Cigarros e Pequenas Garrafas de Licor

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"Ele tocou

meu pensamento

antes de chegar

à minha cintura

ao meu quadril

ou minha boca"

(KAUR, Rupi. Outros Jeitos de Usar A Boca. São Paulo: Planeta, 2017)


*


— Kurumi-san, o que acha de transarmos? — perguntou Gojou, com as pernas cruzadas e aquele tom de voz banal de sempre.

Hanabi demorou para entender. Arqueou ambas as sobrancelhas e inclinou a cabeça para o lado.

— Desculpe, er... O que disse, Gojou-san?

Gojou descruzou as pernas e se inclinou um pouco para frente no sofá à medida em que apoiava os cotovelos nos joelhos.

— Sabe como é, né? — Enrolou, a voz oscilando com cinismo. — Vamos transar. Vai ser divertido.

Ela tinha entendido de primeira. Ela só queria ver se ele tinha a audácia de perguntar de novo na cara dura. E ele tinha sim!

Hanabi Kurumi, quarto ano de economia na Universidade de Tokyo, conheceu Satoru Gojou há alguns meses, quando ele invadiu sua casa para exorcizar uma maldição.

Daí, eles acabaram descobrindo que Hanabi tinha a habilidade de anular energia amaldiçoada e, agora, sempre que Gojou precisa de uma ajuda dela em alguma coisa, ou simplesmente quando quer passar o tempo, ele vem visitá-la e convidá-la para tomar um café e comer doces.

Hanabi sempre aceita, porque não é como se ela o odiasse. Muito pelo contrário. Mas ela sabe que ele é a definição de cínico, vagabundo e, às vezes, até meio ridículo.

O que é bem engraçado considerando o quão absurdamente atraente a aparência dele é.

— Hm... Interessante. — Ela cruzou os braços e reclinou-se para trás no encosto do sofá onde estava sentada, diante de Gojou, enquanto colocava todo o esforço que tinha no ato de não corar. — É só isso ou tem mais alguma outra proposta, Gojou-san?

O sorriso de Gojou se esticou sob a venda que ele vestia.

— Ui, você é afiada, Kurumi-san. — Ele se reclinou também, relaxando sobre o próprio sofá. — Eu quero transar com você desde que nos conhecemos, mas... bem, eu não quero estragar nosso relacionamento tão saudável.

— Fique tranquilo, Gojou-san, se a sua personalidade horrível não destruiu nosso "relacionamento saudável", então nada vai destruí-lo.

Gojou riu. Então, a encarou. Mesmo que não desse real pra dizer que ele estava encarando com aquela bandana.

— Eu quero transar com você, Hanabi. Loucamente. E periodicamente, aliás. Mas eu não quero transar só com você. Então, é isso, eu quero fazer com você um contrato. Como um pacto.

Hanabi pigarreou.

— É mesmo?

— Sim. Nós vamos transar, eu e você. Teremos essa conexão, porém, ao mesmo tempo, não teremos nada. E isso não vai estragar nada entre nós.

Ah, sim. Ela havia entendido a questão desde a primeira frase que ele dissera. "Vamos transar?" Porque não importava como Hanabi colocasse isso, em nenhum cenário, ela conseguia visualizar Satoru Gojou sendo fiel.

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