Capítulo 1 - I - O aluno novo

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Lee:

Era mais uma tarde normal na escola. Eu era só mais um garoto normal de 16 anos. Mais um nerd bolsista numa escola de elite. Estava tendo mais uma aula normal de matemática, quando Ele entrou na sala. A professora o apresentou.

- Classe, esse é Gaara, e ele vai estudar conosco a partir de hoje.

Ele era um menino interessante. Seu uniforme era desarrumado, o terno da escola estava aberto e o nó da gravata mal feito. Seus cabelos cor de fogo eram bagunçados, e ele tinha alguns piercings na orelha. Acho até que estava usando um pouco de lápis de olho. Ele parecia rebelde. Muito destoante do ambiente extremamente formal daquela escola.

Confesso que eu o achei interessante, e até bonitinho. Uma sensação estranha começou a crescer em mim. Eu nunca tinha sentido isso antes. Eu estava achando um homem bonito?! O que está acontecendo comigo? Desviei o olhar, e voltei aos meus livros. Tentei não olhar para ele, mas foi difícil, principalmente quando ele sentou ao meu lado. Sério?! - eu pensei. - Dentre tantas carteiras vazias ele tinha que sentar do meu lado?! Bem, eu até entendo, era a única mesa livre perto da janela. Ele sentou em silêncio, e ficou apenas admirando a paisagem do lado de fora. Eu não sei o que deu em mim, mas não conseguia parar de olhar para ele. Acho que ele sentiu que eu o estava encarando, e virou o rosto, olhando em meus olhos. Quando seus olhos encontraram os meus, eram sem expressão. Pareciam mais um imensidão verde. Senti que minhas bochechas ficaram vermelhas, e voltei-me novamente para os livros, ajeitando meus óculos. De canto de olho pude vê-lo voltar-se novamente para a janela, e assim ele ficou até o fim da aula. Parecia entretido em seus próprios pensamentos, não fazendo a menor questão de prestar atenção na aula.

O sinal da saída tocou, e todos se levantaram para ir embora. Eu estava guardando minhas coisas quando o vi suspirar triste antes de se levantar. Ele recolheu suas coisas e saiu. Eu fui logo atrás dele, mas mantendo alguma distância. Vi quando ele parou de frente para um luxuoso carro preto. A frente do carro havia um homem alto, bem vestido, de cabelos tão vermelhos quanto o dele. Devia ser seu pai, eles eram muito parecidos. Eles trocaram algumas palavras, e vi o estranho garoto ruivo entrando no carro, no banco do carona, e eles partiram.

Eu andei duas quadras para pegar meu ônibus. Durante a razoavelmente longa viagem até a minha casa, não consegui parar de pensar naquele garoto estranho. Por que alguém mudaria de escola quase no fim do semestre? Por que ele parecia tão triste? Quem ele era? De onde veio?... Minha cabeça estava tão entretida naquele ruivo misterioso, que quase perdi meu ponto. Desci do ônibus correndo, e andei mais um pouco até em casa.
Abri a porta e entrei.

- Cheguei! - eu disse

...

- Lee, estou na cozinha! - Respondeu Gai.

Gai era meu padrasto há quatro anos, e era muito mais pai para mim, do que o idiota do meu pai biológico que abandonou minha mãe e eu quando eu tinha cinco anos. Ele e minha mãe se conheceram quando eu tinha 11 anos e Gai era meu professor de artes marciais. Minha mãe achou que se eu estudasse antes marciais, os meninos da escola parariam de implicar comigo. Bem, acabou funcionando, mas não do jeito que nós esperávamos. Os meninos pararam de mexer comigo, quando minha mãe começou a namorar meu professor faixa preta em diversas artes marciais, e ele ficaram com bastante medo de continuarem implicando comigo e apanharem dele.

Gai era muito bom para minha mãe e eu. Ele a fazia feliz, e também era uma pessoa boa. Dava aulas de artes marciais no centro comunitário do nosso bairro. Ele gostava de ajudar as pessoas, e apesar de ser um homem grande e forte, ele era um cara gentil.

- Mamãe se atrasou de novo? - perguntei cabisbaixo, quando vi Gai preparando o jantar sozinho.

- Ela dobrou o turno no hospital. - Ele respondeu.

- Ela está trabalhando muito ultimamente. Ela não precisaria trabalhar tanto se me deixassem ir na escola do bairro, ao invés daquela escola de riquinhos do outro lado da cidade! - Eu disse triste e emburrado.

Gai então disse:

- Lee, sua mãe só está pensando no seu futuro. Ela está trabalhando bastante pra te manter nessa escola, porque ela sabe que isso vai te ajudar a entrar para uma boa Universidade. Ela só quer que você tenha as oportunidades que ela não teve. Eu sei que é chato não tê-la por perto sempre, mas ela está dando o melhor dela, e que você pode fazer, é dar o seu melhor também!

Por um instante me senti envergonhado. Eu sei que minha mãe estava se sacrificando por mim, e não só ela, mas também o Gai. Eles não me contaram nada, mas eu sabia que ele estava dando aulas particulares para levantar um dinheiro extra. Ambos trabalhavam muito para manter a casa, e pagar os 10% da mensalidade do meu colégio, já que tinha 90% de bolsa. Mas ainda sim, 10% em um colégio de excelência, ainda era muito dinheiro para um professor e uma enfermeira pagarem. Mas, eu era grato pelo esforço deles. Muito grato! Eu os recompensava estudando muito e dando o meu melhor sempre! Eu abracei o Gai e ele se assustou no início, mas me abraçou de volta.

- Obrigado por se esforçarem tanto por mim! - Eu disse com um sorriso

Gai apenas me sorriu de volta.

- Vai trocar de roupa e lavar as mãos garotão, o jantar está quase pronto! - ele disse com seu sorriso gentil.

Depois do jantar, como sempre, eu tomei meu banho, fiz meu dever de casa, li um pouco, e quando me deitei para dormir, minha cabeça foi preenchida pela imagem daquele menino ruivo. Por que eu pensava tanto nele? Por que não conseguia parar de pensar em seu rosto triste? O que está acontecendo comigo?

Respirei fundo, fechei os olhos e dormi.

Sob o Pôr do Sol - Uma história GaaLeeOnde histórias criam vida. Descubra agora