Capítulo 1 - Encontrando o inesperado

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Jilly procurava ovos no meio do gramado, ansiosa para coletar mais que todas as outras crianças do parque. O dia resplandecia de frescor e luz com os raios intensos do sol, tornando o clima agradável. Ninguém gostava do calor que fazia pelas tardes, mas a manhã se tornava encantadora devido o cantar dos passarinhos e o nascer das flores típico da primavera. Além disso, o feriado no dia anterior ao final de semana trazia inúmeras possibilidades de atividades, tanto para adultos quanto para as crianças.

O espaço era grande o bastante para uma caça aos ovos, e continha várias plantas que Jilly achava interessantes. Também era possível achar borboletas e alguns besouros entre as plantas, o que assustaria alguém que porventura não gosta de insetos. Uma brisa soprou chamando a atenção de Jilly para dois arbustos que se encontravam antes de algumas árvores, na beira do parque. Ela correu para ali, na esperança de encontrar ovos escondidos, mais afastada do barulho e da correria das outras crianças que ziguezagueavam sem parar.

Atravessar os arbustos verdes foi fácil; com um simples pulo, Jilly estava do outro lado, e foi lá que se deparou com a cena mais aterrorizante de sua vida. Ao lado de uma árvore, deitado sob a sombra pálida dos galhos, um leão estava estendido na grama. Sua cabeça erguia-se pelo horizonte como se conseguisse observar o lugar, e seus olhos fixaram-se expressivamente na menina.

Jilly ficou paralisada com a imagem, tão bela e majestosa, e ao mesmo tempo tão amedrontadora. Ela sentiu vontade de correr, mas não conseguia mexer as pernas, paralisada de medo. Sentiu um arrepio quando o animal virou a cabeça de lado, sacudindo de leve a juba, para novamente encará-la bem nos olhos. Jilly abriu a boca para gritar, mas não saiu nenhum som. Era como se todo o ar houvesse sido tirado à sua volta.

O Leão abriu a boca, e de sua garganta saiu uma voz potente e doce ao mesmo tempo.

— O que está procurando? — perguntou.

Jilly suspirou de admiração, ainda assustada, mas sem o ímpeto de sair dali e fugir. Será que ele pertencia a alguma atração no parque, alguma brincadeira tipo aqueles leões de circo? Será que havia algum instrumento mecânico que o fazia falar? Jilly não sabia qual era a verdade sobre ele, porque é óbvio que os leões de verdade não sabem falar. Mas por alguma razão, ela sentiu vontade e achou que deveria responder.

— Eu... estava procurando ovos — explicou numa voz baixa e trêmula, mas com a certeza de que aquele não podia ser uma fera de verdade para atacá-la. – por causa da Páscoa.

O Leão levantou-se e pareceu bem maior do que qualquer outro que Jilly já tivesse visto, tanto na televisão quanto no zoológico. Para uma menina de dez anos, ele deveria ser mais ou menos da sua altura somente no comprimento das patas. Ele se virou em direção às árvores, mas dirigiu o olhar para ela.

— De onde vim e para onde vou não existem ovos pintados e coloridos, mas posso lhe contar sobre o surgimento da história da Páscoa, e seu real significado. Se tiver coragem de vir comigo e interesse em me acompanhar.

Jilly estava admirada e perplexa consigo mesma. Mas não estava mais apavorada como antes. Afinal, leões selvagens não falam, e ela sentia que aquele era diferente. De tudo o que ela já viu. Sabia disso. O mundo parece ter ficado pequeno, porque nada mais lhe tirava atenção da figura potente e polida à sua frente. Nenhum som, nenhum pássaro, nenhum pensamento.

— Fez sua escolha? Estou prestes a ir embora.

O Leão avisou antes de adentrar nas árvores, seguido logo por Jilly, que assustou-se com a repentina ideia de que poderia perdê-lo de vista. A menos de cinco minutos ela queria correr para longe. Agora sentia uma vontade inexplicável de acompanhá-lo. Se precipitou por entre as árvores, deixando a cesta de palha que carregava para trás.

Um conto sobre a PáscoaOnde histórias criam vida. Descubra agora