Único

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Levi Ackerman estava sozinho com Erwin Smith na sala de reuniões. Parado contra a grande porta de madeira podia sentir a aspereza contra seus dedos nervosos que jaziam escondidos atrás de suas costas.

Ele sabia que não tinha direito em puxar aquela conversa, em dizer aquelas palavras. Mas ele as diria mesmo assim.

Seu relacionamento com Erwin era maior do que muitas coisas. Era inexplicável, subjacente. Beirando a iconoclastia. Seus sentimentos eram tão grandes que precisava fingir que não existiam. Cada vez que deitava após mais um dia neste mundo cruel, sua mente vagava para o rosto do loiro.

Ele parecia um maldito almofadinhas, mas sua personalidade não batia em nada com aquele rosto oprimido. Havia gostado dele quase de cara, após ouvi-lo discursar. E agora, anos depois, Levi estava fazendo o inimaginável...

— Estou perguntando por que você talvez não saia vivo. Você não consegue mais se mover como antes.

O observou tocar o braço ferido, os dedos amassando o pano que antes estaria preenchido com todo aquele corpo.

— Deixe Hange comandar. Você só será um peso morto. Deixe as notícias boas chegarem até você... Vamos dizer para todos que discutimos até você ceder. Isso que quero fazer, você se importa?

O pesar nos olhos de Erwin era quase o suficiente para fazê-lo desistir de manter aquela insistência. A dor pelas lembranças de seu pai era tão grande que conseguia senti-las ali, do outro lado da sala.

— Não posso — ele declarou. — Não me importo que me usem de isca! A linha de comando persiste. Quando eu me for, Hange será a próxima. Se ela se for, o próximo. A missão é perigosa, mas isso é importante para a humanidade. Por isso temos que ir até esse ponto. Este é o meu plano. Se eu não conseguir, a taxa de sucesso será reduzida.

Suprimiu um suspiro, mantendo com esforço seu rosto inexpressivo.

— Isso mesmo. — rebateu. — A operação pode não ser um sucesso, mas se você morrer será o fim de todos nós. Sente na sua mesa e continue usando a maldita cabeça. É a última coisa que os Titãs gostariam. E para a humanidade, é a melhor opção.

— Não. A melhor opção para a humanidade é eu apostar tudo.

Como num trovão que cai sobre a praia, a hostilidade lhe subiu os olhos. Ele odiava essa condescendência em Erwin. Ele escondia os verdadeiros motivos por detrás de um discurso bonito, quando a verdade era muito mais egoísta e sombria — amava até mesmo esta parte irritante.

— Ei, ei, ei! — aumentou o tom de voz, franzindo a testa de um jeito que sabia fazê-lo entender exatamente o quanto estava irritado. — Continue usado esse blefe comigo e quebrarei suas duas pernas. O plano continuará sem você, Erwin.

— Você está certo — ele disse após um suspiro. — Um soldado ferido deveria se afastar do campo de batalha. Mas, vai chegar um momento onde descobriremos o segredo do mundo e eu preciso estar lá!

— Isso é tão importante assim para você? Mais que suas duas pernas?

— Sim — respondeu sem hesitar.

Levi pausou por meio segundo. Perquiriu cada centímetro do rosto que conhecia tão bem, havia decorado os traços há muito. Tanto que poderia identificá-lo pelas pontas dos dedos.

— Mais que o futuro da humanidade?

— Sim.

Outra resposta direta. Era isso então. Ele não cederia.

Partiria para a guerra, morrendo no caminho e deixando Levi para seguir adiante neste mundo cruel sozinho. Outra vez.

Não tinha o direito de dizer nada. Nunca teria. Mas ainda assim era inevitável a forma como sua garganta se fechava, desejosa de poder gritar ao invés de engolir em seco.

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