Final

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Já posicionado ao lado de Zaky para acompanhar a seção da Dra Daren naquele dia, Sangrino pôde ver Labella sendo escoltada por um policial adentrar a sala. Sua respiração parou por alguns instantes quando viu a garota com uma camisa de força, fortes olheiras e cabelos desgrenhados, tudo bem diferente da época em que ela foi presa. Seu coração estava acelerado e ele sequer conseguiu esconder o seu nervosismo diante daquela situação. Antes que ele pudesse questionar algo, ouviram a voz de Labella.

--- Olha! Cortinas abertas! Quem irá assistir ao nosso talk show dos horrores, Doutora? -- a garota sorria debochada

--- Hoje um antigo conhecido seu estará te observando.

De repente o semblante de Labella se transformou completamente.

--- Dian??? Ele está aqui? Desgraçada, você prendeu ele??? -- ela estava furiosa

--- Gostaria de te lembrar que não sou policial. -- Mey respondeu calma e séria -- Mas, dependendo de como for a nossa sessão de hoje, posso responder a essa pergunta.

    Labella soltou uma gargalhada.

--- Sua filha da puta... acabou de me responder. -- respirou sacudindo a cabeça negativamente -- Olá, querido Victor.

     Sangrino, de maxilar trincado, tentava buscar em sua mente o motivo de ter se preocupado com aquela garota durante tantos anos. Ela era um monstro, isso o que ela era.
     Pobre Victor, ele foi apenas mais um enganado pela manipulação da "inocente Labella". Ele acreditava que apesar de tudo o que ela fez, ela era apenas uma adolescente frágil que precisava de cuidados médicos. E essa imagem ainda vigorava em sua mente, até suas mais recentes investigações que o levaram até o HPGS.

--- Delegado, você foi tão legal comigo que veja só! Está no meu livro e eu nem te matei. Seja legal mais uma vez e mande toda essa horda de estúpidos para o inferno!

— Bom, Labella. Hoje quero falar sobre algo que você sempre se negou a falar abertamente ou de forma clara. -- a Doutora permanecia sempre com a postura superior e expressão impassível -- Então, me responda sem rodeios. Quem é Dian Jazin?

— É a pessoa que se vocês tocarem em um fio de cabelo dela, eu acabo com a existência de vocês da forma mais lenta, dolorosa e perturbadora possível.

A moça agora estava séria, era como se a tivessem transformado em uma pessoa completamente diferente da que debochava e ria instantes antes.

— Certo, mas ele não existe, não é? Você não deveria se preocupar com o caso de algum de nós mata-lo.

— Sim, Doutora. Eu não deveria me preocupar com o caso de algum de vocês me matar.

Todos se entreolharam. Mey resolveu tentar essa abordagem, porque a paciente se negava completamente a se abrir sobre o assunto. E agora, ao perceber a terceira mudança repentina no comportamento de Labella, entendeu o que estava acontecendo ali. Seu olhar perdido e desolado, como se algo dentro de sua cabeça tivesse se partido e tudo tivesse perdido o sentido, revelava algo que apenas tornava a situação ainda mais complicada: Dian é, nada mais nada menos, que uma personalidade da prória Labella.

Zaky e Victor estavam completamente confusos com aquilo. "Espera, entendi certo?" eles se perguntavam em suas mentes. Sangrino estava completamente chocado com tudo aquilo e sua mente processava tudo e juntava as peças. A Doutora, muito surpresa, resolveu tentar entender tudo aquilo de uma vez, aproveitando a exposição daquela nova faceta da paciente.

— Bom, Dian. É a primeira vez que tenho a oportunidade de falar com você, isso é bom.

— Infelizmente não posso dizer a mesma coisa. -- um olhar sádico tomou completamente o seu rosto, ali havia nada menos que a mais pura maldade.

— Entendo. Mas acredito que você queira ajudar Bella, não é? Aquela coisa insuportável e horrorosa já me deixou completamente de saco cheio. -- Mey girou os olhos teatralmente.

A face da garota começou a ficar vermelha em fúria.

— O nome dela é Labella e a sua língua estará na bandeja do meu próximo almoço. Eu vou tirar ela daqui e acabar com todos vocês assim como fiz com todos aqueles imbecis que foram mortos ou internados aqui.

— Creio que vai sim, afinal tem a ajuda do seu querido pai, não é mesmo? -- tocar na ferida, essa era a estratégia de Mey.

— Só se seu corpo podre se levantar do túmulo. Acredite, o perigo de vocês é o pai do miserável Sangrino. Ele está por trás desse grande circo dos infernos. Deixem minha Labella em paz e eu conto tudo o que sei sobre isso.

A Dra Daren tinha duvidas se realmente poderia acreditar naquilo, mas naquela situação, eles perderiam mais se ficassem parados.

Com o depoimento de "Dian", Labella retornou ao controle porém ninguém contou a ela o que realmente aconteceu, apenas disseram que ela desmaiou durante a consulta. Sangrino, horrorizado com tudo o que viu e ouviu, logo se prontificou para liderar a operação que prenderia seu próprio pai, o Agente Deniel Sangrino.

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Depois de terem feito uma reunião, Mey, Zaky, Victor e alguns policiais planejaram toda a ação. O primeiro passo era nada menos que fazer Deniel confessar tudo. E pra isso, resolveram usar a influência da própria Labella. Foi então que, logo após o café da manhã do dia seguinte, o Agente foi informado por Zaky que havia uma visita de grande importância para ele em sua sala e que a pessoa sequer quis se identificar. Ao entrar, recebeu um empurrão improvisado da garota, que o pegou de surpresa, sendo seguido por Labella trancando a porta e jogando a chave por baixo da mesma. Ele tentou usar sua arma, mas havia a esquecido em cima da mesa do refeitório ao sair com pressa. Com medo do que viria a seguir, resolveu tentar agir naturalmente.

— Ora, ora. Quanto tempo, não é mesmo? -- perguntou ele -- Como está a minha herdeira?

Labella se aproximou, ficando próxima ao seu rosto.

— Furiosa. -- Ela encostou uma faca que havia encontrado por ali logo em direção ao coração dele.

Ele já havia a visto matar e ele tinha medo disso.

— Você injetou todas aquelas porras em mim e me fez ficar assim e ainda tem coragem de me chamar de herdeira?

— Você sabe, era pra te melhorar. Pra você ficar mais... letal. Quando percebi que estava te fazendo mal eu abri este lugar para testar os produtos neles e você poder ficar em paz. Eu sempre cuidei de você, minha querida. Tudo que fiz foi para o seu bem, você que está sendo uma garota má agora.

O silêncio se fez presente por um instante, interrompido por sons de luta e um grito alto que fez com que a porta fosse aberta abruptamente por Zaky e Victor, que chegaram a tempo de presenciar as últimas facadas que foram recebidas pela vítima, enquanto balas pararam o assassino para sempre.

O enterro de Labella e de seu assassino foi marcado por grandes coberturas jornalísticas de todo o país. A missão foi considerada um sucesso para a mídia que via na morte dos dois o final de todo aquele tempo de medo, mas para Mey, Zak e Victor, aquilo havia sido um desastre e todos foram afastado por três meses de seus cargos até que toda a situação fosse resolvida judicialmente. Os funcionários daquele lugar finalmente se viram livres de verdade, mas psicologicamente, nem eles ou os pacientes jamais iriam se recuperar. Os demais pacientes da mesma ala que Labella, foram em sua maioria, embora do estado e até do país para tentar recuperar a vida.

E o livro de Labella, bom, esse a Doutora Mey guardou em seu acervo de dados de pacientes após ele ser liberado pela perícia e de lá ele jamais havia saído, até agora.

Psicopata: DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora