Prólogo

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Eu nunca acreditei em elfos, nem em fadas; mas quando eu a vi, tudo isso parecia tão real! Seus cabelos ruivos até a cintura brilhavam como raios de sol, seu vestido azul de linho parecia ter sido feito por duendes e gnomos; sua boca carnuda e aparentemente tão macia me lembrava uma maçã suculenta, prestes a ser mordida. Minha alma se encheu de euforia ao vê-la. Ela colhia maçãs com movimentos tão suaves quanto uma bailarina, sua pele tão branca, e suas mãos tão delicadas... eu apenas fiquei em silêncio a observando. Enquanto eu estava atrás dos arbustos ela cantava uma canção que dizia:

"A formusura das flores você tem
Em você não há defeito algum
Vamos dançar entre as gramas do campo
E comer da nossa grande colheita
Você é o meu amor".

A sua voz me lembrava o canto dos canários da terra, tão suave e aguda... tão mansa e acolhedora.

- Ai! - Acabei espetando minha mão em um dos espinhos dos arbustos, acabando com a discrição.

- Quem está ai? - Ela olhou para trás assustada. Seu rosto era tão angelical!

- Desculpe-me senhorita, não queria assusta-la! - Eu falo saindo de trás dos arbustos.

- Mas assustou! Ainda bem que não era um ladrão... - Ela suspirou no final da frase

Isso me intrigou... o que um ladrão roubaria de uma camponesa? Mas prefiri não ser intrusivo e perguntar, já estava causando uma péssima primeira impressão.

- Por que você está vestido assim? Tão cheio de ouro e prata... você é da realeza? - ela continuou

- Eu diria que sim... mas todos odeiam o meu pai - pronto, agora ela vai me considerar um criminoso! Jeniel, você é um burro!

- Quem é o seu pai?

- Rei Galabriel... - Rei galabriel, todos odeiam o rei galabriel... por que você não mentiu? Bem, não mentiria para uma donzela; mas seria bem melhor!

- Ah, o que saqueou o reino e matou o seu antecessor? É bom que você fique bem longe de mim! - Ela fez um movimento defensivo com os braços.

- Calma, calma! Ele é meu pai, mas não sou como ele, não precisa ter medo de mim. - Jeniel, você é um burro!

- Me desculpe, mas eu tenho que ir. Não confio em ninguém que tem contato com aquele homem desprezível! -Ela seguiu o caminho de uma vila andando á passos largos, sem olhar para trás. Meu pai e a sua maldita fama!

Fiquei pensando por um momento se a veria novamente; já estava acostumado com o desprezo por conta das crueldades do meu pai, mas aquilo doeu mais do que esperava. Eu nem tive tempo de perguntar seu nome, muito menos em que aldeia mora; paixão mais rápida que a vida de uma mosca.

Voltei a seguir meu caminho, mas sem esquecer da moça dos cabelos de fogo. Lembrei o que tinha acontecido no castelo horas antes:

- Você não pode ordenar o que eu tenho que fazer! - gritei puxando os cabelos.

- Posso sim! EU SOU SEU PAI, EU MANDO EM VOCÊ! E você vai ser o próximo rei, querendo ou não! - Ele falou batendo com o punho na mesa de jantar

Minha mãe e os meus irmãos nos olhavam assustados.

- Eu não quero esse maldito reino! - Gritei

- Se você não quer ser o próximo rei, talvez não mereça ser meu filho! - Ele chegou bem perto e olhou em meus olhos com raiva.

- Galabriel, você não pode fazer isso... - Falou minha mãe chorando e tentando intervir

- À partir de hoje você não é mais meu filho, pode esquecer para sempre de mim! Estou farto dos seus caprichos, das suas oposições! Vá embora agora mesmo! - Ele segurou agressivamente em meu braço direito enquanto minha mãe chorava desesperadamente

Eu levantei da mesa de jantar sabendo que seria o último jantar familiar que eu iria comparecer.

- Se é desse jeito que o rei quer... (suspiro) - Fui até meu quarto pegar algumas coisas, logo após eu já estava montado em meu cavalo na direção das aldeias, sem saber o que fazer e só com a lua e as estrelas para iluminar meu caminho.

Minha barriga roncou me trazendo de volta ao momento atual; acho que vou entrar no mesmo vilarejo que aquela menina entrou, mas não posso entrar desse jeito, não posso chamar atenção... tenho que achar um jeito de levar meus ornamentos para vender depois. Eu fiquei pensando e repensando, até que vi uma solução: vou enterrar as coisas por aqui; pode ser perigoso, mas é melhor do que perceberem que sou da realeza e me matarem (ainda mais se aquela criatura angelical espalhou). Achei uma árvore oca por dentro e coloquei as coisas lá, logo depois coloquei bastante terra por dentro.

- Pronto! - isso tudo me assustava e as coisas podiam dar errado, mas era minha única alternativa. Tenho que começar uma vida pobre, mas nova e sem ordenanças pertinentes.

Quase rei [Em andamento]Onde histórias criam vida. Descubra agora