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Todo ser humano já ouviu pelo menos uma vez na vida, alguém falar sobre os cinco estágios do luto. Se você ainda não ouviu, sente-se e acomode-se, está prestes a ouvir.

ESTÁGIO 1: NEGAÇÃO

A negação é uma defesa psíquica, e me fez ignorar o assunto. Na verdade, eu mal acreditava, jurava que a qualquer minuto minha mãe passaria pela porta do meu antigo quarto dizendo: "Ei querida, foi apenas uma confusão". As ligações perdidas no meu celular realmente me incomodavam. Por que meus amigos insistiam em me ligar tanto? Era apenas mais uma sexta feira como qualquer outra, certo? Errado.

Acho que fiquei cerca de duas horas deitada na minha cama, um braço apoiando a cabeça enquanto encarava o teto branco. Estática. Não podia ser verdade, então eu poderia simplesmente dormir como fazia em quase todas as sextas feiras. Mas por que eu simplesmente não conseguia fechar os meus olhos?

E então, como uma lâmpada se acendendo, minha consciência voltou ao lugar.Aquele dia não era apenas mais uma sexta feira e eu não iria dormir com o meu pijama confortável de sempre. Eu sequer estava em casa. Eu iria rever ela. Era o dia do meu reencontro.

ESTÁGIO 2: RAIVA

Eu me lembro de levantar da cama com tanta força pela sensação que me corroía, que uma madeira rompeu e até hoje, quando visito minha mãe, ela me pede para consertar.Não me julguem, cair a ficha de que o universo é um grande filho da puta que adora sacanear as pessoas pode ser explosivo, e eu não quis me conter, principalmente quando eu comecei a bater na parede mais próxima. Foi difícil, e eu só conseguia pensar no quanto tudo isso era injusto. 


Uma piada cósmica, provavelmente os astros estivessem rindo de mim naquele momento.

E não era para menos, a cena de uma adulta ajoelhada no chão do seu quarto de adolescência enquanto bate no piso e grita palavrões inimagináveis para as forças maiores do planeta, é algo considerável de piada. Me pergunto se era isso que minha mãe pensava, parada do outro lado da porta com a maior expressão de dó possível enquanto me observava em silêncio.
Mas, por que aquele olhar? Por que ela me olhava com tanta pena, mas não parecia nem um pouco indignada com aquilo? Não era possível que só eu sentisse tanta raiva, tanto calor e tanta vontade de gritar naquele momento.
Ou era?

ESTÁGIO 3: BARGANHA

Eu arregalei meus olhos e pensei no obvio. Se o universo pode tirar, ele também pode dar, certo? Errado, de novo. Mas eu não sabia disso. Então, num ímpeto eu parei de socar o chão, e comecei a implorar. Aquilo era surreal demais até mesmo pra mim, que acreditava em tudo e qualquer coisa. Implorei pra ela ficar. Implorei pra que os planos que eu havia feito para aquela noite corressem bem. Implorei até mesmo para que tudo não passasse de um pesadelo horrível e que me faria acordar suada e com o coração acelerado. Eu nunca quis tanto acordar passando mal de nervoso quanto naquele momento, apenas para constatar que era irreal, que ainda poderia tomar um banho e me arrumar para ver ela.

Sério, eu me lembro de orar e rezar, clamar e implorar, talvez eu tenha até oferecido minha alma para o diabo ou qualquer força maligna, tudo em troca de uma mensagem afirmando ser tudo um engano.

Mas ela não chegou.

Então tentei apelar uma última vez: Eu mudaria totalmente, iria à igreja todos os domingos, doaria dinheiro para aquela ONG que me ligava todo final de semana e pararia de fumar.

Se fosse tudo mentira.Mas vejamos, estou te contando isso enquanto fumo um belo Sobranie Black Russians, que prometi só fumar em casos extremos.

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