𝐒𝐎𝐔𝐋𝐌𝐀𝐓𝐄

𝐈

O som estridente do fechar de uma porta ecoou por todo a quarto fazendo com que eu levantasse o meu corpo deixando-me completamente desperta.

- Charles. - Proferi num tom não muito alto abanando o seu corpo levemente, a ultima coisa que queria neste momento era o mau humor do meu namorado. Sem qualquer resposta da parte dele acabei por bufar e peguei nos cobertores puxando-os para trás na esperança de encontrar o meu telemóvel. Precisava de saber que horas eram e naquele momento parecia não existir nenhum relógio perto. Andei até à janela e espreitei pela mesma, o verão estava a chegar ao fim e isso já era notório. O tempo que frequentei os escuteiros não foi suficiente para aprender a ver as horas pelo sol mas foi suficiente para saber que o final da tarde de hoje já ia ser mais fresco.

- Volta para a cama. - O meu olhar voltou-se agora para o ser que se encontrava com o rosto enterrado na almofada.

- Primeiro preciso de saber que horas são.

Aproximei-me novamente da cama e empurrei o seu corpo de modo a tentar encontrar o meu telemóvel pela milésima vez. A única resposta que obtive foram grunhidos de aborrecimento mas ao fim de alguns segundos consegui encontrá-lo e foi nesse momento que o pânico se instalou.

Tinha 5 chamadas não atendidas do Travis, irmão da Trix. O bolo, merda. Comecei a procurar todos os meus pertences e a jogá-los para dentro da mala.

- Onde vais?

- Tenho de ir buscar o bolo da Trix e ajudar o Travis a preparar a festa.

- Tu sabes que ele consegue dar conta do recado...é o Travis. - As suas mãos cercaram a minha cintura e puxaram-me para ele, a mala que outrora estava na minha mão agora encontrava-se novamente no chão. - Podíamos aproveitar. - Os seus lábios aproximaram-se dos meus e eu beijei-os suavemente afastando-me depois.

- Eu prometi e sabes que não gosto de quebrar as minhas promessas.

- Só falhas com as tuas promessas quando se trata de mim. - Deixou o seu corpo tombar para trás acabou por me largar e desviou o seu olhar do meu.

- Estás a falar de quê? - Levei a minha mão ao seu rosto para fazer com que ele olhasse para mim.

- É tão importante para ti que tu nem te lembras. - Bufou diretamente para mim e afastou o meu corpo do seu e levantou-se.

- Vais dizer-me ou é suposto eu adivinhar? - A verdade é que por muito que eu puxasse pela cabeça não conseguia perceber do que se tratava.

- A Trix chama e lá vais tu e agora até o Travis é mais importante do que eu.

- Charles, menos. Tu sabes muito bem que isso não é verdade, de todo. Quantas vezes és tu quem chama e eu venho logo a correr?

- Ok, vou reformular. Eles pedem e tu fazes.

- Charles. - Suspirei depois da sua resposta já a imaginar onde é que a conversa iria dar. - O que é que tu me pediste e eu não fiz?

- Já só temos uma semana para aproveitar juntos e depois disso vou para a universidade.

- Acho que estás a ser um bocadinho dramático, a tua universidade fica a 20 minutos da minha casa por isso tempo não nos vai faltar. - Aproximei-me novamente do seu corpo e rodeei o seu pescoço com os meus braços. - Temos imenso tempo.

- Porque é que nunca mais dormiste comigo?

- Eu acabei de passar a noite contigo, Charles. O que é que se passa?

- Não estou a falar de dormir...Já se passou um mês Maia.

- Eu não acredito nisto - suspirei pesadamente e afastei-me pegando novamente na minha mala. - Eu pedi-te para teres um bocado de paciência e de calma, custa assim tanto?

- Mais paciência? Já se passou um mês e não consigo perceber, se já o fizemos uma vez porque não repetir?

- Porque eu não quero, não me sinto preparada e já te disse isso. - Procurava pelas minhas chaves do carro que não se faziam encontrar em lugar algum.

- Então eu também não estou preparado para continuar com isto.

- Isto? - Foquei o meu olhar no dele confusa e pude ver um leve sorriso no seu rosto. - És inacreditável.

- Já era para ter falado sobre isto antes mas neste momento estar contigo atrasa-me indiretamente. Sou o único com namorada e já me disseram que há imensas praxes e jogos para os caloiros e que o melhor é ir solteiro. - Deu três passos largos de modo a chegar perto de mim.

- Isto tudo por sexo, eu não acredito. Tu és inacreditável. - Empurrei o seu corpo com toda a força que consegui ter no momento e prendi qualquer lágrima que ameaçasse cair, não lhe ia dar a satisfação de me ver mal. - Espero que te divirtas em todos os jogos e em todas as praxes. - Caminhei até à porta do seu quarto e sai do mesmo batendo com a porta e no mesmo momento todas as lágrimas que outrora foram presas escorriam agora pelo meu rosto. Abri a minha mala e procurei pelas chaves do meu carro e assim as encontrei.

- Sim, está tudo bem. Eu vou agora buscar o bolo, depois tenho só de ir a casa arranjar-me e vou para ai. - Proferi para o meu telemóvel e assim foi enviada a mensagem de audio para o Travis de modo a deixa-lo mais tranquilo.

Limpei o meu rosto e olhei para o mesmo no espelho retrovisor, tentei limpar qualquer resto de maquilhagem da noite passada e prendi o meu cabelo num rabo de cavalo. Segui então caminho na esperança de chegar o mais rápido possível à pastelaria da minha avó. O som do meu telemóvel ecoou pelo carro, peguei no mesmo para ver o que Francis me teria respondido mas deparei-me com uma mensagem do Charles a avisar-me de que tinha deixado a minha carteira em sua casa e mesmo antes de acabar de ler a mensagem oiço um estrondo e sinto o meu carro a parar devido a embater em algo. Foda-se, era só o que me faltava.

- Merda, merda, merda! - Bati com a minha mão no volante e logo em seguida com a cabeça deixando-a deitada em cima do mesmo e nem me esforcei em prender as lágrimas. Deixei-me apenas estar assim na esperança de que o carro da frente não tivesse sentido nada e se fosse embora.