Dia 13. Mês 1. Ano 2.

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A primeira irritação daquela noite já havia começado.

Os alertas perseguiam a todos os sonolentos e mal-banhados desde a nossa partida dos dormitórios. Clamavam, em uma repetição metódica e enfadonha: "Executores, é indicado a ingestão de pelo menos 112 mililitros de cafeína, a fim de permanecerem ativos no turno da madrugada. Período: 23:50 às 5:30".

Era metade do primeiro mês no novo ano, mas a efervescência de loucura, característica da última era, ainda preenchia cada milimétrico espaço do módulo. Parte desse colapso afetava dentro de mim a cada turno que concluía, e surgia uma vontade insistente de quebrar o vidro da vista espacial para me lançar lá fora.

Pelo menos haveria frio o bastante para dar conta deste calor estressante.

— Eles tão querendo é matar a gente, é? — comentou Layane num sussurro. Ela me acompanhava na minha pressa de um jeito irritante, seus braços balançando parte do tecido folgado do jaleco azul.

— O quê?? — indaguei bruscamente, virando a cabeça um instante para captar sua atenção. — Você acredita que eles dormem mais de cinco horas seguidas? Que nada! Os mais sortudos são os caras que estão esperando pela gente.

Um outro grupo de Executores, exibindo uma estranha expressão vivaz, passou à nossa frente, rindo entre si. Caminhei mais rápido, Layane ainda no meu encalço.

— Não seja tão escroto.

— Eles sim tem sorte — continuei, virando na dobra do corredor. Um faxineiro passava o esfregão próximo ao rodapé. Só conclui o pensamento quando senti a presença de Layane bem próxima de mim. — Você não faz ideia do que uma dose daquele alucinógeno faz, querida. Relaxam como bebês.

— Ah, sim, para logo depois serem fatiados feito carne de açougue... Vocês são tão baixos por usarem essa porcaria de substância.

— Nem vem! — Ergui a mão perto do ouvido. — Vai encher o saco de outro com essa merda. O seu servicinho é o mais simples aqui.

Layane me perfurou com o olhar áspero, comum dos últimos dias.

— Cala a boca, Julian. E eu nem estava me referindo ao nosso mal sono. Sabia que ainda é possível uma overdose de café?

— É óbvio que sei — respondi, rabugento. — Na verdade, não ligaria em morrer mais cedo. Você sabe. Agora... morrer tomando essa nojeira...

Olhei seriamente para ela, diminuindo gradativamente meus passos.

— Quem teve a horrível ideia de trazer esse troço pra cá? Essa pessoa é quem merecia ser torturada.

— Não era o seu pai que gostava de torrar uns grãos nas reuniões com os engenheiros?

— Isso não teve graça, Layane.

Ela desviou a cabeça e permaneceu em silêncio pelo resto do caminho. Melhor assim. Não estava numa das minhas melhores noites e aquela algazarra sem fim nos alto-falantes deixava tudo mais insuportável.

No refeitório, tivemos que esperar numa fila por quinze minutos. E o pior: quinze minutos em pé para pegar um café. Eu mirava aquelas lesmas disfarçadas de gente à minha frente com um ódio infernal.

— Anda aí, vocês! — gritei, chamando a atenção de alguns olhares medíocres. Acrescentei em sussurro: — Caralho.

Peguei o menor copinho disponível e derramei o líquido, em total contragosto. Odiava como a bebida, além de não ser nem um pouco degustativa, me deixava alerta demais nos momentos extra-expediente. Já virara regra do meu corpo dormir, nos melhores dias, por umas quatro horas.

Escala de DorOnde histórias criam vida. Descubra agora