A primeira semana daquele mês de dezembro tinha sido uma das mais frenéticas da minha vida, por causa, é claro, do último GP do ano. O campeonato fora decidido apenas nas últimas voltas, com uma ultrapassagem espetacular de Charles sobre Lewis Hamilton, que garantiu a sua vitória na corrida e o consagrou campeão mundial pela primeira vez na carreira. Tudo que seguiu esse momento foi uma explosão vertiginosa de acontecimentos que pareciam se passar em câmera lenta, ao mesmo tempo que se eu piscasse por um segundo a mais eu poderia perder alguma coisa. A emoção da entrega dos troféus era contagiante, e fazia uma eletricidade gostosa percorrer todo o meu corpo enquanto eu assistia Charles receber seu prêmio e repetir o gesto de vitória para a câmera, exatamente como fizera algumas semanas atrás, quando tínhamos nos reencontrado. Uma energia de prazer e euforia emanava dele desde o pódio até o momento da entrevista coletiva logo em seguida, onde Charles respondeu com satisfação a todas as perguntas que foram feitas, sem conseguir tirar o enorme sorriso do rosto e o brilho dos olhos.
Devo confessar que eu mesma estava extasiada demais com tudo aquilo, e não consegui me concentrar para fazer a pergunta que eu tinha preparado. Mas a animação quase histérica dos outros jornalistas era tanta que deixamos a sala de imprensa depois de horas de entrevista, com a noite já caindo lá fora e, no fim, eu acabei conseguindo declarações excelentes de Charles, do seu engenheiro e do chefe da Ferrari para escrever a minha matéria daquela semana. Não consegui mais falar com Charles naquele e nem nos dias que se seguiram, mas também nem me esforcei muito. Queria deixá-lo curtir aquele momento tão especial sem que a interferência dos nossos problemas pessoais o atrapalhasse. Mesmo porque, ele tinha de fato prometido me ligar depois que a temporada chegasse ao fim. Não que eu estivesse prestando muita atenção nisso.
Fiquei repassando na cabeça todos aqueles acontecimentos dos últimos dias durante as minhas muitas horas de voo de Abu Dhabi até Nice, na França, onde eu iria encontrar minha irmã para duas semanas de férias mais do que merecidas, antes de voltarmos à Califórnia para passarmos o Natal com os nossos pais. Nesse tempo todo, eu tentava me convencer de que não estava ansiosa para receber a ligação de Charles, mas a verdade era que, a cada vibração do meu celular, o meu coração dava um mini salto duplo carpado dentro do peito. Eu revirava os olhos logo em seguida, me sentindo uma adolescente de quinze anos, mas também não conseguia ignorar a inquietação crescente dentro de mim. Ao mesmo tempo que eu me empolgava com a possibilidade de estar com Charles novamente, o monstro da tristeza ainda espreitava o meu coração e me deixava com medo de que pudéssemos acabar retornando ao caos dos últimos meses do nosso namoro.
Milhares de pensamentos rodopiavam pela minha cabeça e me deixavam tonta enquanto eu descia do avião pela última vez, pelo menos pelas próximas duas semanas, me sentindo exausta tanto física quanto mentalmente, e me fazendo desabar nos braços de Valentina quando a encontrei no aeroporto de Nice.
– Tina, finalmente! – suspirei quando nos abraçamos, e parecia que meu corpo todo pesava uma tonelada.
Quando nos separamos e Tina olhou para mim de verdade depois de tantos meses, eu só podia imaginar o estado da minha aparência para que a primeira coisa que ela dissesse fosse:
– Você está mesmo precisando de umas férias!
Dei risada, sentindo os ombros cederem um pouco mais.– Irmã, você não tem ideia do quanto – suspirei, e passei um braço pelos seus ombros para que caminhássemos juntas para fora do aeroporto.
– Que loucura essas últimas semanas, hein? – Tina comentou, e eu acenei preguiçosamente com a cabeça numa confirmação. – Quero saber de todos os detalhes.
– Nossa... – suspirei. – Não sei nem por onde começar.
Relembrei mais uma vez os acontecimentos das semanas que se passaram enquanto relatava tudo para a minha irmã, desde o meu reencontro com Charles no Texas até o momento da sua vitória no campeonato alguns dias atrás. Realmente não deixei nenhum detalhe de fora, e já estávamos no nosso quarto de hotel quando eu enfim revelei sobre a conversa que tivera com ele no bar em Austin, onde tinha concordado que ele me ligasse para conversarmos. Eu esperava que Tina reagisse àquilo com choque ou irritação mas, como sempre, minha irmã mais nova me surpreendeu com uma postura totalmente madura. Muito mais do que a que eu estava tendo em relação à aquilo tudo.
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𝒑𝒆𝒂𝒄𝒆 || ᴄʜᴀʀʟᴇs ʟᴇᴄʟᴇʀᴄ
Любовные романы𝑰'𝒅 𝒈𝒊𝒗𝒆 𝒚𝒐𝒖 𝒎𝒚 𝒔𝒖𝒏𝒔𝒉𝒊𝒏𝒆, 𝒈𝒊𝒗𝒆 𝒚𝒐𝒖 𝒎𝒚 𝒃𝒆𝒔𝒕 𝒃𝒖𝒕 𝒕𝒉𝒆 𝒓𝒂𝒊𝒏 𝒊𝒔 𝒂𝒍𝒘𝒂𝒚𝒔 𝒈𝒐𝒏𝒏𝒂 𝒄𝒐𝒎𝒆 𝒊𝒇 𝒚𝒐𝒖'𝒓𝒆 𝒔𝒕𝒂𝒏𝒅𝒊𝒏𝒈 𝒘𝒊𝒕𝒉 𝒎𝒆 𝒃𝒖𝒕 𝑰'𝒎 𝒂 𝒇𝒊𝒓𝒆 𝒂𝒏𝒅 𝑰'𝒍𝒍 𝒌𝒆𝒆𝒑 𝒚𝒐𝒖𝒓 𝒃𝒓𝒊�...