[2]F*ck you, curse!

1K 33 5
                                    

Eu acordei completamente banhada em suor. A cama já não parecia uma cama. O meu cabelo prendia-se à cara e ao suor. Um par de olhinhos olhava-me assustado e inseguro. Sorri-lhe, mas ele não me devolveu o sorriso. Ele ía começar a falar mas eu parei com um dedo junto aos meus lábios e com a outra mão apontei para o corpo inerte do meu namorado, Richard, a ressonar. Isso fez o pequeno espectador rir-se, ligeiramente. Dei uma risadinha, também.

Encaminhei-me para fora do quarto com a mão nas costas do meu pequenino até à casa de banho que era na ponta oposta do corredor. Entramos e eu fechei a porta para poder-mos falar. Ele sentou-se na sanita com os pés a balançar para a frente e para trás à espera da permissão para falar, enquanto eu lavava a cara.

-Outro pesadelo!?- perguntou ele com os seus olhinhos irresistivelmente grandes.

Eu anui sorrindo, ele era demasiado inteligente, na sua mentalidade de 8 anos, para engulir esse sorriso. Ele olhou para mim com a cabeça de lado.

-Que foi?- tentei soar o mais meiga possivel, na minha voz de ensonada não suou como previsto.

Ele encolheu os ombros e eu ajoeilhei-me à sua frente.

-O que foi? Diz lá! Podes contar-me tudo, tu sabes disso.- ele olhou para o chão deixando-me mais preocupada.- Alexander Sky! Tu estás a preocupar-me!

Ele não gostou do meu tom de voz e saltou da sanita saíndo o mais depressa possível até ás escadas em caracol que davam para o sotão. Bufei, mas não fui atrás dele, eu sabia o quanto ele gostava do seu espaço. Com o barulho do Alex, o Richard acordou, aquele também, a casa podia estar a cair que ele não acordava, isso chatiavamente completamente.

Ele encostou-se contra a parede na ponta oposta do corredor a olhar-me, ainda agachada junto à sanita. Olhei para ele, e ele interrugou-me com o olhar enquanto eu lhe respondi com um encolher de ombros.

Richard atravessou o corredor em menos de seis passos e abraçou-me quando chegou perto de mim. Era mesmo o que eu queria, um abraço, adorava os abraços dele. Eram grandes e atrapalhados mas eram sentidos, achava eu ao menos.
-Eu vou dar-lhe uma palavrinha, se quizeres, e tu devias de ir dormir.- ele acrescentou afagando-me o cabelo.

-Não! Eu tenho de falar com ele. Tenho de resolver este assunto de uma vez.
Ele anuio, e deixou-me ir.

Subi as escadas, tropeçando umas três vezes e batendo pelo menos duas vezes com a cabeça, aquelas escadas e eu não nos davamos muito bem. Cheguei ao destino respirando profundamente de alívio.

Avancei, esta casa era muito antiga e rangia sempre que eu dava mais um passo. Olhei à volta, havia bonecos velhos, pó, muito pó, teias de aranha e buracos na madeira por tudo quanto era sítio, não compreendia a afeição do meu irmão pelo sotão, eu pessoalmente gostava mais da cave, não parecia tanto um senário de um filme de terror qualquer.

Ouvi barulho de alguém a mexer-se, ou de alguma coisa, implorei a Deus que não fosse um rato. Tinha uma cortina de lençol branco que já estava mais para o castanho amarelada. Desviei-a e dei de caras com um lobo pequeino, mais parecia um cão, no escuro só sobressaia os olhos cor de prata platinada. Eu aguachei-me e rastejei para trás quando o lobo castanho me rosnou recoei ainda mais, acabando por me cortar numa falha na madeira.

-Auu!- agoniei baixinho.

A cortina branca fechou-se e eu andei mais para trás sendo encadiada pela luz forte da lua cheia platinada como os dois olhos do lobinho. O céu estava a aclarar com o nascer lento e perguiçoso do sol e a lua ficava a radiar vermelho já pequenina na ponta oposta ao seu amor eterno, partilhando por escassos momentos o seu com o seu amado. Adorava tanto aquela visão que quase me esqueci do que tinha acontecido.

Não sentia movimento do outro lado mas sabia que ele continuava lá. Como raio é que um lobo entrou aqui?, pensei mas depois lembrei-me de uma pergunta mais pertinente, Onde raio é que está o meu irmão?, raiva aflorou-me à superfície, Ninguém toca no meu irmão!

Avancei sem medo e abri de rompante o tecido arrependendo-me amargamente disso pois só então me lembrei que me tinha cortado e a porcaria da falha de madeira estava a entrenhar-se mais fundo na minha carne. Deixei isso para segundo plano e olhei à volta. Estava lá ele, não o lobo, ele, o meu irmão pequeno, nu e assustado.

-Oh não...- sussurrei, aguachando-me para o trazer para ao pé de mim.

Ele aninhou-se, assim que me viu, junto ao meu coração fazendo-o acalmar-se e acabar por adormecer. Isto não podia estar a acontecer mas estava. Apetecia-me gritar montes de asneiras ao parvalhão cobarde do meu pai, mas não o fiz, quero dizer, não para fora claro. Abracei-o mais forte nos meus braços e embalei-o tentando afastar aquela maldição que assombrava o meu pequeno e inocente irmão.

Levei-o dali, descendo lentamente as escadas para não o deixar cair ou o acordar.

A sua cara encostada ao meu ombro fazia-me lembrar os anjos das pinturas clássicas, os seus olhos sem rugas de preocupação, calmos e inocentes, como todo o resto do seu rosto. O seu corpo, encostado a mim estava mole e cansado, pequenos arranhões e nóduas negras marcavam-lhe a pele branca e sem falhas. No cabelo castanho escuro deprendiam-se teias de aranha como se fossem aqueles enfeites baratos de Halloween.

Apertei-o levemente mais perto de mim, não queria que ele fugisse, literalmente, queria que ele soubesse que eu estava ali para ele, que eu o compreendia, que eu o ía ajudar, em tudo, eu precisava que ele soubesse e precisava ainda mais que ele precisasse de mim.

Virei em direção ao quarto dele, uma pequena divisão colorida e alegre decorada com uma imensidão de bonecos espalhados pelo chão o que me dificultou o caminho até à cama dele. O quarto era logo ao lado do meu, contra a vontade dele que queria dormir no sotão, o que esteve sempre fora de questão. Debrocei-me na sua cama e depositei o seu corpo, embora eu quizesse ficar agarrada a ele para sempre.

Com cuidado fui à comoda velha e gasta, que estava decorada com autocolantes e desenhos que eu durante as limpezas não tinha conseguido tirar, de onde tirei um dos seus pijamas e um pente e voltei para a cabeceira dele. Vesti-o o melhor que pude sem o acordar e escovei-lhe o cabelo com o intuito de lhe tirar a maioria da porcaria que estava colhado ao seu bonito cabelo.

Quando eu me levantei para ir para a cama tentar dormir, embora soubesse que era quase impossivel, ele acordou de rompante, agarrou-me com uma força sobre-humana fazendo-me rodar. Oh meu Deus! Os olhos dele estavam prateados outra vez, lacrimejantes. Senti uma vontade de acabar com ele a li, o meu interior estava a dizer-me isso. Mas que raio! Como é que o meu interior me podia estar a tentar avisar-me e a dizer-me para o matar. Nunca! Nunca faria isso nem que isso significasse a minha morte. A minha parte huma mandou os meus instintos à fava e abracei-o para tornar bem claro, tanto a ele como ao meu instinto, que eu não o ía deixar e que não tinha medo dele. Ele devolveu-me o abraço, fazendo-me acalmar e conseguir calar de uma vez a porcaria do meu interruptor de perigo.

******
Aqui está mais um capítulo! Espero que gostem! Por favor, comentem se souberem de algo que eu possa fazer para tornar a história mais interessante.
Se gostarem por favor votem!
Obrigada!
Bjks!!

Who are you, Evan Peters? [ON HOLD]Onde histórias criam vida. Descubra agora