Azul

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Todas as histórias têm um começo e um fim, algumas se desenrolam por entre os grandes prédios das grandes cidades outras em florestas frias e escuras, mais essa vai começar em um lugar de certa forma comum, porém ainda assim único.

Santa Arboleda era uma pequena cidade escondida entre as montanhas, cercada por dezenas de quilómetros de florestas e fazendas, um lugar remoto sem dúvidas tendo apenas uma única estrada que sai da cidade, porém bem desenvolvida.

Essa cidade assim como no lema de sua placa de boas-vindas, nasceu de um sonho, de um lugar para a onde os estranhos e esquisitos podiam ir, um lugar para pessoas diferentes.

Apesar das lojas e da fábrica a maior parte da receita vinha de fora, como disse essa era uma cidade criada por desajustados, desajustados com dinheiro, o único colégio da cidade era mantido com as gordas doações dos ex-alunos que apesar de terem partido ainda nutriam um carinho por esse lugar muitas vezes voltando com seus filhos nas férias ou firmando residência.

Elisabeth estava na varanda de sua nova casa desenhando a floresta que ficava ao fundo quando um forte vento fez uma das mechas do seu cabelo cacheado cair sobre o seu rosto, eles estavam particularmente desgrenhados hoje devido ao fato dela estar sem ânimo para penteá-los.

Desenhar era algo que ela fazia quando estava ansiosa ou precisava relaxar, apesar de muitas pessoas dizerem que ela tinha talento para isso raramente ficava satisfeita com os seus rabiscos.

A sua mãe tinha ido embora ontem à noite, com John então ela estava completamente só em sua casa nova, se dependesse de sua mãe ela estaria morando na fazenda com eles e estudando em casa, mas isso não era algo que ela queria, precisava de espaço e sua mãe sabia disso.

John a apoiou na ideia de vir para Santa Arboleda, principalmente porque ele tinha uma casa na cidade, a fazenda ficava a uma hora e alguns minutos de carro então não era como se ela estivesse do outro lado do mundo o que ajudou a convencer a sua mãe.

Em sua distração com o desenho ela não percebeu que começava a cair uma garoa fina, até que uma gota de chuva caiu sob o papel manchando um pouco o desenho, era hora de voltar para dentro de casa.

A casa tinha dois pavimentos no primeiro ficava a cozinha que dava para a varanda de frente para a floresta junto com uma confortável sala de estar já o segundo tinha dois quartos espaçosos ambos com o seu próprio banheiro, para ela parecia desperdício dois quartos desse tamanho, ela pensou em transformar um em um ateliê para suas pinturas e desenhos, mais achou melhor deixar livre para quando sua mãe fizesse uma visita.

Quando passou pela porta de vidro da varanda fechou-a para garantir que nenhum animal entrasse, apesar de que John havia lhe garantido que o animal mais perigoso que encontraria seria um gambá.

A casa era trabalhada em madeira de boa qualidade, pois apesar de fechada há alguns anos não havia sinal de cupins ou insetos do gênero, a pia da cozinha assim como a do banheiro havia sido trocada, por uma feita de mármore negro, aquele estilo de decoração com certeza tinha sido escolha de Francisca, ela não pode deixar de sorrir ao lembrar da arquiteta com quem passara alguns dias e que compartilhava de seu amor pelo desenho.

Ela resolveu fazer um café e assistir um filme, ao invés de terminar o desenho, a sua mão estava cansada de tanto desenhar, quando começava a desenhar raramente conseguia parar, passava horas concentrada nessa tarefa prazerosa e quando se dava conta estava com a mão dolorida e já se passava em muito da hora de parar.

Elisabeth gostava de café preto bem forte, o que era algo estranho se consideramos que ela sempre gostou de bebidas mais suaves como chás.

A televisão estava com problema de sinal, por isso resolveu assistir algo em seu notebook, ela escolheu um filme que já tinha baixado há algum tempo, um romance com uma trama simples e clichê.

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