1 ◈ Madison

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Véspera de Natal, 14h

Uma desilusão amorosa muda muitas coisas. Por exemplo, não costumo ser o tipo de pessoa que fecha a cara quando uma moça sorridente no aeroporto JFK me deseja "Boas festas" ao fazer meu check-in.

Mas, neste exato momento, não consigo evitar. É véspera de Natal, e só quero dar o fora de Nova York o mais rápido possível. Não quero olhar para trás. Quero esquecer que vim até aqui, para começo de conversa — esquecer que um dia pensei ser possível encontrar algum tipo de Novo Eu nesta cidade.

Quando cheguei aqui pela primeira vez, Nova York era só luzes brilhantes e agitação. Mas duas semanas atrás, isso mudou. Comecei a enxergar o que o Sr. e a Sra. Lawrence, minha família anfitriã em Yonkers, sempre criticavam quando eu falava sobre "a cidade" e o quanto gostava dela. Todas as pessoas grosseiras — várias — que sempre pareciam estar no caminho. Os ratos. O fato de a cidade inteira às vezes exalar esse cheiro, como se estivesse coberta por um guarda-chuva gigante feito de pizza velha.

O sorriso da mulher está se transformando em uma testa franzida. Percebo que devo parecer muito esquisita parada aqui, carrancuda, olhando para o nada. Tento disfarçar, dizendo:

— Ah, sim... para você também!

Digo que vou pegar o voo das 18h45 para Heathrow, Londres.

Ela olha para o computador e arqueia a sobrancelha.

— Uau, você chegou com quase cinco horas de antecedência. Vocês, britânicos, gostam de ser pontuais, hein?

O que eu gostaria de dizer, se fosse socialmente aceitável e não me fizesse parecer louca:

— Não tem nada a ver com pontualidade, Ronda. — Esse era o nome em seu crachá. — Há duas semanas, eu não estava nem um pouco ansiosa para voltar para casa. Estava tendo o melhor semestre de todos, fazendo intercâmbio na Sacred Heart High, e começava a me sentir ridiculamente empolgada com a ideia de voltar para cá em setembro para cursar a faculdade. Eu fui aceita — admissão antecipada — no curso de jornalismo de Columbia e estava nas nuvens com isso, porque eu iria me mudar para um lugar onde poderia viver histórias. Nova York me daria muito material para escrever. E eu poderia virar a Nova Madison. Quem é a Nova Madison? Ah, a Nova Madison é basicamente eu — quero dizer, nós somos iguaizinhas, porque não há nada que eu possa fazer em relação a isso —, mas ela é impulsiva e extrovertida, enquanto a Velha Madison era um pouco mais caseira. A Nova Madison se arrisca; a Velha Madison jamais faria isso. E, então, eu realmente vim até aqui e descobri que a Nova Madison é bem incrível! Muitas pessoas gostavam dela... em especial um garoto da aula de inglês, Owen.

"Mas daí Owen veio e partiu meu coração. Quando isso aconteceu parei de ser toda impulsiva e livre, o que me deu tempo para notar todas as coisas que são meio que uma bosta em Nova York; tipo, os assentos do metrô são tão confortáveis quanto um carrinho de supermercado. E como vocês permitem coisas muito, muito idiotas, tipo, carros passando por cima de uma multidão de pedestres no sinal! E como faz frio em dezembro. Sério, isso deve ser algum tipo de violação dos direitos humanos."

O que eu realmente disse:

— Só estou ansiosa para voltar para casa, acho. Não era menos verdade. Apenas um jeito mais direto de dizer o que eu quero dizer. Talvez seja por isso que as coisas não funcionaram com Owen. Talvez se eu só tivesse puxado assunto, perguntado se ele estava infeliz... se eu tivesse sido mais direta, ainda estaríamos juntos?

Fala sério, Madison. Ser mais direta não faria Owen ser menos escroto.

Não vejo falhas em minha lógica, assim como não tenho uma resposta para a cruel provocação de meu cérebro sarcástico — É isso que ganho por tentar ser impulsiva.

Beijos em Nova York - Adaptação ChadisonOnde histórias criam vida. Descubra agora