Era uma vez em Antalya

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— Eu já te falei. Quem não faz loucuras não vive direito.

— E eu já te falei que eu estou com medo.

— Medo de que, Hande? De beijar um cara que está de quatro por você? Caramba, pode ser só um beijo. Você está solteira e quer ele também.

— Eu quero.

— E então?

— Não sei.

Dilara respirou fundo e revirou os olhos. Em seguida levantou da cama e bagunçou meus cabelos.

— Se decidir que sim, me avise. Para eu não correr o risco de ficar de vela.

Dei risada, admirando-a. Dilara é o tipo de amiga que toda mulher deveria ter. Chama a atenção quando estou errada, me estimula a correr atrás dos meus sonhos, me deu ombro quando estava com problemas no meu antigo relacionamento e agora, é claro, ela tenta me convencer que não há nada de mal em beijar meu companheiro de cena. Só que fora de cena.

— Você sempre saberá.

Uma batida na porta me fez pular da cama e correr para o espelho. Eu não pensei muito sobre esse comportamento, mas Dilara sim e deu um risinho para mim me dizendo, sem palavras, que eu estava me entregando cada vez mais.

Minha amiga foi até a porta e a abriu. Deu um tapinha no ombro de Kerem e disse, com a cara mais cínica, que tinha um compromisso e iria nos deixar a sós por algumas horas. Que compromisso ela poderia ter em Antalya justamente quando Kerem estava na porta do meu quarto no hotel?

— Entra — pedi a ele.

Kerem usava uma bermuda verde bem escura e camisa branca de mangas curtas e um pouco transparente. O cabelo ruivo brilhava ainda mais, talvez por conta da iluminação natural vinda do mar, bem em frente ao meu quarto. Suspirei. Que merda de profissional eu era se estava querendo me aproveitar do amor da minha personagem?

— Está ocupada? — perguntou.

— Não. Eu só estava jogando conversa fora com Dilara.

— Queria repassar algumas falas contigo.

Encarei Kerem e comecei a gargalhar.

— Você? Querendo repassar falas? O que o ar de Antalya está fazendo contigo?

Kerem gargalhou junto comigo e começou a ficar com o rosto bem vermelho. Eu havia deixado ele envergonhado.

— Porque é difícil acreditar que eu estava mesmo preocupado com Serkan Bolat?

— Porque você não está. Eu te conheço, Kerem.

— É, conhece. Tem razão, eu só queria te ver.

Respirei fundo, sentindo minha pele se arrepiar como só acontecia quando ele estava perto de mim.

— Estava sem fazer nada, não quero desperdiçar o paraíso. A mulher mais linda do mundo no quarto ao lado e eu dormindo? Não sou trouxa.

Soltei uma risada e dessa vez eu que devo ter ficado vermelha.

— Amanhã as gravações começam cedo, seria bom se treinássemos agora, de qualquer forma.

— Não, eu tenho uma ideia melhor. Quer dar uma volta na praia?

— Agora?

— É, agora. Vamos Miyy, tomar um ar, ver o por do sol, admirar as estrelas...

Kerem se aproximou mais de mim, segurou minhas mãos e, como se não estivesse fazendo nada demais, beijou minha mão direita.

Um vento forte entrou pela janela, como se me encorajasse, como se de alguma forma o universo estivesse tentando me mostrar que se eu queria algo, eu deveria fazer e pronto.

Era uma vez em AntalyaOnde histórias criam vida. Descubra agora