritou a capitã, tentando trazer o doutor à prioridade para o futuro da humanidade naquele instante —, isso não importa agora. Inicie o despertar e ejete os clones. Entendido?
— Sim, capitã. Se sobreviver, diga a Liz que a amo.
— Sua mulher sabe disso, Ben. E nós não vamos morrer — mentiu.
Dentro de sua cabine de ejeção, sentada e presa pelos cintos de segurança, a vista lhe parecia esplêndida. As diversas cores que abrigavam aquele planeta não faziam a mínima referência ao cenário cinzento de onde vinham. Noah tinha razão. Este é o paraíso.
Maria pressionou o botão vermelho, e sua cápsula ofereceu um impacto contrário ao movimento, tornando a cair nos instantes seguintes.
Em queda livre, nos momentos que precediam o fim de sua vida, a capitã pôde observar sua nave Eloah se chocando com o terreno em uma explosão tão grande, como nunca vira. Do outro lado, distante, as cápsulas que abrigavam os clones e os procedimentos a serem tomados quando despertassem, também aceleravam em direção ao solo. Droga!
Por um segundo, Maria percebeu que uma cápsula planava em segurança, rumo às águas daquele planeta. Ela encheu-se de esperança. Notou que um casal de clones sobreviveria.
Adão e Eva conseguiriam povoar a Terra.
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O Futuro da Humanidade
Science FictionUm microconto que acompanha os problemas inesperados que surpreendem a tripulação de Eloah.