VELAS E FLORES!

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21 de NOVEMBRO, 1992.
Era o dia do encontro. Coloquei tudo que antecipou aquele momento em meu diário.
Dia quatorze de Dezembro:
Preparei o lugar de uma forma especial, e a possível chance de me declarar a ela era a minha maior missão, e torcer para que der tudo certo.
DIÁRIO:
Pensei em te ouvir mais e falar menos. Te observar como alguém que tinha algo para te confessar, mas preferia manter a amizade do que perder você por qualquer outra coisa. Vai que você não gosta de mim, do meu jeito, ou sei lá! Eu realmente preferia morrer a perder você da minha vida. Tanto tempo com os livros, aprendendo a visão daquilo que está além da superfície, e agora que tenho a filha da poesia pertinho de mim, farei o possível e o impossível para manter assim.

O ENCONTRO:
São oito horas. Eu chego em silêncio próximo a casa dela e paro. Olha só o que estou vendo! Ela estar incrível, em frente a sua casa, sentada no batente com pernas estiradas, lendo um livro amarelo de textura aveludada. Pela primeira vez, eu pude ver qual o nome do título do livro: "Amor em doses pequenas", Era um romance que eu tinha lido em 1991, ano passado. Olhei para ela apreciando cada detalhe daquela linda composição. Suas vestes soltas, finas e suaves. No meio da minha vislumbrança, ela me percebe e olha para mim com um jeito meigo e ao mesmo tempo com um leve tempero de inocente sedução, e fala
⸺Oi...

⸺Oi, Vamos Senhorita Liane Barnes?

⸺Sim, vamos.

Essa noite, definitivamente não estava normal. Minhas emoções pareciam que iam explodir. O meu universo perdia a força para viver o dela. Sentia estar revendo uma memória de uma canção, onde os arranjos estavam elaborando uma daquelas notas que, quando combinadas, geram dentro do nosso ser a impressão de ter sido surpreendido por um novo amanhecer. São sons únicos que arrebata o público, e até os maestros, quando ouvem, entram em outro mundo... único.
No meio do caminho até a torre da igreja, ela abre os braços fazendo dupla com o vento, não sei o porque dizer isso, mas ela movia o tempo e o recriava com a mesma beleza da valsa da dança das borboletas...

⸺Vem! Abre os braços também! Você tem namorada? - Perguntou ela.

⸺Houuuh... não... Nesse momento tento acompanhar a corrida dela com os ventos. Os seus cabelos estão magníficos, flutuantes, dando àquela noite uma nova cor. Ela para um pouco, cansada de correr. Coloca as mãos no meu ombro como se buscasse um apoio, e diz, pausando a fala, um pouco cansada ⸺Desculpa a pergunta! É que imaginei, se eu estava indo... para... uma torre...ver a Lua as oito da noite, com alguém que tem uma namorada maluca, que pudesse pedir satisfação.
⸺Entendi... Ela não fazia ideia do que eu tinha feito para que tudo ocorresse bem.
Quando chegamos na igreja e subimos pela escada lateral, ela viu que tinha velas e flores, mas não disse nada. Apenas sorria com uma alma despreocupada. Talvez essa leveza de emoções tenha sido uma das razões de eu estar me apegando mais a ela. Peguei o telescópio e comecei montar. Pergunto:

Q⸺ue tipo de livro você lê?

⸺Gosto de ler guerra, terror e assassinatos em série.

⸺Sério?

⸺Não, eu to brincando! Você nunca brinca? Na verdade gosto de poesia, filosofia e... ⸺Eu também... ⸺Você gosta de poesia?

⸺Sim!

⸺Então me cita uma!

Deny Benedict estava recebendo a oportunidade que sonhara.

⸺Tudo bem! Declamarei para você uma poesia dos nossos ancestrais. Meu pai me ensinou quando eu tinha oito anos.
Brincávamos de poetas e filósofos, e o via declamar para minha mãe, nos dias que ele acordava meio pirado, meio filósofo.
A Liane prendeu toda a atenção no que Benedict falaria em poesia. Ela era fã de livros de romance. Ele dá duas voltas no espaço em que eles se encontravam, e ele começou a declamar em indiano e depois traduziu, quase que chorando:
"Só existe razão só existe emoção na união de duas metades se essa união conhecer a fusão do espírito, da alma, e coração" Ela olha para mim com olhar de uma princesa que acabara de ser cortejada, sem declarar fraqueza, e uma leve camada de lágrimas.
Nesse momento o meu diário cai do meu bolso. E ela e corre para apanhá-lo - eu tinha esquecido na minha bermuda. Eu insisto para ela me devolver, e ela não me devolve. Então ela começa a brincar com aquele jeito de descontraída e brincalhona que tem, e fala como se quisesse me pegar com alguma charada:
⸺ Vamos fazer um trato? - E começa a explicar - Se você me responder todas as perguntas eu entrego o seu diário.
Concordo, crendo eu na melhor possibilidade - de vencer a astúcia de Liane Barnes. Era no diário que estavam datas, poemas, poesias, pensamentos... tudo sobre o primeiro momento em que a vi até aquele em que estávamos juntos.

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