🥀𝙱𝙾𝙰 𝙻𝙴𝙸𝚃𝚄𝚁𝙰🥀
Vazio, silencioso. Era como um momento de transe, onde nada pudesse lhe tirar a atenção. Era frio aquele lugar, e totalmente escuro. Komugi sempre estivera no escuro desde ao nascer, mas lá era diferente, sentia-se flutuando, relaxada.
Mas então aquelas vozes começaram, ecoando ali, como se tivessem paredes naquela escuridão toda. Antes disso, era apenas aquela sensação de tristeza, a sensação de arrependimento, de culpa por não conseguir compreender aquilo.
Tudo começara com aquela primeira sensação. Quando estava quase adormecendo, encolhida em sua cama, até aquilo.
Como um formigamento em sua mão, e deixara passar, por estar embriagada de sono, mas então a sensação de aperto ali. No susto, Komugi se sentou e puxou sua mão para trás, tentando afastar do que quer que fosse. Mas não havia nada. Olhou e olhou pelo quarto, nada. Confusa e cansada, voltou a dormir, e a sensação não voltara novamente.
Agora, só conseguia pensar nisso, talvez sua imaginação, era totalmente provável.
Então por que começara a se sentir tão deprimida?
Aquele aperto estranho, quente, não era desconhecido, e isso era assustador. Logo depois, ficara afoita. Seu coração batia forte ao se lembrar daquele acontecimento. Demorou para perceber que sentia saudades de algo, algo ligado a àquilo.
Estava em pura confusão. Sua mente não pensava em outra coisa. Aquilo era absurdamente estranho.
Não contara para ninguém. Se ela mesma não conseguia compreender, imaginou que outras pessoas também não compreenderiam. Deixava de lado ao máximo, até a situação se agravar.
Durante um sono profundo, o ouvira pela primeira vez. Ao longe, novamente como um eco, lento, uma voz inexpressiva e fria, mas apenas camuflada. Komugi era boa em decifrar sentimentos que os outros tentava esconder, sempre com sua total atenção nelas.
"Não iremos parar de jogar, até que eu te vença."
Algo totalmente sem sentido. Uma voz desconhecida, talvez até ameaçadora. Komugi tinha certeza que estava delirando.
Algo faltava, não, alguém faltava. Alguém que não podia esquecer de forma alguma. E como se não bastasse, novamente vieram as sensações estranhas.
Naquele escuro, Komugi sentiu as peças frias em seus dedos. Peças que a muito tempo não tocara, mas nunca seria capaz de confundir com qualquer outra coisa.
Peças de gungi. Um jogo que adorara quando menor, mas em sua vida adulta, o jogo parecia mexer muito consigo, deixando de lado por muito tempo.
Komugi acordou debruçada na escrivaninha de seu quarto, com a cabeça apoiada nos braços cruzados. Demorou alguns minutos para compreender. O jogo estava ligado a àquilo que não consiga lembrar, a àquelas sensações e sentimentos tão estranhos.
Chegou a conclusão que aquilo poderia ser apenas perda de memória. Tinha que ser, mas também não se lembrava de nenhum acidente a qual havia sofrido para acontecer tal perda. Se sofresse algum, alguém lhe contaria, teria alguma cicatriz, algum registro, qualquer coisa, mas nada.
E o mais absurdo, era que aqueles seus sonhos eram assustadoramente reconfortantes.
Era naquela escuridão absoluta, mexendo as peças do gungi e jogando com aquela voz que parecia sempre estar extremamente perto de si, que aquela sensação de solidão desaparecia. Aquele alguém que faltava, era o dono daquela voz fria e reconfortante para Komugi.
E a cada dia, tinha ainda mais certeza que não eram alucinações ou apenas sonhos, e sim lembranças. Momentos antigos que queria lembrar, e muito.
Sentia-se cada vez mais admirada por aquela voz, pela concentração que tinha no jogo. Jogavam sempre, Komugi se surpreendia por lembrar de todas as táticas e peças. Sua voz nunca demostrava raiva quando perdia para ela, pelo contrário, parecia ficar cada vez mais compreensivo e interessado, e sempre pedia para que jogassem novamente. E ela amava aquilo.
E foi depois daquele dia, daquele momento, que tudo simplesmente acabou. Ao acordar, Komugi sentiu as lágrimas que seus olhos deixavam transbordar, tudo enquanto estava adormecida.
E depois disso, os sonhos não voltaram. A voz desapareceu, junto do estranho sentimento que havia adquirido. As sensações de vazio haviam desaparecido a tempos, sendo substituído por um de paixão, prazer que sempre teve enquanto jogava quando na infância, agora, ele era muito maior, graças ao seu adorável parceiro misterioso.
Agora, sentada nos degraus da varanda de sua casa, sentindo o frio da noite contra si, mesmo com o moletom lhe cobrindo toda, repassava tudo que se lembrava da última vez que o escutara, a alguns dias.
"Komugi, ainda está aí?"
"Sim senhor, estarei sempre aqui"
"Me sinto cansado, apenas preciso descansar um pouco"
Komugi lembra-se de amparar o desconhecido em seu colo, escutando-o respirar com dificuldade. Nesse exato momento, uma lágrima despercebida escorreu por sua bochecha, no momento em que ela escutara um carro passando pela estrada de frente para a varanda.
"Ainda vamos jogar quando eu acordar?"
"É claro"
"Pode segurar minha mão até lá?"
"Sim"
Komugi apertou os punhos por cima de suas pernas. Aquela primeira sensação, o início de tudo. E agora, tudo que queria era sentir novamente aquela mão grande e aparentemente bruta, mas cuidadosa, apertando a sua.
"No fim, não consegui ganhar nenhuma vez"
Outra lágrima, mas dessa vez ela a limpou antes que pudesse descer pelo seu rosto.
"Komugi."
"Sim?"
"Poderia me chamar apenas pelo meu nome, uma vez?"
Outro carro, tão rápido que o vento soprou seus cabelos grisalhos violentamente. Komugi suspirou, recebendo de bom grado a sensação de seu coração pulando dentro de seu peito.
Suas mãos acariciaram o rosto do desconhecido, podia sentir a respiração pesada dele, respirava com dificuldade. Ela mesma se sentia estranha, cansada, mas de uma forma que não sabia definir, afinal, ainda estava em um sonho.
"Descanse, Meruem. Logo irei atrás de você"
Os sonhos não voltaram, as sensações, nada. Tudo parecia normal agora, a não ser por suas lembranças, que agora eram preciosas para si. Não queria esquecê-las de forma nenhuma.
—Meruem... —Repetiu baixo, dizendo aquele nome em voz alta pela primeira vez. Sorriu com a sensação reconfortante que sentiu ao pronunciar lentamente— Quem é esse?
The End.
🍃𝙾𝙱𝚁𝙸𝙶𝙰𝙳𝙾 𝙿𝙾𝚁 𝙻𝙴𝚁🍃
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𝖴𝗇𝗄𝗇𝗈𝗐𝗇; 𝖬𝖾𝗋𝗎𝖪𝗈𝗆𝗎.
FanfictionKomugi se sentia só. Sentia falta de algo todo os dias, uma sensação insuportável de saudades, e que nunca conseguia lembrar do quê e do porquê. Um sentimento que a entristecia. Piorando a situação, começara a escutar uma voz desconhecida por si em...