Mike - Fallen Angels

Prólogo

Conhecedores da verdade, justos e impiedosos eram alguns dos nomes que recebemos ao longo dos anos. Talvez, um deles se encaixasse perfeitamente entre nós. A vida nas ruas, lhe ensina que a justiça é a única forma de se manter vivo entre os predadores experientes. Com o tempo você passa a entender que o termo justiça não significa agir de igual para com todos os cidadãos. Em nosso mundo, a justiça é o que determina sua penalidade. Sempre teremos um castigo ideal e justo para todos os cidadãos.

Paro a moto à porta do bar classe média de Streeterville. A fila consideravelmente grande do local confirmando que seria uma das noites que acabam em confusões ou uma bela rodada de sexo. Sorrio ao jogar minhas pernas para fora da potente Harley coberta por couro e caminhar para o interior daquele pequeno e atrativo inferno.

Cumprimento alguns dos nossos, ignorando algumas das putas que se arrastavam em seus colos. Não controlo a indignação ao perceber o quão ridículo você pode se tornar quando almeja um simples reconhecimento ou exclusividade. Eu não queria tirá-las do seu belo mundo fantasioso, mas talvez seja a terceira bunda siliconada que esses homens estão segurando apenas essa noite.

O canto do bar reservado para nós estava com um número menor do que de costume. Era apenas início de madrugada, embora as noites de sábado sejam a mais produtiva para aqueles que ganham a vida vendendo bebidas e heroínas.

— Mike — Davis se despede de suas companheiras e caminha para perto. Passo a língua entre meus lábios em uma falha tentativa de retrair um sorriso.

A jaqueta está pendurada ao encosto de uma das cadeiras no balcão. A regata branca grudada ao corpo atlético, denunciando o quão abafado o lugar está. Davis passa a mão em seus cabelos claros os jogando para trás. Os olhos azuis e a mandíbula extremamente trincada era sua marca registrada.

— Pensei que o encontraria fodendo a essa hora — Ele verifica seu relógio de pulso, marcando pouco mais que meia noite — A primeira hora se aproxima e você ainda está de cara? — Sua cabeça se move em negação. Sua mão repousa em meu ombro enquanto a outra suspende o cigarro em frente ao meu rosto.

— Me dá essa porra — Pego o cigarro para mim logo tragando a fumaça apenas para solta-la, a juntando com as demais que rodeiam o ar.

Davis permanece em seu lugar. Logo fazendo o mesmo com o baseado em sua mão, me oferecendo assim que volto meus olhos para ele.

— Sabe que não curto essas merdas, Davis. — Meu tom acaba por soar rude — Pode voltar para as duas, ali. — Indico erguendo levemente o queixo em direção às meninas.

Antes de receber sua resposta, caminho para o balcão. O estresse elevado estava me correndo e mesmo Davis sendo como um irmão, conseguia me tirar do sério.

— Mike, cara. Eu sei que essa porra toda é pesada, mas devia tentar relaxar um pouco — Encosto-me no balcão, me apoiando sobre os cotovelos e parando de frente para a multidão. Eu tinha vontade de destruir todos ali, de fazê-los sofrer fisicamente. A felicidade muito esbanjada sempre é um refúgio para camuflar as dores.

Analiso Davis, procurando em seu semblante apenas uma faísca de arrependimento. Suas palavras foram movidas sobre as drogas e se eu não tivesse conhecimento disso, tiraria sangue da sua cara.

— Relaxar, Davis? — Pergunto, indiferente. — Durma ao lado da sua irmã e veja a mesma acordar todas as noites com pesadelos achando que estão enfiando o pau nela novamente — Minhas palavras saem calmas. A tranquilidade exagerada faz Davis retroceder alguns passos.

As lembranças me fazem fechar os punhos fortemente. O único assunto capaz de me levar ao descontrole tão facilmente. Davis é o único ciente dos acontecimentos. Porra, somos nós dois e Beatrice contra todo esse sistema fodido.