Pega a ladra!

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Era um final de tarde bem agradável. O sol desaparecia por trás das montanhas ao longe, convidando gentilmente os moradores cansados de mais um árduo dia de trabalho para voltarem aos seus lares. Os fogões a lenha estavam começando a serem acesos, assim como os lampiões a gás. Portas eram fechadas e, lentamente, o fluxo de pessoas nas vielas diminuía cada vez mais.

Entre os aqueles que retornavam para suas casas, estavam dois meninos. Assim como todos os outros, estavam cansados, mas de bom humor. Hoje fora o dia do pagamento, o que significava comida na mesa para toda a família. Ninguém passaria fome por alguns dias e uma pequena parcela do peso seria retirada dos ombros da mulher que sustentava a casa.

Estes eram Sanemi e Genya. Por serem os irmãos mais velhos da família Shinazugawa, procuravam ajudar a mãe com as despesas da casa ao trabalharem nas plantações de arroz que circundavam a vila.

Os dois não conversavam no caminho de volta para casa. O leve tilintar das moedas que descansavam na bolsa de Genya era o suficiente para preencher o silêncio entre os irmãos.

Silêncio que foi rompido por um raivoso grito masculino vindo de algum ponto atrás deles:

-- PEGA A LADRA!

Movidos pela curiosidade de saber o que estava acontecendo, fizeram menção de espionar por cima do ombro, mas não deu tempo.

Uma garota, que mal foram capazes de ver o rosto, esbarrou em Genya e continuou correndo com os braços ocupados com uma sacola de pães. Logo após isso, dois homens quase atropelaram os irmãos, agitando bastões de madeira no ar e gritando xingamentos.

-- VOLTE AQUI, SUA PESTE!

Os Shinazugawa limparam a poeira dos yukatas que usavam com as mãos e, após Sanemi resmungar algo sobre como as pessoas eram cegas, estavam prestes a seguirem seu caminho como se nada tivesse acontecido quando Genya deixou escapar uma exclamação surpresa e disse:

-- A bolsa das moedas sumiu!

Sanemi logo entendeu o que havia acontecido. Aquela menina os roubara também. Ele sentiu uma pontada de irritação alastrando-se para o restante do corpo. Os dois realmente se esforçaram para conseguir aquele dinheiro. Por que ela se achava no direito de pegar aquelas moedas sem mais nem menos?

Decidido, o garoto disse:

-- Vai pra casa, Genya. Eu te encontro lá mais tarde.

-- Mas -- ele se interrompeu no meio da fala. -- Nii-san!

Sanemi não respondeu, pois já estava longe, seguindo os gritos raivosos dos homens que perseguiam a pequena ladra. Ele certamente não deixaria que ela ficasse com todo o dinheiro que demorara um mês para conquistar.

É claro que o garoto já tinha ouvido falar dessa garota. Todos da vila cochichavam pelos cantos sobre a menina supostamente abandonada pelos pais que vivia no meio da floresta com um velho moribundo e demente e que roubava para sobreviver.

Sanemi se lembrava muito bem da vez em que um certo grupo de comerciantes e um médico tentaram mobilizar os moradores a encurralarem a ladra para espancá-la e expulsá-la da vila. Muitos foram contra por ela ser apenas uma criança e a ideia morreu por aí.

Entretanto, neste momento o shinazugawa estava começando a entender a raiva daqueles homens.

O céu já estava praticamente escuro. As primeira estrelas já brilhavam lá no alto. O menino ultrapassou os homens que já haviam se cansado de correr e continuou perseguindo o borrão escuro ao longe que ele acreditava ser a menina.

Já estava ficando sem fôlego e gotas de suor escorriam pelo seu rosto um pouco sujo de terra. Como ela conseguia correr tanto assim? Havia praticamente percorrido toda a plantação de arroz e estava quase na orla da floresta. E, caso ela entrasse lá, Sanemi não seria mais capaz de seguí-la, o que o frustrava profundamente.

Não desista de nós (Imagine - Sanemi Shinazugawa)Onde histórias criam vida. Descubra agora