Prólogo

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Querido diário,

Ele beijou meus lábios e me salvou, vi a chuva cair enquanto tocava seu rosto, eu senti algo morrer dentro de mim porque eu sabia que era a última vez. Minhas mãos eram fortes, mas meus joelhos eram muito fracos para estar nos braços dele sem cair aos seus pés e isso é tudo que eu lembro. Agora eu não sei que dia é hoje, eu não sei que horas são, aliás... Eu não sei nem quem eu sou. Talvez eu devesse te ler desde o começo para lembrar. Mas será que eu quero lembrar? Lembrar-me de como era ser feliz, de como era amar e ser amada? Porque felicidade é isso, não é?  Amar e ser amado? Eu tive isso, em tempos, e parece que foi a tanto tempo que eu não sou capaz de trazer de volta essa memória perdida. A sensação de fazer parte de algo já não me pertence mais. Agora eu estou sozinha. Em uma escala de dor? Não existe escala de dor que avalie a forma que você se sente quando perde alguém. Ninguém sente do mesmo jeito. Ninguém sabe o que você está sentindo porque ninguém é você. Eu o dei o espaço que ele queria. Eu mantive minha distância, assim ele poderia ser livre, ele brincou com meu coração enquanto ele estava em suas mãos e então eu o perdi. Quando você perde alguém essa pessoa vai levando pedacinhos e pedacinhos de você, no meu caso ele foi tirando pedaço por pedaço e me destruindo aos poucos, então ele levou meu próprio coração. Eu acho que nos podíamos ter tido tudo se nosso amor fosse maior que tudo isso, se ele preferisse o amor à guerra. Mas agora não sobrou nada. Eu sou apenas uma sombra do que fui, eu não sou nada, porque nada sobrou para contar história. História? Que história? Hoje foi o dia em que eu percebi que o pior não foi perdê-lo, foi perder a mim mesma. E foi o dia que eu morri e que eu nasci. Mas quem veio não fui eu. Foi ela. Tenho a sensação de que vou me visitar em casa e não vou estar lá.

— Violet Drewly, última entrada em seu diário.

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