O bicho,
quando quer fugir dos outros,
faz um buraco na terra.
O homem,
para fugir de si,
fez um buraco no céu.
Imperceptivelmente
Agora toda essa preocupação com o ano 2000! Só pode ser a velha mania ou supertição da conta redonda.
Se vocês estão bem lembrados, ao aproximar-se o Ano Mil já se pensava que era o FIM DO MUNDO. Assim mesmo, com todas as letras maiúsculas. Tanto que, para adiantar serviço, muitos se mataram antes. Como exemplo, eis um ponto em que hoje tosos estão concordes: o famoso século XIX só foi terminar em 1914. E parece que o danado só começou depois da batalha de Waterloo...
Pois não é que uma dessas entrevistadoras veio indagar de mim um dia destes se estáva-mos no fim de uma Era?!
Não sou nenhum Nostradamus, de modo que vaticinei -- menos obscuramente que este -- que nunca saberá, nunca se notará, nunca se verá o fim de coisa nenhuma.
E isto simplismente por que a vida é contínua. Não uma projeção imóvel de slides, mas um desenrolar de um fiçme em Câmara lenta.
E a transformação da face so mundo é, como a transformação da cara da gente, que muda tanto durante a vida -- mas que, dia a dia, de ontem para hoje, de hoje para amanhã, sempre nos parece a mesma cara no espelho:
Deixemos, pois, o Ano Dois Mil chegar imperceptivelmente como um ano qualquer.
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A Vaca e o hipogrifo (1977) - Mário Quintana
PoetryA Mary Weiss com afeto e admiração é dedicado este livro. Porto Alegre, Outubro de 77