Capítulo Único

49 4 3
                                    

Eram dezoito horas da tarde, e tudo o que Flávio Gottardi queria era poder esquecer que aquele dia tinha existido. O advogado, de 32 anos de idade, estava no fórum municipal, juntamente com seu sócio. Caminhavam em direção à saída, e pararam na recepção para conversarem um pouco.

Apesar de jovem, Flávio era um renomado advogado, conhecido por toda a cidade. Acostumado com o sucesso, sempre ganhava suas causas. No entanto, naquele dia havia sido diferente.

— Mas que despropósito, Valter! — resmungou Flávio, para o seu colega de trabalho. — Imagine o que podem pensar ao meu respeito!

— Ah, Flávio, fique tranquilo. — Valter pareceu não ter se abalado tanto com a derrota. — Não se pode ganhar todas.

— Eu não me conformo. Amanhã, todos nós do escritório, vamos trabalhar numa forma de recorrer dessa decisão. Ainda podemos reverter a situação.

Valter, de início, pareceu acatar a ideia do sócio. Mas, se lembrou de algo importante:

— Amanhã será Sexta-feira Santa, Flávio. Feriado nacional. Toda a nossa equipe estará de folga.

— Que ódio! Esse feriado religioso veio em péssima hora.

Flávio, momentaneamente, se arrependeu de suas palavras. Tinha se esquecido de que seu sócio era católico. No entanto, ele não demonstrou ter ficado ofendido com aquilo.

— Nós precisamos de descanso, Flávio — disse Valter, tranquilamente. — E você também precisa. Não podemos ordenar que nossa equipe trabalhe amanhã. É até bom que segunda-feira a gente recomece, nossas ideias poderão estar melhores...

— Chega! — cortou Flávio, impaciente. — Já entendi. Não haverá expediente amanhã.

— Tudo bem. — Valter pareceu mais aliviado. — Nos veremos na segunda-feira.

Após se despedir do amigo, Valter partiu em direção ao estacionamento. Flávio, por sua vez, parou junto a um bebedouro para saciar a sede. Após beber água, encostou sua cabeça na parede e começou a imaginar quão insuportável estava sendo sua vida: causas perdidas, problemas familiares... E ainda um feriado para acabar com a única distração que tinha para se esquecer de tudo aquilo: exercer a sua profissão.

De repente, o homem é surpreendido por um dos zeladores do fórum.

— Desculpe-me, senhor — disse o zelador. — Mas é que eu preciso fechar o fórum.

O homem usava um uniforme azul marinho, e aparentava ter cerca de quarenta anos de idade. Quando Flávio o notou, lançou um olhar zangado e partiu em direção à saída. O zelador, no entanto, pareceu não se importar com aquela atitude. Apenas desligou todas as luzes, saiu da recepção e trancou a porta.

A portaria dava direto para um estacionamento. Naquele horário, haviam restado apenas dois veículos: o luxuoso automóvel do advogado e um carro velho dos anos noventa, pertencente ao zelador.

Flávio estava tão estressado, que não percebeu que sua carteira caiu do paletó. Apressado, entrou em seu veículo e saiu do local.

O zelador rapidamente percebeu o ocorrido. Tentou gritar para que o advogado retornasse, mas não obteve sucesso. Então, correu até o objeto e verificou que ali tinham várias coisas importantes: documentos pessoais, dinheiro e vários talões de cheques em branco.

[...]

Flávio dirigia pelas ruas da cidade em direção à sua casa, pensativo com os problemas que encontraria quando chegasse lá. Então, ligou o rádio para se distrair. Porém, quando estava prestes a se tranquilizar, levou um grande susto.

Conto de Páscoa | Em Busca de RemissãoOnde histórias criam vida. Descubra agora