Além de uma terra sombria

Capítulo 1

Era noite de outono. Ravena bateu a porta e saiu correndo. Não sabia o que viria pela frente; o que aquela saída representaria. A lama não permitia que corresse, e não havia uma luz para iluminar o caminho sombrio à frente. Não fazia ideia de onde iria ficar, se não fosse capturada e torturada antes de sequer pensar em uma possibilidade. Ela estava abandonando a carnificina que era o reinado de seu pai, não aguentava permanecer nem mais um minuto naquela masmorra, onde apenas seu pai era tratado com luxo, enquanto sua população e serventes eram massacrados para atender aos seus pedidos mais íntimos e medíocres. O ódio sobre ele ultrapassava o ódio sentido por Ravena enquanto caía na lama escorregadia sem rumo a seguir.
     -Só preciso sair daqui; sair dessa terra! Dessa terra suja, infiel e completamente desprezável. Meu pai é cruel e carniceiro. Precisava me desprender dele antes que fosse a minha vez de assumir o trono.
Então ela correu. Correu e caiu e continuou correndo, cada vez mais rápido.
Restavam apenas 7 dias para que ocorresse o ritual de solstício de inverno onde a coroa passaria do rei Hébert para Ravena. Precisava fugir urgentemente, antes que fosse caçada pelos soldados de seu pai, forçada a comandar aquela terra injusta, sombria e cheia de ódio.
Helmet não se importava muito com a sua presença então seriam necessários uns dois dias para que sentissem a sua ausência.
      -Tenho dois dias. Dois dias antes que iniciem uma busca. Poderia tentar ir para o Sul, para o reino de Léo.
Seria difícil seguir sozinha e sem proteção para o Sul. Ninguém nunca seguira aquele caminho pela terra. Havia apenas boatos que circulavam pelo castelo sobre a existência de um portal nessa direção que seria protegido por muitos feiticeiros. Mas é claro que isso não passava de mais uma história criada por seu pai para que as pessoas não saíssem daquele reino. O Reino Cróton, quem sabe o mais estúpido entre todos eles. Nem a vegetação daquele lugar fazia alguém se sentir confortável.
Se nada ocorresse para intervi-la, Ravena iria para o Sul. Não sabia se os pais de Léo permitiriam que ela ficasse naquelas terras, mas também não planejava permanecer lá por muito tempo.
Quando parou de correr um pouco, percebeu que estava exausta e faminta. Não fazia a mínima ideia de onde conseguiria comida, ou muito menos se acharia um lugar seguro para dormir.