Contos de criaturas desesperadas.

Conto 1- Vermelho

         Aquelas crianças, tão doces e inocentes crianças, sempre visitando uma certa casa no meio da estrada, uma casa velha, ninguém sabe quem morou nela ou se alguém morou. Algumas pessoas diziam que era endiabrada ou assombrada, enquanto outros eram mais céticos e diziam que ela era apenas assustadora por conta de ser antiga, e não tinha nada de mais. Apesar disso, as crianças sempre iam passar o tempo, sempre as mesmas.

        Certo dia as crianças foram na casa novamente e acharam uma entrada escondida para a parte de cima da casa, parecia que ninguém ia ali a pelo menos 75 anos, mas nessa parte de cima só havia uma porta que estava trancada. Uma das crianças, teoricamente a mais corajosa, olhou pela fechadura da maçaneta, mas ele só viu vermelho, um vermelho sangue, e que por algum motivo dava um frio na barriga, a criança desapontada e ingenua, achou que era apenas um pano ou uma toalha cobrindo a fechadura.

        -Não tem nada aqui - ela disse depois de olhar a fechadura.

        A criança não dormiu bem na noite seguinte, sentia-se observado, olhava em volta do seu quarto escuro e não via nada, ligou a luz e ainda nada, apenas sentia aquele medo, um medo irracional, afinal não fazia sentido. Sem conseguir pegar no sono, esperou pela manhã e foi sozinha para a casa da estrada, por que mesmo sem saber se era só uma sensação ou não, sentiu que precisava ir para lá, e também sentiu outra coisa quando entrou na casa, uma coisa que nunca tinha sentido tão forte antes, uma energia pesada saindo de dentro da casa, e a única coisa que a criança teve certeza era que ela iria morrer, de que ela nunca iria sair viva daquela casa, mas mesmo assim, ela entrou... que estúpida.

       A criança subiu para o quarto que tinha visto o tal pano vermelho, e quanto mais subia as escadas mais observado se sentia. Os primeiros cinco degraus ele sentiu a mesma sensação que sentiu a noite toda, nos próximos quatro degraus sentiu que havia alguém atrás dela, mesmo não havendo ninguém ali, pelo menos ninguém vivo, até o final da escada era como se a morte estivesse encarando ela, apesar de não ver ninguém. Quando chegou na frente do quarto tinha uma coisa diferente, a porta estava aberta, completamente escancarada, mas no quarto não tinha nenhum pano vermelho, nem toalha e nem nada, a única que havia no quarto era um grande espelho. Tentou ver se tinha mais alguma coisa, mas de fato só havia o espelho. Quando estava indo em direção a porta para ir embora, a mesma se fechou e o quarto começou a tremer, tremer muito, como se fosse um terremoto, só que apenas no quarto. 

         A criança, incrédula do que estava acontecendo, olhou para o espelho, e dentro do espelho estava uma criatura que parecia humanoide, completamente negra, alta, magra e esguia está em pé, acenando. A criatura, lentamente bota sua mão, com dedos bizarramente longos, para fora do espelho, e ela saí e vai em direção a criança, que estava paralisada pelo medo, mas conseguiu prestar atenção nos detalhes da criatura. Nos dedos longos que na verdade eram garras, na sua boca enorme, com dentes grande, afiados e com sangue, e é claro, o que era impossível de ignorar, os grandes olhos penetrantes, hipnotizadores... e vermelhos.

           A sala para de tremer e a criatura encosta sua mão enorme no rosto da pequena criança, que já tinha lagrimas causadas pelo terror, a criança fecha os olhos e espera pela sua morte, mas nada acontece, quando finalmente toma coragem e abre seus olhos, não tem nada no quarto, apenas o espelho, que agora estava quebrado, completamente despedaçado no chão. A criança corre para a sua casa e fica paranoica, não saindo do seu quarto para nada. A noite chega e a criança demora pelo menos duas horas e meia para dormir, mas antes do primeiro raio de sol, a criança acorda, mas não abre os olhos, apenas se sente observado novamente, só que dessa vez uma coisa diferente, ela sente uma respiração pesada vindo de cima dela, e mesmo sem coragem para abrir os olhos, ela abre, ou melhor, ela sente dois dedos longos abrindo seus olhos, e a única coisa que ela vê são dois olhos vermelhos, e essa foi a última coisa que ela viu, a criatura arrancou os olhos da criança e a prendeu em um espelho, tendo que achar outra pessoa para carregar o fardo.

          Mas e você? Já se olhou no espelho hoje?