sexta-feira, 05:12, outono.
Jimin tinha uma rotina muito bem estabelecida. De segunda à sexta, suas manhãs eram ocupadas por aulas no centro da Vila, e, durante a tarde, ele corria para ajudar seu pai com as ovelhas. Com seus dias agitados, quase não sobrava muito tempo para si, mas de vez em quando, Jimin se permitia ir ao lago perto de sua casa, para tomar um banho e relaxar, sob luz da lua e as estrelas. Depois, ele se sentava na grama e lia um livro qualquer que achara escondido na biblioteca.
Gostava de imaginar como seria conhecer outros lugares. O mundo era tão grande, e a Vila em que morava, não era nem ⅓ dele...
Aquela manhã não foi diferente. Ele acordou com o miado de Milk, provavelmente porque estava com fome. Estremeceu ao levantar da cama. Quando seus pés tocaram a madeira gelada, Jimin se arrepiou. Outono era sempre tão frio e seco, fazendo contraste com a primavera, em que tudo florescia, as casas se tornavam bonitas em meio a tanto verde e cores.
Jimin sempre achou o lugar onde morava bonito. Apesar de pequeno, era confortável de olhar o padrão de casas no centro da Vila, todas de madeiras, com lindos jardins na frente e lateral, que se misturava com a grama que preenchia toda cidade. O chão em que andavam era preenchido por pedrinhas que, vez ou outra, era possível ver a grama crescer mais forte por entre as frestas.
Era tudo tão aberto e seguro. As pessoas se conheciam e interagiam entre si. Até mesmo quando Jimin andava pela Vila, ele as cumprimentavam, sorrindo e acenando. Crianças corriam e subiam em árvores, não se preocupavam com mais nada a não ser diversão, muito pequenas e inocentes para entender como era difícil ser adulto.
Mas o que poderia ser uma bênção, às vezes, também era uma maldição. Nada acontecia sem que os outros soubessem. Jimin se lembrava de quando aprontava na feira da Vila, correndo por entre as estandes, e seu pai, no fim do dia, estava pronto para uma conversa séria.
Ou como todos sabiam sobre a família de Taehyung, de como eram ricos em dinheiro e pobres em amor. Ou sobre Hoseok, o garoto que cresceu sem ninguém e que morava com Seokjin e Namjoon... o relacionamento deles sendo uma incógnita para o povo da Vila. As pessoas também comentavam sobre sua mãe, sobre como a curiosidade poderia levar alguém a morrer.
Se ela ao menos tivesse nos escutado e não entrado na floresta, talvez ela tivesse visto Jimin crescer.
Pobre garoto, cresceu sem mãe porque ela era uma desnaturada.
Sempre soube que era uma rebelde. Passava o tempo todo lendo livros esquisitos e se isolando do restante do povo.
Eram o que diziam em suas costas. E Jimin, mesmo sem crescer com a presença constante dela, sentia que a conhecia mais do que qualquer outra pessoa.
Era difícil acordar quando o clima não estava a seu favor. Caminhou até a janela, abrindo a cortina para deixar o vento entrar e arejar seu quarto. Os pêlos do braço se arrepiaram com o vento, mas ignorou. Sentia uma vontade enorme de rastejar para debaixo dos lençóis e ficar ali, tomando um chá e lendo, porém, precisava se arrumar.
Primeiro, colocou ração para Milk. Depois foi fazer o que fazia todos os dias pela manhã. Quase pronto para a aula, Jimin passou em frente a lareira, notando o fogo quase apagado, adicionando uma nota mental para se lembrar de pegar um pouco de madeira com Jungkook. Fez um chá para si, aproveitando o resto do calor que a pequena casa exalava. Seu pai já deveria estar pastoreando as ovelhas a essa hora e, se Jimin demorasse um pouco mais, acabaria se atrasando.
Para ser sincero, Jimin gostava um pouco dessa rotina e da segurança que havia em fazer as mesmas coisas todos os dias. Mas pensava se talvez aquilo fosse algo que ele só se acostumou porque não havia outras opções e não tinha para onde ir. Sua vida tinha uma linha traçada desde seu nascimento até sua morte, e Jimin sabia que, no final, morreria no mesmo lugar, fazendo sempre as mesmas coisas.
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Your soul is mine
FantasíaDentre as várias regras que existia onde morava, uma era considerada a mais importante. Ninguém, nunca, em hipótese alguma deveria ultrapassar o limite da aldeia, floresta a dentro. Além da punição ser severa para os que fazem, não era costume que e...