Em Beadale, uma pequena faixa de planície entre as Montanhas do Leste e o Rio Frothy, resistia o pequeno e último vilarejo do povo grusko. A raça, devastada por uma guerra que sangrara sua terra há décadas, não exibia mais a pompa e a altivez dos seus dias de glória — agora, eles tinham fome. Suas plantações secaram e os animais sumiram do território. Mesmo as árvores não davam mais frutos, eternamente petrificadas de forma que até as folhas mal se moviam. Assim, sem nenhuma comida em sua terra, lhes restava buscá-la no lugar onde eram menos bem-vindos: o reino de Gorluin.
O povo grusko acreditava ser um castigo dos deuses que precisassem se esgueirar no território da raça que os havia destruído e amaldiçoado. Os lunos de Gorluin que viviam do outro lado próspero do rio, por sua vez, gostavam ainda menos da ideia. No entanto, a verdade era que os primeiros não tinham escolha: para sobreviver, precisavam caçar nas terras dos seus inimigos, e era exatamente isso que a jovem gruska Auri faria.
Auri evitara a partida tanto quanto pode, mas sua família não resistiria a mais uma semana comendo folhas e insetos das árvores. Com um suspiro cansado, ela levantou-se na madrugada e apanhou seu arco, suas flechas e sua adaga, espiando a mãe e as irmãs dormirem antes de ir. Tinha um longo caminho até o Rio Frothy, onde atravessaria para as terras inimigas, e ela pretendia chegar cedo a Gorluin e sair de lá ainda mais rapidamente.
Quando Auri já estava distante do vilarejo, o sol ainda surgia vagaroso de trás das Montanhas do Leste, escondido sob os cumes pontiagudos. A luz nascente iluminava o cabelo castanho e muito longo dela, mas mantinha nas sombras sua aparência típica dos gruskos: a pele acastanhada e quente, os traços delicadamente selvagens, o corpo pequeno e curvilíneo e, acima de tudo, seus olhos — as íris douradas que restavam como o único lembrete da riqueza que seu povo tivera um dia, antes de estarem arruinados.
Assim, não demorou para que Auri atravessasse a planície com os pés sofrendo nas botas desgastadas. Algumas árvores começaram a aparecer pelo caminho e rapidamente o leste do Bosque de Averlin surgiu. Daquele lado do Rio Frothy, ele se reduzia a um montante de árvores paradas e infrutíferas e Auri se entremeou nelas, não se preocupando em observar os arredores, pois nenhum animal ou fera vivia ali, somente insetos e ainda assim, não muitos.
Passando por troncos ásperos e escutando o barulho das folhas secas sendo amassadas embaixo dos seus pés, ela atravessou sua parte do Bosque. Já podia avistar o Rio Frothy de onde estava, parando atrás de uma árvore para examinar os entornos do outro lado. Ela esquadrinhou o local, mas mesmo com a visão especial dos gruskos, não via ninguém. Também não sentia o cheiro dos lunos por ali, a não ser pelo que já estava impregnado nas árvores, então saiu cuidadosamente do seu esconderijo e caminhou até a margem do rio.
Auri observou o curso d'água e a velocidade da correnteza, ponderando se deveria arriscar ir pela ponte onde podia ser pega por um luno ou se devia correr o risco de afogar-se ao atravessar nadando pelo rio. Ela sopesou cuidadosamente suas chances e então, com um suspirar profundo, armou o arco e flecha e começou a andar em direção à ponte.
O primeiro passo que ela deu na passagem de pedra fora incerto, mas já estava ali e não voltaria atrás; põe-se a andar mais rápido. O peito de Auri subia e descia ligeiro pela respiração descompassada. Quando ela finalmente atravessou a ponte e pôs os pés nas terras dos lunos, sua mão segurou com mais força o arco e flecha. Ela procurou rapidamente por um lugar onde pudesse se esconder dos inimigos e também das vítimas da sua caçada, achando um tronco de árvore robusto o suficiente para lhe encobrir. Auri se esgueirou para trás desse caule e preparando-se para caçar ou lutar, esperou até que sua comida aparecesse.
Ao contrário do cenário no outro lado do Rio Frothy, os animais não eram escassos no oeste do Bosque de Averlin. A fauna ali era rica e as árvores, frondosas e cheias de frutos. Era a honraria dos vencedores da guerra, Auri pensou. Não morreriam de fome, disparou em sua mente, mas logo obrigou-se a se concentrar no seu trabalho.
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O Caminho de Averlin
Fantasy🥈| Conto vencedor do 2º lugar do concurso Raças da Fantasia do perfil @WattpadFantasiaLP. Após a guerra que devastou seu povo, Auri, uma jovem da raça gruska, se vê obrigada a caçar nas terras dos seus piores inimigos: os lunos de Gorluin. Então, p...