Bixinho (Rabia)

(9) Love Lies

- BIANCA P.O.V –

Estava desde manhã sentada naquela sala com minha equipe e com uma das equipes da mantenedora das fábricas que produzem Boca Rosa Beauty. A discussão sobre embalagem e forma de produzi-las estava se alongando bastante.

- A Payot conta com uma rede de distribuições que cobre todo o território nacional, figurando em mais de 3000 pontos de venda de varejo, além de dispor de consultoras treinadas para atender e orientar o consumidor no ponto de venda. – A mulher de terno explicava.

Tinha um quadro no fundo da sala com dois gráficos, tinham usado aquilo para nos explicar sobre números de produtos vendidos e suas despesas, isso foi há mais de duas horas e mesmo assim eu sabia que tinha muito para acabar por ali, então apenas prestava atenção em tudo o que falavam, aliás parte de ser dona de uma empresa era ter que ouvir todos os lados para fazer o melhor com meu produto.

Desde que eu era menina eu sonhava com tudo isso, e é claro que é um pouquinho mais chato na prática porque quando eu era criança isso tudo era cheio de mágica, glitter e sorrisos. Hoje, nessa sala, eu vejo que não houve mágica, todos chegaram até aqui batalhando, não há glitter, e sim tons neutros como cinza, preto, branco e marrom, e ninguém aqui está sorrindo, todos sérios, como deve ser a vida adulta.

Trabalho e batalha, tons neutros e seriedade, essa é a vida adulta.

Ficamos no mínimo mais uma hora ali antes de combinarmos de fazer uma pausa pro almoço. Já eram 14:00 e ainda estava longe de acabar.

Eu, Miguel e Andreza fomos até um restaurante próximo, chegando lá umas garotas me reconheceram e vieram falar comigo. Fiquei uns minutos conversando com elas, eram bem gentis e pareciam gostar bastante de mim. Tirei foto com elas e nos despedimos. Ao sentarmos na mesa o assunto ainda era um pouco sobre trabalho, então eu quis dar uma aliviada ali.

- Olha só essa florzinha gente, que gracinha! – Digo olhando pra flor roxa que tinha no meio da mesa.

- Flor roxa, nasce no coração do trouxa. – Franzo meu cenho pra Andreza.

- É o que, mulher? – Digo rindo.

- É uma música eu acho. "O amor é uma flor roxa, que nasce no coração do trouxa" ... algo assim.

Rindo disso fizemos nossos pedidos para o garçom que os anotou e logo depois saiu.

- Falando em amor... em coração... – Miguel inicia.

- O que? – Pergunto confusa. – Tá se envolvendo com alguém? – Eu na verdade estava com medo dele me perguntar, então só atirei a pergunta. A melhor defesa é o ataque, já ouviram falar disso?

- Não... não sério na verdade, mas a B2 me apresentou um amigo dela da MTV bem bonitinho.

- Só bonitinho? – Andreza pergunta com os olhos cerrados, prendendo o riso.

- É... Quer dizer, ele é legal, nos poucos minutos que conversamos percebi que era um cara legal, mas eu confesso a beleza dele é o que mais chama atenção... alto, olhos verdes, cabelo castanho longo... – A partir daí me desconcentrei da conversa.

Me lembrei de Rafa e da nossa atual situação. Poucos dias tinham se passado desde o ocorrido e ainda não tínhamos conversado sobre isso. Na verdade, não tínhamos conversado sobre nada, e isso tava bem estranho já que não parávamos de nos falar por mensagens antes da festa.

Pego meu celular abrindo no aplicativo de conversas, desço a tela até a conversa com Rafa e vejo ainda estar na mesma, sem novidades por aqui. Suspiro lembrando do beijo, eu queria conversar com a mineira sobre isso, mas não sabia exatamente como chamar ela, não sabia se deveria chamar e sim esperar ela vir falar comigo, claro que com essa segunda opção existia a possibilidade de uma conversa nunca acontecer, já que eu nem sei se ela quer conversar. O que me deixava ansiosa pra essa conversa era que hora ou outra eu lembrava vividamente dos seus lábios sobre os meus, e isso sempre ficava um tempo na minha cabeça antes de eu conseguir esquecer de novo.