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𝐉𝐨𝐬𝐡 𝐁𝐞𝐚𝐮𝐜𝐡𝐚𝐦𝐩 𝐏𝐨𝐯
Puta que pariu, eu mereço mesmo, era só o que me faltava aquela filhinha de papai me perguntando esse tipo de coisa, só tem merda na cabeça, quem que simplesmente chega e pergunta isso? Agora vou ter que ficar de detenção, que merda, eu tinha outra entrega depois da aula, agora meu chefe vai ficar puto.

Saio de meus pensamentos quando escuto a garota vindo atrás de mim. Mano, o que tem na cabeça dessa menina?

"Josh!? Me desculpa, eu não queria perguntar aquilo! Mas não é certo você mandar os outros se foderem" falou suspirando e quase que tomando coragem pra falar.

"Eu tenho cara de que ligo pro que é certo!?" ela não falou nada "Pois é, diferente de você eu não sou filhinha de papai, toda certinha." nesse momento foi como se tudo tivesse desacelerado, ou congelado, ela ficou como uma estátua, como se nem estivesse respirando.

"Realmente não é como eu! Mas eu te garanto que eu não sou filinha de papai, desde muito tempo atrás. VOCÊ NÃO SABE O QUE EU PASSO, então não tem o direito de falar isso."- percebi que ela estava...CHORANDO?

"Eu não sei nem porque eu vim atrás de você, agora vou ter que ficar de detenção, e só vai dar mais problemas pra mim." fala com lágrimas escorrendo pelas bochechas, parecia estar se controlando para não surtar de vez.

"Não deveria ter vindo, não me interessa se vc é ou não filhinha de papai. Ah, e não é só você que vai se ferrar, eu também estou na detenção."

"Eu não estava falando da detenção." falou e foi embora. Como assim ela não estava falando da detenção?! Como uma garota assim poderia se encrencar fora da escola, ela é tão quieta que nem sequer teria coragem de fazer algo errado para ter tantos problemas.

[...]

Tá na hora da detenção, e eu já passei mensagem avisando pro O, meu chefe, dizendo que não vou poder fazer a entrega hoje, ele obviamente não ficou feliz com isso, mas não tem como eu fugir dessa detenção,

Vou pra sala de detenção e a Any já está lá sentada na última cadeira, rabiscando um pedaço de papel, como em todos as aulas. Geralmente eu não sou curioso, mas agora eu quero saber em que problemas ela poderia se meter. Então vou até ela e sento do seu lado, ela me olha com uma cara entediada, na qual percebi como se um pouco de ódio brilhasse em seus olhos, mas ao invés de falar qualquer coisa ela volta a se concentrar em seu rabisco. Preferi não perturbar ela por enquanto, pois é capaz dela enfiar aquele lápis na minha mão.

Um tempo depois tudo estava muito chato e entediante, como em qualquer outra detenção. Por isso decido que chegou a hora de puxar conversa com a Any, não tem mais nada pra fazer mesmo.

"Ei Gabrielly!" sussurro mas a mesma me ignora.

"Gabrielly!" faço uma bolhinha de papel e jogo nela "Você não tá me ouvindo não?!"

"Sim eu estou, mas decidi te ignorar." fala sem olhar pra mim com a voz carregada de irritação. Mesmo depois dela já ter dito que não vai me dar atenção, eu continuo falando.

"E se a gente fizer um jogo, você me responde qualquer pergunta que você me fizer, e eu respondo qualquer uma que você fizer" vejo que a mesma pareceu se interessar na proposta, bem como imaginei, ela é tão curiosa quanto eu.

"Tá pode ser, mas vai depender da sua pergunta." responde depois de um pequeno tempo em silêncio.

"Ok! Posso perguntar?" ela balança a cabeça em confirmação. "Em que tipos de problemas você poderia se meter fora da escola?" mais uma vez aquela palidez retorna ao seu rosto, e ela endireita as costas de uma forma que transparece sua tensão e agonia.

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𝐀𝐧𝐲 𝐏𝐨𝐯
Fiquei meu espantada com a pergunta que o Josh me fez, vou ter que arranjar um jeito de responder sem entregar o que meu pai faz, eu odeio meu pai, mas não sou nada sem ele, não teria o de morar, nem o que comer, nem mesmo o que vestir. Mesmo com tudo que ele faz ele é tudo o que me resta, e por falta de opções eu tenho que aceitar tudo calada e sozinha.

"A minha vida ficou difícil depois que minha mãe morreu, o meu pai mudou, e ele me cobra muitas coisas, por isso que vou ter problemas por ter ficado de detenção." medi as palavras, não é mentira, mas também não é toda a verdade. Ele ficou um pouco desconfiado, mas acho que a história convenceu o suficiente para que não questione.

"Sinto muito eu não sabia." ficamos um tempo em silêncio, até que ele finalmente fala alguma coisa. "Bom, acho que eu tenho que responder a sua pergunta agora. Eu não uso drogas e nem quero, eu só entrego, eu não sou traficante mas trabalho pra um, eu tenho um bom motivo pra isso, minha mãe trabalha numa lanchonete e a gente quase não tem dinheiro, então eu faço isso pra me 'sustentar'" fico surpresa pela sinceridade, tanto que até me sinto culpada por ter escondido parte da minha, mas eu não posso contar.

"Você tá bem? Achei que fosse ficar assustada ou meio estranha à verdade. A maioria das meninas ia querer sair correndo." rio com escárnio e olho para ele.

"Eu não sou como a maioria das meninas. Não tenho medo de coisas desse tipo."

"Ok então! Parece que você é mesmo diferente." ele serra os olhos e me encara com um sorrisinho, antes que eu pudesse falar mais o sinal toca indicando que a detenção chegou ao fim, ou seja hora de ir pra casa.

[...]

Chego em casa e tudo acontece como sempre, da forma como já esperava e para qual já estava me preparando.

"Onde você estava?" não conseguia vê-lo, a sala está escura demais, mesmo assim dá pra perceber que a voz vinha do canto da sala, do sofá onde ele sempre sentava e me esperava chegar, aquela cena sempre estava em meus piores pesadelos, e muitas vezes me faz ficar acordada durante a madrugada, o medo me acompanha desde que minha mãe morreu.

"Fiquei de detenção." falei baixo me preparando para qualquer explosão dele.

"Porque?" a voz estava no mesmo tom de sempre, o tom que antecede um tapa ou coisas piores, meus olhos estavam queimando, mas segurei as lágrimas, porque da última vez em que chorei na sua frente isso só me rendeu mais roxos distribuídos pelo meu corpo.

"Sai de sala sem permissão."

"Qual o motivo?" falou se aproximando de mim.

"E-eu tava passando mal!" mal acabei a frase e ele me deu um tapa.

"VOCÊ ACHA CERTO SAIR DE SALA POR ESTAR PASSANDO MAL!" gritou e pegou pelo meu cabelo começando a me arrastar até uma estante onde tinha uma foto da minha mãe.

"VOCÊ ACHA QUE ELA IRIA SE ORGULHAR DISSO. VOCÊ É UMA VERGONHA PRO MUNDO. SAI DA MINHA FRENTE AGORA SE NÃO EU SOU CAPAZ DE TE MATAR."

Eu sai correndo em direção ao meu quarto, só me permitindo desabar e chorar quando fechei a porta. Eu queria poder não precisar do meu pai e...

Talvez tenha um jeito.

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𝙳𝚎𝚒𝚡𝚎𝚖 𝚜𝚞𝚊 𝚎𝚜𝚝𝚛𝚎𝚕𝚒𝚗𝚑𝚊🤸‍♀️
𝚅𝚘𝚝𝚎𝚖 𝚎 𝚌𝚘𝚖𝚎𝚗𝚝𝚎𝚖 𝚋𝚊𝚜𝚝𝚊𝚗𝚝𝚎!!
𝙿𝚛𝚘𝚡𝚒𝚖𝚘 𝚌𝚊𝚙 𝚗𝚘 𝚙𝚛𝚎𝚜𝚎𝚗𝚝𝚎!!

Bad IntentionsOnde histórias criam vida. Descubra agora