Robot City

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Essa é uma das poucas historias que eu escrevi chorando em algumas partes, principalmente nas falas. Então de todo o coração desejo uma boa leitura. 


      Em um mundo povoado por robôs uma única criação se destacou. Todas as maquinas criadas eram atualmente feitas de peças novas, algumas pintadas com branco e azul ou então em tons que se assemelhavam a pele humana. Já outras poderiam ser banhadas em ouro e prata, mas no fim todas as partes dos robôs eram novas. O padrão se repetia constantemente nas fábricas onde eles nasciam, entretanto, um homem que se sentia sozinho decidiu criar um deles para ter companhia. Sua existência era um segredo guardado pelo governo, afinal ele era o último humano vivo naquele mundo.

O nascimento de novos robôs era algo encomendado e havia um valor a ser pago que variava segundo as características escolhidas. Quando dois robôs ou um decidiam que era hora de terem descendentes, eles deveriam encaminhar um pedido para o governo agendar uma visita às fábricas e escolherem quais peças seriam usadas. Além da cor, poderiam ser escolhidas formas das partes do corpo, volume, maciez e também como seria sua aparência, já que as maquinas se projetavam de uma forma em que se assemelhassem a aparência humana. Quando escolhidas as coisas, o valor era calculado e a montagem se iniciava assim que o pagamento fosse efetuado.

É claro que ao longo da vida os robôs deveriam comprar diversas partes e substituí-las para que não quebrassem. Eles sempre queriam estar na moda também e seguir o que fosse novidade e que todos adorassem. Sendo assim os valores gastos eram sempre altos e só aqueles com dinheiro costumavam fazer requisição de bebes.

Como sua existência não deveria ser notada Lúcio jamais teria direito de fazer o pedido de um robô para lhe fazer companhia. Ele não trabalhava e vivia com o que achava nas matas ao redor. As florestas eram lugares pouco visitados por aqueles seres filhos da tecnologia porque não havia nada de interessante para os entreter, então acharam seguro escondê-lo lá, era isso ou a morte. E as pessoas no poder eram contra a morte ou desmonte de seres.

A solução de seu problema veio quando visitou o lixão e encontrou diversas partes que um dia pertenceram a robôs adultos e formados. Foram olhadas minuciosamente garantindo que não haviam partes amassadas ou qualquer coisa que prejudicasse seu funcionamento. Cada uma das escolhidas possuía marcas e cores distintas, em alguns casos, mas quando encaixadas formaram um novo ser, que era único em todos o universo.

Emma possuía uma consciência mínima das coisas, mas a maior parte de seu sistema fora deletado por Lúcio. Ela se desenvolvera mentalmente ao lado daquele homem e quando poderia viver sozinha ela passou a procurar um trabalho na cidade e comprar coisas que tornassem sua vida e a de seu pai mais confortáveis. A questão era que ninguém queria dar emprego a alguém montado com peça velhas e diferentes do padrão social. Todos lhe olhavam com olhares repletos de repulsa e julgamento. Em suas mentes se passava a seguinte questão 'Como essa coisa pode conviver conosco, sendo horripilante de tal maneira?'. O único emprego que conseguiu arrumar foi para empilhar coisas nos estoques, bem longe das vistas dos demais.

A aparência da jovem máquina não era ruim, mas sim, diferente. Seus cabelos eram negros com fios, tom de ébano e seu rosto com a tonalidade que se assemelhava ao caramelo, mas seu braço esquerdo possuía o tom do cacau que todos amavam. O braço direito lembrava a tonalidade da neve que manchava o solo no inverno, de tão clara que era sua tonalidade, mas qualquer coisa mínima ela ganhava um tom rosado que se assemelhava a cor das framboesas frescas que colhia todas as manhãs. Uma de suas pernas também possuía um tom parecido com o tronco das árvores, mas em pequenas partes haviam alterações na coloração. Parecia que enquanto era criada aquela parte o artista sentiu que faltava algo naquela cor de marrom que ele escolheu para colorir o membro e decidiu fazer uma mistura de branco e vermelho, o tom rosado que resultou da combinação foi derramado em pequenas gotas até que parecesse suficiente. Já sua outra perna possuía inúmeras cicatrizes, algumas retas e outras traçando desenhos, quais eram as histórias por trás delas? Às vezes ela tentava imaginar como eram os corpos dos quais suas peças pertenciam porque a parte que formava seu tórax era pintado por pequenas gotas de castanho-claro, com se a superfície fosse o céu e os pingos, as estrelas, talvez fosse possível encontrar constelações ali. Também não possuía a mama esquerda se assemelhando ao corpo masculino. O que será que eles passaram? Quais seus sonhos e desejos? O que pensavam do mundo? Com certeza foram histórias fascinantes como a de qualquer ser que residia naquele mundo. O resultado da combinação foi uma obra de arte única, um robô diferente dos demais.

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