Contradição

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"E novamente ela se via daquela forma, desolada por um amor que não foi correspondido, talvez ela deveria parar de sentir demais, ou até mesmo se importar mais com os outros do que com ela mesma[...]"

Mais um capitulo terminado, faltava apenas mais um, porém eu precisava de uma pausa, tomar um café, sair lá pra fora. Estou há duas semanas escrevendo esse livro, já é o quarto e ultimo da saga de auto ajuda. Costumo escrever sobre diversas situações onde a pessoa acaba se decepcionando e tomando decisões frias, por assim dizer, e seguindo sua vida da melhor forma possível, aprendendo a se amar mais.

Todos os livros falam sobre tirar tempo pra si um pouco, e eu já estava há muito tempo sentada na frente do computador, então resolvi tirar um dia para mim, fui visitar minha irmã e minha sobrinha, fazia um tempo que não visitava elas, e também, inevitavelmente, poderia parar para pensar um pouco em tudo.

Antes de ir á casa delas, passei em um parque para respirar um pouco de ar puro, eu estava precisando, é até cômico dizer isso, pois essas duas semanas que passei escrevendo só conseguia pensar que sair para um parque seria algo incrivelmente estupido, mas cá estou eu. Também parei para pensar em alguns ajustes da estória que eu estaria escrevendo, aliás, neste livro estou falando sobre uma moça que estava em busca de um amor, porém, cada pessoa a decepcionava de uma forma diferente, estava bem machucada com todas as situações e acabaria se tornando uma pessoa fria que saberia lidar com as coisas da forma mais racional possível.

Andando por aquele parque cheio de gente, enquanto eu pensava no meu livro, acabei avistando um casal de idosos, eles estavam brigando, provavelmente uma briga por ter gasto todo o pão ao alimentar os pombos. Eu os observei por um tempo, provavelmente iriam embora brigados, como qualquer casal, mas para a minha surpresa, o senhor saiu daquele banco, provavelmente disse que iria ao banheiro, a senhora ficou lá, emburrada com a situação, um tempo depois, aquele senhor voltou com um algodão doce em uma mão e uma rosa na outra, eu enxerguei um brilho no olhar dela, ele disse algo em seu ouvido, eles deram um abraço e continuaram seu agradável passeio, e eu fui para a casa da minha irmã.

Cheguei lá, depois de tanto tempo sem vê-las, minha irmã não parecia muito bem, meio desanimada com tudo talvez, não êxitei em perguntar o que aconteceu, ela me disse que fazia duas semanas que o pai da pequena Mari havia pedido divórcio, e ela estava triste por ter que criar sua filha sem um pai. Deveras triste a situação de minha irmã, eles eram um casal feliz na medida do possível, porém, uma hora ou outra tudo pode acabar, logo disse a ela que talvez ela devesse parar de ouvir um pouco o coração, raciocinar um pouco mais com a cabeça, e talvez, daquela forma tudo poderia se arrumar dentro dela.

Minha sobrinha estava triste também, mas, apesar de triste, ela me recebeu da melhor forma, ela tem 4 anos de idade, e é um poço de alegria e amor, e eu admiro essa forma de vida que uma criança tem, mas como eu disse, tudo acaba uma hora ou outra, até porque, não haveria a felicidade se não houvesse tristeza.

Consolei minha irmã com a deliciosa sopa da felicidade que nossa mãe fazia para nós na adolescência quando estávamos sofrendo por alguém, apesar de eu não acreditar muito nisso fiz mesmo assim, só queria ver ela melhor. Enquanto eu e ela estávamos comendo na mesa, minha sobrinha estava na frente da Tv ouvindo suas musiquinhas enquanto comia, ela é adorável.

Depois de comer, como estava começando a ficar tarde, fui para casa. Por hoje não escreveria mais, amanhã continuaria. Então apenas tomei um banho e me deitei para dormir. No dia seguinte, tomei meu café e fui novamente para frente do computador, continuei a trágica estória da moça que se decepcionava, mas estava preocupada com a minha irmã, então resolvi tirar mais uns dias para ir à casa dela e passar no parque novamente para pensar. Para minha surpresa, aqueles dois senhores estavam lá de novo, novamente brigados pelo pão perdido para os pombos, e novamente ele saiu e voltou com uma flor e, dessa vez, um saquinho de pipoca, e de novo aquele brilho no olhar, isso realmente estava me deixando pensativa, mas resolvi deixar aquele pensamento para outrora. Cheguei na casa da minha irmã, novamente ela estava triste, e novamente eu fiz a incrível sopa da mamãe, e como se nada mudasse, minha sobrinha estava na frente da Tv ouvindo a mesma música.

Os dias se repetiram por uma semana, parecia um looping, os mesmos senhores, a mesma sopa, as mesmas músicas. Ate que, em uma sexta feira, onde tudo iria se repetir, acordei, tomei meu café e fui direto ao parque, mais cedo do que das outras vezes, e encontrei o mesmo casal de velhinhos, porém cheguei antes da briga, eu os observei, para que assim, quem sabe, saber o motivo das brigas, e se eu disser que realmente era por conta dos pombos? Porém, era uma coisa diferente do que eu estava pensando, o pão não teria acabado, mas sim os pombos eram menos a cada dia, ela ficaria triste por sempre ter um a menos para alimentar, percebendo assim, que talvez o tempo para eles também estaria acabando, com isso ela brigava com o velhinho, e ele sempre dava uma rosa e algo para comer depois da briga. Como toda escritora curiosa, resolvi então perguntar para eles há quanto tempo estariam juntos, e a resposta me impressionou, eram 70 anos de casamento, então aproveitei e perguntei como eles lidavam com as brigas, e o adorável senhor respondeu "Filha, todo casal tem seus altos e baixos, brigas feias, mas o que poucos sabem é que não são as brigas feias que desgastam, e sim as pequenas sem motivos. Sempre que eu e minha amada brigamos por coisa boba, tanto eu quanto ela procuramos não pensar tanto com a cabeça, e seguir o coração, assim como todos os casais, ou ate mesmo as pessoas sozinhas deveriam fazer, isso ajuda muito o outro e ate a si mesmo, esse é o segredo". Fiquei impressionada com o que aquele senhor disse, e bem pensativa, agradeci a atenção, e fui para a casa da minha irmã. Chegando lá ela estava chorando no sofá, minha sobrinha no colo dela, elas estavam ouvindo as mesmas musiquinhas, não falei nada, só resolvi sentar no sofá junto a elas, e ouvir, e pela primeira vez ouvi as musiquinhas da minha sobrinha, eram as típicas musicas infantis, mas, por algum motivo, duas daquelas musicas me deixavam pensativa, uma falava a seguinte reflexão "Para ver melhor, amigo, use o coração, enxergar o que é belo sem usar a visão", e a outra falava algo parecido "Ouça com muito carinho tudo o que disser o coração, faça dele passarinho, deixa transbordar de emoção". Naquele dia eu dormi na casa da minha irmã, ficamos assistindo filme, jogamos jogos de tabuleiro, comemos pipoca, e fomos dormir, no dia seguinte ela parecia melhor, fiquei mais tranquila e resolvi ir embora e continuar meu livro.

Chegando em casa, não conseguia parar de pensar no que aqueles senhores me falaram, e sobre o que as musiquinhas de criança falavam. Pensei muito comigo, todos os meus livros diziam que a frieza e a lógica iriam ajudar muito mais do que pensar com o coração, e talvez ajudasse realmente algumas pessoas que, infelizmente sofreram com decepções a pensar mais em si, sendo fria com as outras pessoas.

Mas tudo aquilo que vivenciei na ultima semana me fez questionar no por que a frieza resultaria em algo bom, então, continuei a escrever "[...] A moça estava desolada com tudo aquilo, pensando seriamente em parar de ligar para tudo e todos, seguir sua lógica e esquecer que um dia escutou seu coração, ela estava triste, pobre mulher, cega por suas quedas, machucada como soldado após a guerra, tudo estava a favor de apenas se tornar alguém que trata tudo como um tanto faz, um escudo protetor de decepções, então ela se deitou, e acabara sonhando com um homem ruivo com um bigode engraçado, ele usava um terno e uma cartola, tinha a voz doce como o canto de um canário, então ele dissera "ouça com muito carinho tudo o que disser o coração, faça dele passarinho e deixe transbordar a emoção". A moça acordou com batidas na porta, sem saber o que acontecera no sonho, era sua mãe, com uma sopa em um pote para ela, passaram o dia juntas, e então, a partir daquele dia, a moça passou a escutar seu coração e sua cabeça, sendo uma pessoa maravilhosa com todos, mostrando que também é possível ser feliz sozinha sem precisar ignorar o mar de emoções dentro de si."

E ali acabou a saga, amanha entregarei a editora para postar, a partir dali tentarei mostrar, contradizendo todos os outros livros, que também é possível ver melhor usando o coração.

Por Medro

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⏰ Última atualização: Apr 11, 2021 ⏰

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