Único

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"Hyung."

A voz baixa e suave reverberou por todo o corpo de Yoongi, como se percorresse cada pedacinho de si.

"Abra os olhos."

Ah. Yoongi reconhecia aquela voz, reconhecia sim. Apesar de soar completamente diferente do normal, o tom carregado em malícia mesmo em uma frase tão pequena e simples alcançou seus ouvidos logo em seguida, arrepiando-o com uma onda quente de excitação. Por isso, fez conforme lhe foi ordenado.

O rosto alheio entrou em seu campo de visão, bem acima de si. Ele sorria com o canto dos lábios em sua direção, olhando-o fixa e atentamente nos olhos, como sempre fazia. Como se quisesse ler sua alma. Como sempre conseguia.

"Jimin-ah?" perguntou, um pouco confuso, ao mesmo tempo em que olhava ao seu redor. Estavam no dormitório, mais precisamente, deitados no beliche de Yoongi.

"Estou aqui" o outro respondeu, atraindo sua atenção mais uma vez.

O Min piscou e então sentiu; a pele quente roçou contra a sua diretamente e ele não se lembrou do exato momento no qual ficou nu. Sua mente quase entrou em combustão, falhando em tentar entender o que acontecia. Na verdade, ele já tinha uma certa noção.

"Não fique tão confuso, hyung" Jimin riu, encaixando-se no corpo delgado. Deslizou as mãos pela pele arrepiada, partindo dos ombros até os quadris, onde se fixaram. "Você está sonhando."

O quê? De novo?, pensou.

A realização daquilo o atingiu com força, e mesmo assim não conseguiu se sentir menos agitado. O sorriso maldoso que brincava pelos lábios carnudos do Park era mais do que suficiente para Yoongi entender o que viria a seguir.

"Você tem sonhado muito comigo ultimamente, não é mesmo?" Jimin perguntou, ondulando levemente o quadril contra o corpo magro abaixo de si.

O mais velho precisou respirar fundo ao sentir a movimentação alheia. A sensação prazerosa se apossava de seu corpo e parecia tão, mas tão real, que se não soubesse que estavam em um de seus sonhos, diria que tudo aquilo realmente estava acontecendo.

"É você..." disse com a voz rouca, como se precisasse se esforçar para conseguir projetá-la. "É você que invade meus sonhos, que brinca com a minha mente, que me submete assim..."

Jimin quase revirou os olhos ao ouvir todas aquelas palavras que o Min praticamente cuspia. Era nessas horas, que ele apenas se deixava levar pelos sonhos, certo de que não poderia escapar nem mesmo se quisesse.

Yoongi não sabia como, mas tinha certeza de que os sonhos eram coisa do Park. Seu colega de quarto há pouco mais de sete meses, o garoto mais novo era diferente de todos; em pouquíssimo tempo, Yoongi se viu encantado pelo jeito único, pela mente brilhante, pelo sorriso bonito e, principalmente, pela ingenuidade que o mesmo possuía. Em uma noite onde os dois bebiam sozinhos no dormitório, no aniversário cujo Jimin completava sua maioridade, ele fez a besteira de confessar que o achava atraente. O Park pareceu desconfortável com a informação, ficou quieto e sem jeito e, por isso, o mais velho somente riu e se desmentiu. E foi então que os sonhos começaram.

Os malditos sonhos eram sempre os mesmos.

Jimin o pedia para abrir os olhos e ele o fazia;

Jimin o tocava firme, com malícia;

Jimin sussurrava bem baixinho em seu ouvido...

"Hyung..."

Seu coração acelerava, sua pele queimava e suas mãos procuravam desesperadas pelo calor alheio. Real demais. Seu peito contraía e sua garganta secava sempre que sentia o corpo quente cobrir o seu com ânsia e desejo. Tão real.

"Entregue-se" a voz macia soava rente ao ouvido de Yoongi, os lábios raspando a cartilagem de sua orelha. "É só mais um sonho, hyung."

"Você não é o Jimin-ah" respondeu, arfando em seguida. "Não pode ser."

"Esse é o verdadeiro Jimin. E eu invado seus sonhos para que você possa conhecê-lo."

Era então, que Yoongi se permitia.

Ele se entregava àquele Jimin de seus sonhos, tão diferente do Jimin com quem convivia fora deles.

Mas naquele momento ele não pensava em nada; até porque, era apenas um sonho.

Quando os corpos se tornavam um só, Yoongi sentia, perfeitamente, cada pequena gota de suor que escorria por ambas as peles; sentia, perfeitamente, os corações batendo com força um contra o outro, como se conversassem; sentia, mais que perfeitamente, o quanto Jimin tentava — de forma desesperada, aliás — alcançá-lo com beijos que lhe tiravam o fôlego.

E quando os dois atingiam o ápice, juntos, toda a confusão parecia fazer sentido. Yoongi o abraçava com força e torcia para que não acordasse tão cedo.

"Hyung..."

"Hum" respondeu um tanto alheio, enquanto brincava com os dedos de Jimin entre os seus. Estavam deitados no beliche apertado e o mais novo o abraçava por trás.

"Acorde."

"O quê?" ele se virou em direção ao Park, mas ele já não estava mais ali. Sentiu frio de repente, junto do desespero crescente dentro do peito. Real!

"Abra os olhos."

Yoongi obedeceu a voz macia novamente e então o rosto do mais novo entrou em seu campo de visão embaçado devido a claridade do local.

"Pensei que não fosse acordar!" ele disse, sorrindo, enquanto olhava em seus olhos.

O Min piscou algumas vezes para se acostumar à luz e analisou cada traço de sua expressão, se questionando, como sempre, como todos aqueles sonhos podiam ser tão reais. Não era possível que fosse tudo criação de sua cabeça.

"Você está todo suado, hyung. E murmurava algumas coisas enquanto dormia..."

Riu baixinho em deboche ao ouvi-lo. Como se ele não soubesse. Os olhos escuros refletiam os seus e Yoongi sabia o que ele fazia.

"Com o que estava sonhando?" Jimin perguntou, curioso.

O mais velho ponderou durante alguns segundos. Após os malditos sonhos, Jimin normalmente lhe perguntava sobre o que eram, embora em todas as vezes Yoongi se recusasse a dizer. No entanto, agora sabia o que o Park queria. Não pensou duas vezes antes de responder:

"Você sabe."

O sorriso alheio se tornou malicioso e, o brilho nos olhos escuros, intenso.

Enfim, realidade.

"Eu sei."

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