Natal

341 44 4
                                    


❄️Jack❄️

Mais um ótimo dia de neve. A geada cobria as calçadas, os carros, os telhados e as ruas. Para mim, um dia perfeito. Para as crianças, então, nem se fala. Já os adultos… bom, talvez nem tanto — afinal, o Natal traz alegria, mas também uma bela correria.

A lembrança de que eu e o Breu finalmente estávamos nos entendendo me aquecia por dentro — e ao mesmo tempo, trazia aquele velho medo: o que os Guardiões iriam dizer?
Mas sabíamos que não poderíamos nos esconder para sempre. Cedo ou tarde, teríamos que encará-los.

Era noite. Tudo estava quieto, provavelmente todos dormindo, ansiosos pela tal chegada mágica.

De repente, luzes cortaram o céu como estrelas cadentes, e lá estava ele: o trenó do Norte, brilhando, puxado por renas com olhos selvagens e energia demais para aquela hora da noite.

— JACK! — gritou uma voz grave e potente. — PARE DE FLUTUAR E VENHA ME AJUDAR!

Olhei pra cima e vi Norte, empunhando as rédeas e com a barba tremulando ao vento. Voei até ele com um sorriso travesso.

— Oi? — falei, como se não soubesse o que estava acontecendo.

— Não me venha com "oi"! — resmungou ele, pegando um saco enorme. — Casa 522! Casa 544! Casa 557! VAI, RÁPIDO!

— Ehhh... sabe, tecnicamente eu já terminei meu turno — disse, tentando devolver os presentes com uma cara de quem “já fez a parte dele”.

— Exatamente por isso que pode me ajudar! Natal não espera, Jack! PRESENTES NÃO SE ENTREGAM SOZINHOS!

Ele empurrou tudo nos meus braços com força surpreendente.

— Norte... isso parece exploração de menor.

— Hah! Você tem 300 anos! VAI!

Soltei um suspiro dramático, como quem carregava o peso do mundo (ou pelo menos de uns dez embrulhos brilhantes).

— Tá, tá. Mas você me deve uma caneca de chocolate quente com marshmallows.

— DUAS canecas se entregar sem quebrar nada!

E lá fui eu, voando por entre nuvens prateadas, riscando o céu com meu rastro de geada. O riso de Norte ecoava atrás de mim, alto e contagiante. E mesmo com todo o trabalho, não dava pra negar — o Natal tinha algo mágico.

❄️

Cheguei à casa das crianças e deixei os presentes cuidadosamente ao lado da árvore. Tudo estava calmo, iluminado apenas pelas luzes piscantes e suaves da decoração.

Uma das casas era a de Jamie — aquele garoto que tinha acreditado em mim quando ninguém mais acreditava. Me aproximei da cama dele e passei a mão em seus cabelos, agora mais crescidos, vendo-o dormindo profundamente, sonhando com neve ou dragões, talvez os dois.

Mas então, como se o universo fizesse questão de cortar o clima, ouvi a voz de trovão ecoando:

— JACK! QUE DEMORA É ESSA?! — rugiu Norte, me fazendo revirar os olhos.

Quando ele queria, era impossível não se irritar com aquele tom de comando militar misturado com espírito natalino.

Suspirei fundo, já me preparando para encarar outra rodada de entregas forçadas, quando algo segurou meu calcanhar e, num puxão súbito, me derrubou no chão.

— O quê...?! — murmurei, enquanto era arrastado para debaixo da cama.

Tudo estava escuro... escuro demais. Uma escuridão que parecia ter vontade própria.

Tentei chamar por Norte, mas uma mão tampou minha boca.

Num reflexo desesperado, mordi.

— Aaaai, Frost! Isso dói! — reclamou uma voz grave, quase abafada.

A escuridão começou a se dissipar aos poucos, revelando o rosto pálido de Breu, que fazia uma careta de dor.

— Seu maluco! Quase me matou do coração! — resmunguei. — eu poderia ter te congelado! — murmurei tentando sair de debaixo da cama. Mas ele me segurou com firmeza.

— Shhh. Calado! — disse, pressionando o dedo contra minha boca.

— O que você está fazendo aqui?! — sussurrei, ainda com o coração acelerado.

Ele sorriu com aquele jeito dele que sempre me deixava alerta.

— Te salvando... — respondeu como se fosse óbvio.

A janela se abriu com um rangido e lá estava Norte, invadindo o quarto como uma tempestade em forma de homem.

Prendi a respiração.

— Cadê o pirralho? Foi mesmo embora... — murmurou, olhando em volta com um olhar desconfiado.

Meu coração errou uma batida. Se ele nos encontrasse assim, debaixo da cama... eu estava completamente ferrado.

Felizmente, depois de bufar e olhar mais uma vez, Norte se retirou pela janela, tão silenciosamente quanto entrou.

A tensão passou, mas Breu ainda estava me segurando como se nada tivesse acontecido.

— Vai me soltar ou pretende passar o Natal inteiro debaixo da cama? — perguntei, erguendo uma sobrancelha.

Ele apenas me lançou aquele sorriso torto, inquietante e encantadoramente caótico.

— E por que não? — sussurrou, antes de roubar um beijo no meu pescoço.

— Breu! — protestei, empurrando-o com força. A cabeça dele acertou a madeira da cama com um thump seco.

— Ai! — gemeu, levando a mão à nuca, fazendo uma careta de dor.

Mas o silêncio seguinte não durou muito.

— Jack... é você aí embaixo?

Congelei no lugar.

Droga.

— Quem tá aí? — Jamie se sentou na cama, pegou uma lanterna debaixo do travesseiro e começou a iluminar o quarto em busca de alguma coisa.

No mesmo instante, me soltei de Breu e deslizei rapidamente para fora da cama.

— E aí, campeão. Como você tá? — falei com um sorriso enquanto flutuava ao lado da cama.

Jamie levou um susto, mas logo soltou um suspiro de alívio e abriu um sorrisão.

— Jack! O que você tá fazendo aqui? — perguntou animado, dando uma olhadinha ao redor, como se esperasse ver mais alguém comigo.

— Vim entregar seu presente de Natal pessoalmente. — respondi com um giro leve no ar.

— Mas... isso não é trabalho do Papai Noel?

— É... mas digamos que hoje eu sou o ajudante oficial dele. Só por uma noite. — sussurrei, levando o dedo aos lábios. — Não conta pra ninguém, tá? Estou meio que me escondendo dele agora.

Jamie riu, cobrindo a boca com a mão, como se estivesse guardando um segredo muito importante.

— Pode deixar! Segredo guardado.

— Sabia que podia confiar em você. — sorri.

Continua...

____________________________________________

Vou ver se eu consigo terminar o próximo até amanhã.

Beijos 😘

Origem dos Guardiões: Frio e TrevasOnde histórias criam vida. Descubra agora