Dia após dia, segundo após segundo, algo sempre acontece. Para alguns são coisas boas, para outros é algo ruim, mas para Bia? Bem, para ela, diria ser no mínimo confuso. Uma semana se passou e ainda concluía sua leitura, enquanto o escritor, estando na mesa da frente, em mais um dia habitual na biblioteca.
Beatriz realmente não lhe entende. Ele aparenta não querer que saibam sobre isso, mas vindo para cá, somente especulações nada agradáveis podem ser divulgadas. Ontem, lhe perguntaram se ele era estudioso e deves pensar que a resposta fosse sim. De fato, para escrever ele estuda bastante, no entanto, fora de seu "trabalho", não há muito encanto.
Muryllo chamava atenção por onde passava. Ele era, no mínimo, misterioso. Como exemplo, possuía uma boa comunicação, porém, não fazia questão de se comunicar. Controverso seria um ótimo adjetivo para ele. Não há dúvidas sobre isso. Por conta disso, a boca de vários alunos tiveram o seu nome constantemente e suas idas a biblioteca, agora conhecida pela maioria dos alunos, fez com que eu tivesse destaque. O que ele gostava tanto de um local tão desprezado?
- Então você não está namorando? - Perguntou Natália.
- Não.
- Nem uma paquera rolando?
- Qualquer que seja a pergunta, irei negar todas as suposições amorosas.
- E o que aquele garoto faz lá? - Bufou apoiando a mão no rosto e cotovelo na mesa. - Ele é alguém tão complicado, se aproximar não será fácil.
- Se aproximar?
- Sim, decidi que terei um namorado a todo custo e, convenhamos, ele não é um mal candidato.
- Não sei quanto a isso, mas não brinque com os outros, ele pode possuir sentimentos por você e descobrindo esse seu egoísmo, não creio que durará mesmo assim esse relacionamento falido.
- Falido!?
Ela falou alto demais, todas as pessoas ao redor logo olharam. Era horário do almoço, por sorte, se não algum professor teria dado uma bela de uma bronca. "Sortuda" ela pensou.
- Dúvido que algo tão egoísta e ingênuo possa dar certo. - Falou seriamente, afinal, ela estava querendo brincar com alguém.
- Bia, Bia, Bia... Sempre tão complicada. - Falou a última frase diminuindo o tom a cada letra que ressoava. - Deixe-me ser feliz ao menos uma vez ou por acaso é ciúme.
- Se for ciúme, estou fardada ao fracasso. Sabe o quão péssima sou com isso? - É triste ter que admitir isso, porém, se isso fizer com que ela tenha consciência do que pretende fazer, posso me torturar. - Então, não posso fazer muita coisa, logo ciúme é inútil.
- Tanto tempo lendo seus romances e nada aprendeu. Realmente é uma perda de tempo tudo o que faz.
"Perda de tempo?" pensou bia. É por tanto ler que ela desistiu de um romance. Todos são felizes a custo de um sofrimento opcional. Infelizmente, desde cedo entendia ser uma pessoa fraca, incapaz de suportar tal sofrimento.
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As noites são usadas por muitos para saírem com amigos, assistirem filmes e séries, virar a noite jogando ou vasculhar a rede mundial de computadores. O que ela faz, tu se pergunta? A resposta é bem simples como a indagação. Ela socializa com a família. Bia era uma grande fã de leitura e, por isso lia muito, mas sabia que não podia gastar todo tempo com isso.
- Irmã, poderia me emprestar seu livro daquele Muryllo? - Perguntou seu irmão mais novo
Seu nome era Ícaro, derivado de um conto da mitologia grega. Ela se perguntava o fim do seu irmão, pois, julgava que ele possuía mais liberdade que si. Ele afogaria no Mar Egeu? Afastou esses pensamentos. Mesmo tendo seus ataques de raiva, ainda era seu irmão.
- Por quê?
- Bem, é que... a Karol disse gostar do livro dele e ai pensei que talvez pode...
- Corro risco de entregar meu livro para uma pessoa que não possui cuidados para aumentar suas oportunidades no amor?
- Nunca disse haver essa finalidade. - Ele coçou o cabelo e ria.
- Negado do mesmo jeito.
- Mas por quê? Se fosse um cara, até entenderia, mas ciúmes com seu livro? Sério? - Ele indagava inconformado, pois, não é uma situação que qualquer pessoa experimenta.
- Meu xodó e não entrego para qualquer pessoa.
-Tsc.
- Cheguei, tá na mesa a macarronada. - Disse o pai de Bia.
Ela olhou, no entanto, toda a fome existente se foi. Bia, entretanto, se conteve e elogio o esforço do seu pai. Ele não era acostumado a cozinhar.
A mãe de Bia não estava em casa. Motivo? Não era trabalho, nem seu falecimento e tão pouco uma separação. Poucos minutos atrás, ambos discutiram fervorosamente e, para não piorar, sua mãe saiu de casa rumo a praça do bairro. Ela fazia isso toda vez. Ao menos, era um casamento garantido.
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- Beatriz, venho informar que estou numa nova jornada para finalizar meu livro. - Disse Muryllo com bastante empolgação.
Em sala de aula, ele era alguém quieto, no entanto, ao adentrar a biblioteca, ele transformava completamente. Bia não odiava, mas também não gostava dessa sua nova forma. Ainda se decepcionava por quem Muryllo era. Ela já havia até definido sobre sua definição sobre ele. Louco de aparência comum, esse era Muryllo.
- Já está finalizando o livro?
- Não exatamente. - Respondeu com um tom mais calmo - Eu irei finalizar o enredo depois dessa experiência.
- Tá, mas.... Que tipo de experiência?
- Eu fui convidado para jogar na equipe de futsal da escola, logo, poderei completar o arco dos jogos escolares.
Aquilo foi um choque para Bia. Ele agora era verdadeira definição de "surpreendente".
- Isso é sério!?
- Tão sério quanto meus esforços para escrever.
- Ok...
Ela se frustrou e se preocupou. Muryllo poderia se tornar popular, receber bastante atenção e assim perderia sua única companhia daquela solitária sala. De fato, ela já não lhe respeitava tanto como escritor, mas suas interações já haviam sido consideradas como verdadeiras. Bia se orgulhava de ter ele por perto, apenas para si, pois, temia aumentar seu ego e perder essa pequena felicidade. A felicidade de ter um amigo que escrevia algo belo. A felicidade de talvez poder retribuir um favor a ele.
Ela poderia, enfim, mostrar sua gratidão.
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Escritor anônimo
Teen FictionBeatriz é uma amante de livro e isso é inegável. Calma e responsável, ela é cuida da vazia biblioteca da escola, até que surge um garoto. Muryllo não é somente um simples aluno que compareceu naquela sala, mas também o escritor favorito dela. Junto...