1. Roda da Fortuna

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Baekhyun

Ahhhh! Finalmente chegou o dia!
Ainda que o despertador tocasse de maneira alta e estridente, acordei com uma súbita e extrema felicidade. Enquanto me espreguicei, senti a luz do sol bater no meu rosto. Sorri.
Estava radiante. Eu contei os dias incansavelmente para o acontecimento de hoje. Não havia nada mais interessante do que ir visitar um dos templos tradicionais. Só de pensar nisso, já fico com borboletas no meu estômago.
Eu sei, eu sei. Você deve estar pensando no que de tão legal tem isso e o motivo de a viagem da minha escola não ter sido para um lugar mais interessante como são os passeios das outras escolas como a Chonsan que foi para Tóquio. Bem... Confesso que tive um pouco de participação nisso.
Viajar de avião me dá dor de barriga. Além do que, não tem nada mais interessante do que um passeio educativo. Eu particularmente adoro. A minha turma deveria me agradecer por ter influenciado a professora na hora da escolha dela. Mas sei que ninguém se importa. Eles só querem encontrar algum lugar escondido na viagem para ficarem se beijando. E isso não é nem um pouco interessante.
Levantei-me, arrumei a minha cama e, logo em seguida, fui tomar o meu banho. Digamos que sou uma pessoa metódica. Gosto das coisas do meu jeito e de uma rotina. É claro que o meu jeito não agradou aos alunos da minha turma além de outros fatores como ser tachado de nerd e esquisito. Isso fez com que eu fosse arremessado com todas as forças para o último lugar da cadeia alimentar da minha escola.
Bom, não fiquei solitário por muito tempo. Uns dias depois, descobri a existência de Do Kyungsoo, um aluno tão nerd e esquisito quanto eu. Ele se tornou o meu melhor amigo. Na verdade, esse último fato foi quase uma consequência esperada, porque era praticamente impossível não gostar daqueles olhinhos grandes como os de uma coruja. Kyungsoo era fofo, mas conseguia ser bem sombrio quando queria. Principalmente se estivesse sem óculos. Apertava tanto os olhos que era possível ver as marcas de expressão na testa dele.
Lembro-me de que quase morri no dia em que o aconselhei a ter uma rotina de limpeza de pele para eliminar as marcas de expressão. Ele quase jogou o livro de Química na minha cabeça. E esse é um dos maiores e mais pesados que nós usávamos. Eu poderia ter tido um traumatismo craniano. Sinto minha cabeça doer só de pensar no que poderia ter acontecido.
—Meu filho, você já arrumou as suas coisas? – Minha mãe andava de um lado para o outro disputando a própria atenção com várias coisas para fazer ao mesmo tempo. 
– Mãe, você me conhece. – Ri.
– É verdade.
Mamãe era uma mulher de negócios. Ela gostava desse título. Diretora em uma empresa de eletrônicos, não parava em casa desde sempre. Sendo assim, tive de aprender a cuidar de mim mesmo ao passo que cresci orgulhoso dela. Um dia, quero ser bem sucedido assim como minha mãe é.
– Baekhyun, tome cuidado nesta viagem, okay? – O olhar preocupado estava ali no mesmo instante em que colocava os sapatos.
– Mãe, o que demais pode acontecer em um templo budista?
– Não sei. Muitas coisas. Você é adolescente.
– Quase adulto. Tenho dezessete anos e dois meses. Além do mais, não sou como as outras pessoas da minha sala. Sei me cuidar.
Vi um sorriso irônico aparecer nos lábios de mamãe.
– Está bem, senhor quase adulto. Só me prometa que voltará inteiro para casa.
– Que a força esteja com você também, mãe. – Comi o pedaço de uma maçã que peguei na geladeira durante esse meio tempo.
– Engraçadinho.
Apenas soltei uma gargalhada em resposta. Estava animado demais.
Nem tinha começado, mas já estava sendo um bom dia.

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– Baekhyun, podemos tirar a nossa sorte lá. O que acha? – Kyungsoo mordiscou o lábio e baixou o olhar. Estava envergonhado.
– Por quê? – A minha curiosidade acendeu como um alarme.
– Ah, sabe... – Ficou corado como um pimentão. Baixou o olhar. Estava sem graça.
Alguma coisa está acontecendo. Será que... Não pode ser o que estou pensando.
– Eu não sei. Do que podemos ficar sabendo?
Como se fosse possível, o meu melhor amigo ficou ainda mais vermelho. Se tivesse algum buraco para se enfiar na sala, Kyungsoo o faria e moraria lá por toda a vida. Apertei ainda mais o meu olhar. O meu sexto sentido nunca falha. Provavelmente era de...
– Ah... Se vamos nos dar bem em alguma prova, mesmo sabendo que isso é certo ou então... então... então que vai aparecer alguém. – Olhou para o fundo da sala.
É claro que meu olhar acompanhou o dele, quando vi a pessoa a qual se referia. Não hesitei em esboçar um sorriso um tanto quanto irônico ou desiludido? Melhor desiludido.
“Na mosca!”
O alvo do meu amigo era ninguém mais, ninguém menos do que Kim Jong In. Um dos populares do colégio. Ele sorria de forma animada enquanto brincava com a bola de basquete e fazia todas as meninas suspirar.
– Kyung, sabe que ele é muita areia para o seu caminhãozinho, não é? – Coloquei a mão sobre o ombro dele em um ato de consolo.
Era necessário fazer isso. Veja bem, somos os ignorados e Jong In é o peixe grande. O bonitão. Ele nunca olharia para o meu amigo. Sei que isso é um pouco difícil de admitir, mas, comparado ao Soo, sou bem realista.
– Não me importo de fazer duas viagens. – murmurou fazendo um biquinho.
Suspirei. O que eu tinha de desiludido, ele tinha de iludido. Kyungsoo precisava entender que Kim Jong In nunca passaria de um amor platônico de ensino médio. Talvez ele encontrasse alguém melhor e, além do mais, vai que a beleza toda dele acabe um dia e ele fique como aqueles homens de trinta anos calvo e barrigudos? Eram possibilidades.
– Soo. Nós somos os esquisitões.
– Você bem que poderia me dar um apoio moral, não?
– Não tenho culpa se estou dizendo apenas a verdade.
– A questão é que Jong In já é o meu namorado. Ele só não sabe ainda... – Corou mais uma vez e baixou o olhar.
– Você precisa de uns tapas para acordar para a vida, Kyungsoo. – Gargalhei.
Era cada coisa que ele dizia...
– Vai me dizer que não se interessa em saber se vai aparecer alguém interessante na sua vida?
– Eu não quero ninguém. Quero continuar sendo o melhor da turma e ganhar dinheiro futuramente.
– Não me diga que será o velho dos gatos.
A desolação no rosto dele era tão grande que não evitei a gargalhada. Sério que ele pensava isso? Eu, Byun Baekhyun, cheio de gatos? Primeiro que eu tenho alergia e, segundo, não tenho disposição para criar um animal. Prefiro os meus livros.
– Ora, ora, se o Pinky e o Cérebro não estão planejando mais uma forma de dominação mundial.
Essa voz...
Fechei a minha mão em punho ao passo que me deixei ser consumido pela raiva súbita. Aquela voz grave e debochada que me dava nos nervos. Só poderia ser...
– Ai, meninas, o Chanyeol chegou!
As garotas se debandaram como cachorrinhos adestrados para o lado dele.
O Park estava parado na porta com um sorriso debochado para mim. Os cabelos negros estavam despenteados em uma franja que caíam sobre os olhos grandes e altivos. Os braços estavam cruzados próximo ao corpo. Os bíceps definidos marcavam a manga da blusa do uniforme.
Park, estúpido, Chanyeol.
Era o líder do grupo dos populares. O tipo de garoto que as meninas suspiravam, compravam chocolates e levavam um pé na bunda com gosto. Todos o amavam, menos eu.
Eu o odiava e o sentimento era recíproco.
– Chanyeol... – Já me levantava para rebater.
O Park era a única pessoa que me fazia querer acabar com a minha conduta perfeita na escola. Ele despertava em mim o meu lado mais oculto. Ele era o Luke Skywalker do meu Darth Vader. Não, a analogia não ficou boa, porque eram pai e filho e, se Chanyeol fosse o meu filho, jogava-o na privada e dava descarga. Ele é a Megan do meu Drake e Josh. A Regina George... Okay, okay. Já entendemos.
– Não vale a pena se estressar. – Kyungsoo segurou o meu braço e sussurrou em meu ouvido.
– O que é, tampinha? – Provocou outra vez.
– Kyungsoo, oito horas da manhã é um péssimo horário para cometer um homicídio? – As palavras saíram por entre os meus dentes.
– Olha, levando em consideração a quantidade de pessoas que estão presentes, acho que jogar o livro de Química e Física juntos não seria uma má ideia...
Gargalhei só de pensar no estrago que iria fazer.
– Isso, meu caro pupilo maligno. É por isso que gosto de você.
Antes que mais alguma farpa pudesse ser trocada, a professora entrou na sala e tão logo despachou o Park para o devido lugar. Como eu amava aquela mulher. Por não ser apenas a melhor professora da minha matéria favorita como também colocar o embuste na linha.
— Bom dia, turma, antes de irmos pegar o ônibus no pátio, quero deixar alguns avisos. O destino do nosso passeio será o templo Bongungsa em Gangnam.
Vi o sorriso na face de todos desaparecer e só restar ali uma pequena frustração. Fui um dos únicos que mantive a minha alegria nas nuvens. Eles é que tinham um péssimo gosto.
— Por que esses rostos tão decepcionados? Foi ideia do colega de vocês, Baekhyun. – A professora sorriu.
E eu... Bem... Fui atingido por olhares irritados como um soldado é alvejado na batalha.
— Tinha que ser o nerd. – Chanyeol voltou a falar. – Você está sempre acabando com a minha diversão.
— Se esse é o resultado, farei mais vezes. – Esbocei um sorriso obscuro.
— Bom, pelo menos dá para comprar maquiagens nas lojas de lá. – Min Hee tinha uma expressão agridoce na face.
— Por que não gostam de um templo budista? Dá para aprender tantas coisas lá. Além do mais, o lugar é lindo. – Saí em defesa. Ninguém fala mal de um passeio histórico. Não perto de mim.
— O seu discurso foi tão emocionante que senti vontade de vomitar. – Chanyeol fingiu forçar um vômito.
— Você não tem nada melhor para fazer não?
Não o suportava. Eu estava tão empolgado... Por que ele tinha de vir para a escola justamente hoje?
— Claro que tenho. Eu transo, mas você fica me atrapalhando.
— Chega!
A professora estava com as bochechas vermelhas em constrangimento pela fala do babaca Park. Daqueles olhos saíam fumaça.
— O próximo aviso que eu iria dizer era que todos serão divididos em duplas e, você, Chanyeol, já que está tão animado assim para o passeio, fará dupla com o Baekhyun.
— O QUÊ?! – Berrei e levantei em um salto. – Professora, isso não é justo...
— A vida não é justa, Baekhyun. – Ela rebateu.
Quando voltei o meu olhar para a figura do Park, ele estava sorrindo de maneira debochada e ainda mandou um beijinho para mim. Foi o ápice.
De hoje alguém não passaria.

Chanyeol

Um templo budista...
Puft.
A pior ideia que alguém poderia ter inventado e tinha que ter vindo daquele nanico, apoio de porta.
Para falar a verdade, nem iria para a escola hoje. A minha real intenção era faltar e aproveitar o dia como eu bem entendesse. Talvez saísse com Min Hee. Afinal de contas, ela estava me dando mole há mais de uma semana. Não seria certo desperdiçar essa chance.
Templo budista...
Ahhhh, qual é?!
Eu tentava pensar em outra coisa, mas o cheiro de maresia e de mato me faziam ficar cada vez mais irritado. Pensava em vingança. Não deixaria tão barato assim. Quem Baekhyun pensa que é para dar pitaco na decisão dos professores? Só porque ele é o queridinho das melhores notas?
Argh!  Aquela tampa de garrafa me incomoda desde a quinta série. Não é possível que o meu destino seja estar ao lado daquele gnomo de jardim. Mereço coisa melhor do que isso.
A escolha de dupla que a professora fez para a viagem ainda queimava na minha garganta. Era óbvio que eu não acompanharia aquele nerdzinho. Ainda mais com aquele outro todo esquisito. Às vezes, pensava que o baixinho de óculos, quando me encarava, pensava em mil e uma maneiras de jogar alguma praga em mim com aquele olhar em fendas.
— Ei, Chanyeol. – Jong In jogou uma bolinha de papel no meu rosto para me chamar.
— O que foi?
Meu mau humor já tinha excedido todos os limites naquele dia e eram apenas duas da tarde.
O Kim sorriu como um urso de pelúcia.
— Já que estamos aqui, o que acha de irmos ver a nossa sorte?
A família do meu amigo era extremamente budista. Por pouco Jong In não se tornou um monge. Era por isso que, lugares como esse, despertavam o lado que ele nunca foi. Além do fato de que a mãe dele o fazia andar com amuletos para cima e para baixo. Dizia que era para protegê-lo.
Protegê-lo uma ova. Eram só pedaços de papéis inúteis.
— E qual utilidade tem isso? – Enfiei a mão nos bolsos da calça em um ato de protesto.
Coçou a cabeça para, logo em seguida, colocar um chiclete na boca. Estava tão relaxado.
— É bom saber se você vai ficar de recuperação em Matemática ou não.
Era óbvio que eu ficaria. Por que eu precisava encontrar a porcaria de um x? E se ele não quisesse ser encontrado? Sabe, é preciso respeitar a escolha dos outros. Talvez o y fosse um pé no saco. Por isso o x foi embora.
— Não preciso tirar a sorte para saber disso.
— Você é muito cético. Deveria ser um pouco mais crente nas coisas, Chanyeol.
— Só acredito no que meus olhos conseguem ver.
Soltou um suspiro pesado. Estranhamente, naqueles breves segundos que se seguiram, a atmosfera entre mim e Jong In se tornou pesada. Até a forma como mascava o chiclete estava estranha. Foi uma das primeiras vezes, senão a única, que o vi desse jeito. Estava me assustando. Mas logo voltou a soltar uma gargalhada e a olhar para mim como o bom e velho Kim Jong In de sempre.
— Ainda acho que deveria ir ver.
— Estamos em alguma roda da fortuna por acaso?
— Argh. Você é tão cabeça dura. – reclamou.
— Chanyeol! Chanyeol!
Logo reconheci a voz anasalada e estridente de Min Hee. Às vezes, era um tanto quanto irritante, porém o que não aguentamos para dar uns beijos?
— O que foi?
Não nego que fiquei curioso com toda aquela agitação.
— So Ra disse que aqui eles tiram a sorte das pessoas. Vamos tirar a nossa. Hein?
Não pode ser... Alguém deveria estar de brincadeira comigo. Pensei. Jong In já me olhou logo com o canto dos olhos.
— Por quê? – sussurrei.
Ela fazia uma expressão pidona. Como se o mundo fosse acabar caso não fizesse aquilo.
— Vamos, Yeolzinho. Por favor. Quem sabe não podemos fazer algo depois? – Sorriu de maneira maliciosa.
— Er... Claro. Vamos sim.
Jong In me olhou estupefato e com raiva. Porque, há dois minutos, neguei com veemência o mesmo pedido dele. O que eu poderia fazer? É claro que não vou negar. Tudo para dar uns beijos.
— Eu já disse que você é o melhor? – Deu um beijo na minha bochecha.
— Vê se pode... – Jong In reclamou mais uma vez.
Senti que estava no meio do fogo cruzado, então tudo o que fiz foi soltar uma risadinha desconfortável.
A que ponto chegamos, Park Chanyeol? Pensei.

Baekhyun

AHHHHHHH! Nem posso acreditar que Park Chanyeol me deixou em paz o passeio inteiro. Seria isso um sonho? Se for, nem quero acordar. Pensei que o meu dia tinha sido arruinado até o momento em que não vi sequer a sombra daquela ameba.
Consegui fazer tudo o que queria. Aprendi sobre a história do local, tirei fotos, ri e me diverti. Claro, Kyungsoo me arrastou para tirar a sorte com ele. Não queria, só que ele me acompanhou em todos os momentos. Não seria muito justo não acompanhá-lo também.
A brisa gelada do entardecer passou por mim quando parei debaixo de um teto de lanternas de papel colorido. Meus cabelos ficaram um pouco bagunçados, porém foi refrescante. Na minha mão direita, ainda segurava o envelope lacrado com a minha sorte dentro. Só estava esperando o momento oportuno para jogar aquilo fora. Não queria magoar os sentimentos do meu amigo.
Suspirei. Olhei para o céu. Estava tão bonito. Nunca soube explicar, porém, toda vez que eu visitava algum lugar histórico, o céu sempre me parecia diferente, mais bonito. Como se fosse outra realidade.
— Tá de sacanagem que nos encontramos outra vez hoje.
No exato instante em que ouvi a voz do Park, toda a magia acabou para mim. E o mau humor, que tinha desaparecido, voltou com todas as forças. Olhei para ele. Os cabelos castanhos estavam desalinhados, ao passo que segurava um envelope igual ao meu na mão esquerda. Sorri em deboche.
— Está tão preocupado assim com o futuro para tirar a sorte, Park Chanyeol?
— Olha só quem fala. Está com um envelope igualzinho. Está com medo de tirar nota baixa, nerd? – O olhar era afiado.
Gargalhei. Isso só poderia ser palhaçada.
— Eu? Tirando nota baixa? Só nos seus piores sonhos.
— A sua vontade de querer estudar me deixa com náuseas. – Fez um gesto como se fosse vomitar.
— Ei, a propósito, por que está aqui? Não tem outro lugar para ficar não?
Sabe, o meu passeio estava bom demais para ser arruinado daquela maneira. Não nos momentos finais. Tinha que fechar com chave de ouro e não com um idiota ao meu lado.
— Olha, aqui é um lugar público. Então, posso estar onde eu quiser quando eu bem entender. Marquei de me encontrar com alguém aqui... – Tão logo as bochechas dele ficaram coradas. Parece que se arrependeu de ter dito a última parte.
Eu, obviamente, não deixaria tal fala passar em branco.
— Levou um bolo, Park Chanyeol?
O sorriso nos meus lábios não era nada gentil. Quase consegui sentir escorrer o veneno das minhas palavras.
— Isso não é da sua conta.
Peguei no ponto fraco. O brilho no olhar dele vacilou. Por breves momentos, a figura do popular e pegador desapareceu. Deu lugar para a imagem de um adolescente frustrado. Estaria eu recebendo o prato quente da minha vingança? Não sei responder.
— Uau, o Chanyeol pegador é uma farsa. A verdade é que ninguém quer sair com um idiota feito você.
Nunca tinha visto um rosto tão vermelho de ódio como aquele.
— Ei, quem você pensa que é para falar alguma coisa, dente de ferro? Você é patético.
— E você é insuportável.
— Tem inveja de mim, isso sim! – esbravejou.
Inveja? Eu? Acho que alguém estava viajando demais na maionese.
Gargalhei.
— Inveja? De você? Só pode ser brincadeira. Ainda mais depois de tudo o que aconteceu. Eu te odeio, Park Chanyeol!
— Eu também te odeio, Byun Baekhyun! – Ficou ainda mais possesso. – A sua vida é medíocre. Eu não queria ser você!
— Pois saiba que eu também não queria ser você! Vida medíocre é a minha bunda!
Logo assim que terminei de falar, uma forte ventania passou por ali. As lamparinas ficaram extremamente agitadas. E o céu, outrora tão bonito, pareceu ter se fechado completamente.
Não falamos mais nada. Apenas trocamos olhares de raiva no meio do olho de um furacão. Naquele momento, só queria que um raio caísse na cabeça de Chanyeol.
Como seria possível uma pessoa despertar tanta raiva em mim?

Chanyeol

Triiiiiiiiiimmmmmmmm!!!!
O som alto do despertador, além de quase ter furado os meus tímpanos, me fez pegá-lo e jogá-lo contra a parede. A força que usei foi tão grande que logo voltei a ouvir apenas o som do silêncio.
Quem colocou um despertador para tocar?!
Todos sabiam muito bem que eu odiava despertador. Chegava atrasado à escola, mas não usaria um de jeito nenhum. A coisa mais preciosa, para mim, era o meu sono. Se perdesse um minuto dele, o meu dia estaria acabado.
Com a vinda da calmaria mais uma vez. Voltei a dormir. Acordei somente com alguém chacoalhando os meus ombros. Não queria levantar.
— Baekhyun, querido. Já está na hora de ir para a escola.
Baekhyun? Por que a minha mãe estava chamando aquele palerma? Eu só poderia estar tendo algum tipo de pesadelo.
— Baekhyun, meu filho, levanta. Você irá se atrasar.
Espera. Parei para ouvir com atenção. Aquela não era a voz da minha mãe. Quem... Levantei em um salto. A mulher ao meu lado tomou um leve susto, no entanto logo começou a rir.
— Eu até estranhei a sua demora. Você é sempre tão pontual.
O meu coração, em um repente, ficou acelerado. Aquele quarto não era nada parecido com o meu. Toda aquela organização estava me assustando, assim como a mulher me chamando de Baekhyun me deixava nervoso ao ponto de quase fazer xixi nas calças.
Sem nem pensar duas vezes, entrei no banheiro. Quando me aproximei do espelho e ergui os olhos para ver o reflexo exposto ali, senti o mundo desabar na minha cabeça enquanto o aparelho dentário reluzia como se quisesse dizer oi.
— QUE MERDA É ESSA?
A imagem não era real. Não era. Quis me agarrar firmemente na ideia de que estava tendo um pesadelo.

Baekhyun

Acordei logo assim que senti a luz do sol tocar o meu rosto. Senti meu corpo pesado. Pela primeira vez, em muito tempo, dormi como uma pedra. Nunca tinha reparado quão macio o meu colchão era.
Seguindo a minha rotina, espreguicei-me de maneira demorada. Levantei da cama e, a passos largos fui em direção ao banheiro. Cocei a cabeça.
Nossa! Eu estava realmente dopado pelo sono. Nem sequer consegui pensar em qual dia deveria ser. No meio do caminho, sinto a minha testa bater na parede e não me lembro em qual momento as coisas passaram a ser mais baixas do que eu, porque sempre fui baixo.
Entrei no banheiro, cocei os olhos, fiz xixi e fui para a pia. Uma água gelada no rosto faria bem.
Aos poucos, flashes do dia anterior surgiram nos meus pensamentos e sorri com a lembrança das fotos que tirei com Kyungsoo. Elas realmente ficaram muito boas.
Com o rosto limpo, senti que aquele era o momento para abrir meus olhos. Quando o fiz, a primeira coisa com que me deparei foi com cabelos tão pretos como o céu noturno. Franzi as sobrancelhas. Não tenho cabelo escuro. Pensei comigo mesmo.
Foi então que, dos cabelos, resolvi olhar todo o rosto. No momento em que me deparei com aqueles olhos tão conhecidos e odiados por mim como também as orelhas grandes que sempre ridicularizei apenas em pensamento, senti tudo a minha volta girar. Meu coração começou a bater de maneira acelerada. Meus olhos ou, melhor dizendo, aqueles olhos ficaram arregalados. Da minha boca, saiu apenas o seguinte som.
— AAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!
Não. Eu era Byun Baekhyun. Como então que o reflexo a minha frente era de Park Chanyeol?
Às 06:00 da manhã de uma quinta-feira qualquer, entrei em desespero.
Só poderia estar dentro do pior pesadelo da minha vida.

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