Capítulo 2

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Sua ausência tá fazendo mais estrago que a sua traição

Minha cama dobrou de tamanho

Sem você no meu colchão.

- Rita, Tierry.

Acordo com alguma coisa me cutucando no ombro, e com a névoa dos sonhos ainda pesando na minha cabeça, imagino que é Sebastian me acordando, então sorrio.

- Cara, levanta. - uma voz mais grossa diz, me fazendo abrir os olhos. Assim que vejo o rosto de Danilo sobre o meu, a ficha cai e tudo o que aconteceu no dia anterior me atinge com um baque. - Você capotou no sofá. - ele completa, afastando-se e virando de costas para mim enquanto liga a televisão. Aproveito para passar as mãos nos olhos e tirar as ramelas nojentas que havia produzido enquanto dormia, e só então olho ao redor; havia dormido no sofá mesmo, e minhas costas estavam me matando.

- Tem café lá na cozinha, se você quiser. - ele senta-se numa poltrona e cruza as pernas daquele jeito que os homens fazem, parecendo inquieto.

- Valeu. - algo em Danilo me fazia responder de um jeito mais machão do que eu normalmente fazia, e isso me incomodava um pouco. Não que eu normalmente agradecesse com "obrigadinha" nem nada do tipo, mas é que ele sempre parecia estar puto com tudo e com todos, então eu sentia que, se fosse um pouco mais bruto nas respostas, talvez ele não me olhasse com desprezo, como estava fazendo nesse exato instante.

Ignorando o comichão de tristeza dentro de mim, me arrasto até a cozinha e encho uma xicara de café; estava doido para xeretar os armários e ver o que tinha para comer, mas não queria fazer isso com Danilo logo ali, parecendo entretido e entediado com a televisão ao mesmo tempo, o que era um pouco estranho. Não sei se alguém consegue achar algo interessante e entediante ao mesmo tempo, mas ele aparentemente está fazendo isso.

- É um programa sobre pessoas que são largadas peladas no meio da floresta. - quase cuspo o café, percebendo que falei em voz alta o que deveria ter mantido em pensamento. - É tosco demais, mas eu quero ver quem vai passar mal e quem vai conseguir sair dessa. - ele sorri com apenas um canto da boca, o tipo de sorriso que eu sempre achei o maior charme do mundo quando via na televisão, mas que nunca consegui imitar.

Assim que abro a boca para responder, Danilo volta a olhar para a tela e me ignora, então aproveito para assistir também, apoiado na parede. Não sei quanto tempo fico assim, mas de repente, ele vira o corpo e me olha, parado ali como se fosse uma decoração de parede.

- Vai assistir em pé? - levanta a sobrancelha, apontando para o sofá onde eu havia dormido.

- Valeu. - coloco a xícara vazia dentro da pia, criando um lembrete mental para lavá-la depois, e sento-me num canto do sofá.

- Não precisa ficar todo comportadinho quase caindo do sofá, cara, pode ficar à vontade. - ele ri. Não vou negar, estou morrendo de vergonha por estar de penetra na casa que ele divide com Isaac, e sei que só estou aqui porque eles devem ter tido uma conversa enquanto eu chorava toda a água do meu corpo quando cheguei ontem à noite. Então realmente não quero abusar, mas se ele insiste...

- Eu ofereceria uma cerveja, mas ainda é cedo. - Danilo sorri, e sem saber como responder, sorrio de volta. - Sinto muito pela sua namorada, cara. - Namorada? Oi? Danilo continua falando, mas eu não ouço mais nada.

- Bom dia, luz do dia. - a voz de Isaac anuncia sua chegada antes mesmo de a porta fechar, e acredito que meus olhos estejam mostrando minha confusão e talvez denunciem o que acabou de acontecer, porque ele murmura um "merda" e larga algumas sacolas na mesa da cozinha. - Brian, vem cá me ajudar. - grita, olhando para Danilo de canto de olho para ver se ele continua imóvel vendo pessoas peladas perdidas no meio da mata.

Fica comigoOnde histórias criam vida. Descubra agora